domingo, 26 de julho de 2020

Escolhas e consequências

A vida é feita de escolhas. Pode parecer clichê, mas dia após dias somos instados a ter que escolher atitudes, coisas, pessoas...

A vida também é feita de lidar com as consequências dessas escolhas, outra realidade inegável. Não dá para transferir responsabilidades: quem decide precisa entender as consequências daí advindas.

Digo isto porque a pandemia de Covid-19 parece ter dividido os seres humanos em dois grupos: os que entendem e os que não entendem o balanço escolhas-consequências. Isso é assim no mundo inteiro. Vemos pessoas preocupadas em seguir as recomendações das autoridades sanitárias e vemos outras com comportamento absolutamente desleixado, irresponsável mesmo.

As imagens de Ponta Negra na semana passada e Pipa nesta semana despertam um misto de horror e raiva na parte majoritária da população - a que segue as recomendações para que esta pandemia passe mais rápido. Em mim despertam pena. Porque essas pessoas que aglomeram ou têm consciência absoluta do que estão fazendo, e aí seriam algo muito próximo de suicidas, ou não têm consciência do que estão fazendo, mas as consequências serão as mesmas.

Tenho pena também dos que trabalham nestes locais, obrigados que são a estarem no meio da aglomeração. E aí nem se pode falar muito em escolha...

Temo mais ainda pela saúde mental dos que sentem muita raiva disso tudo. Gostaria muito que percebessem que não podemos interferir nas escolhas dos outros. Podemos tentar conscientizar, alertar, mas enfim a iluminação é própria. Se a pessoa não foi obrigada a aglomerar, não há porque destempero. A vida é feita de escolhas e de consequências dessas escolhas. Precisamos dar aos outros a plenitude de lidar com suas decisões. Concentremo-nos mais no que nós estamos fazendo e deixemos que os outros atinjam por si mesmos esse estágio de consciência, sem alimentar revanchismos. Afinal, a mágoa e o rancor fazem muito mal a quem os sente e prejudicam até a imunidade.

Fulano não usa máscara? Que pena, mas eu não abro mão da minha quando boto o pé fora de casa. Fulana vive na academia? Eu prefiro fazer minhas caminhadas em casa mesmo, mas essa é a minha realidade. Sei lá a motivação de quem está lá na academia... O vizinho faz festa? Prefiro ver minha família de dentro do carro mesmo porque acredito que verei todos bem mais à frente.

Não posso sofrer por quem conscientemente resolveu tomar o caminho da negação. Sofro pela incerteza, mas me apego na realidade do dia de hoje, quando sei que estamos bem na medida do possível, que superamos mais um dia sem a contaminação temida, que temos casa e comida para seguirmos. 

Obviamente gostaria que essa minha visão de mundo fosse compartilhada por todos. Não é. Nada tenho a fazer a mais do que tenho feito. Apenas torço para que aqueles que seguem as recomendações sofram menos ante a realidade irresponsável da minoria (pesquisas afirmam). Cada qual lide com suas escolhas e consequências. 

Cobremos mais responsabilidade das autoridades, em boa parte também mais dedicadas à irresponsabilidade de remédios estilo garrafadas vendidas porta a porta no passado e que só faltavam levantar defunto do que à tomada das difíceis decisões que podem nos salvar em maior número. Mas aqui também lidamos com as consequências de nossas escolhas, especificamente nas eleições. 

Enfim, o que quero dizer é que sofrimento deve existir pelo que vale a pena. Sofrer pelos outros é uma carga elevada demais para nós, especialmente no meio de tantas incertezas do ambiente novo atual. Fiquemos nos clichês da vida. 

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