sábado, 18 de julho de 2020

Mais de 4 meses

Nunca duvide da capacidade de adaptação do ser humano.  Nunca! Se lá em março nos dissessem que a vida mudaria e ficaríamos mais de 4 meses quase 100% do tempo confinados em casa, ninguém acharia possível. Ficamos. Já são mais de 4 meses desde que o RN apresentou a primeira recomendação de recolhimento domiciliar, fechando escolas e boa parte do comércio e do serviço público.

Como a vida mudou! Deixamos de abraçar e beijar todo mundo. Deixamos de visitar, de passear, de comer fora, de trabalhar em muitos casos... E fomos descobrindo o que de fato é essencial em nossas vidas.

De repente, descobrimos os afazeres domésticos de uma outra forma. A programação da TV. O uso das redes sociais. A necessidade de cuidar da mente, não apenas do corpo. Ler passou a exigir um esforço maior de concentração pela ansiedade das notícias. Aliás, cumprir obrigações em geral passou a demandar mais tempo de concentração. 

Mas a adaptação do ser humano é incrível! De repente, a máscara já não incomoda tanto assim. A concentração volta a acontecer naturalmente. As saídas necessárias já não causam tanto estresse como antes. Descobrimos que dá para viver e sobreviver a uma conversa, por exemplo, mantendo uma distância de 2 metros e usando máscara. A higiene também nos salva.

Neste período tive contato certo com pessoas  diagnosticadas com Covid-19 em pelo menos 2 ou 3 ocasiões. Quando não havia ainda as máscaras, foi o distanciamento e até o acaso que me salvou. Nas outras, veio a segurança dos procedimentos indicados pela OMS como única vacina disponível. Também nessas ocasiões um fator importante, quase aleatório na maioria das vezes, cumpriu seu papel como hoje observo: encontros ao ar livre. 

Já até me arrisquei a cantar parabéns na calçada/janela de familiares. Em outra oportunidade, uma "lavagem" de álcool gel pré e outra pós permitiram um aperto de mão em parentes isolados. É que a pele humana transmite uma sensação disparada por hormônios que acalma, acalenta. Daí o instinto que temos de segurar um bebê que chora no colo para que o conforto extermine o estresse. 

Caminho arrodeando a casa na hora do sol mais forte da manhã, numa tentativa de melhorar a saúde e manter bons níveis de vitamina D. Nem sempre as chuvas de inverno deixam. Confesso que a praticidade de caminhar do jeito que estou em casa, sem qualquer emperiquitamento, trouxe um comodismo que me fez até aumentar a frequência dessas caminhadas, agora religiosamente diárias, sem livrar nem o sábado, nem o domingo.

Outro comodismo - discutível, é verdade - é o (não) uso de sutiã. Neste caso, acho que homens nunca entenderão o que ocorreu com as mulheres em 2020. 

Passei também pela dor de perder Ursula, que foi a primeira a me fazer enfrentar a angústia do contato mais próximo com estranhos em ambientes fechados devido à sua internação. Foi há mais de um mês, mas na contagem atual, parece até mais tempo. Afinal, tudo é muito intenso no confinamento. A dor da perda, então...

Assusta um pouco pensar que isso tudo vai continuar assim até o próximo ano, pelo menos. Mas olhar para trás e saber que já se passaram 4 meses é algo que fortalece a certeza de que vamos superar sim isso tudo e que certamente encontraremos formas de driblar esse confinamento sem comprometermos a saúde e a própria vida. Já vi até o desenvolvimento de técnicas para que possamos voltar a nos abraçar e, vejam só, beijar (não bocas nem rostos, mas nucas) com risco mínimo, o que só corrobora a nossa incrível capacidade de adaptação. Sigamos, então! 

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