quarta-feira, 11 de maio de 2016

Os advogados sem diploma

Advogar não é nada fácil. Não me refiro à montanha de dispositivos legais existentes no nosso país. Aí seria chover no molhado. Também não falo daqueles escaninhos da justiça que às vezes travam injustamente algum processo. Aí também seria tratar do óbvio ululante, como diria Nelson Rodrigues.

Falo mesmo é dos advogados sem diploma. Eles estão em todo lugar. A bem da verdade, os sem diploma existem em todas as profissões. Mas como são chatos na advocacia! Quem nunca ouviu de um vizinho ou de um colega de trabalho "vá atrás de seus direitos"? Parasse por aí, estaria ótimo. Mas essas criaturas perniciosas pensam que sabem exatamente o direito a ser defendido,  o procedimento a ser seguido, quando sai a decisão... Querem determinar até o quanto de trabalho o verdadeiro advogado terá!

E como é difícil manter a ética nessa hora! Sim, porque o verdadeiro advogado alerta o cliente de que as coisas não são assim tão simples, que não há dispositivo legal que garanta tal direito daquela forma, etc. Mas tal comportamento implica em muitas vezes frustar aquele que tem certeza da vitória, porque orientado naquele sentido por um advogado sem diploma. E essa frustração quase sempre termina com a decisão de buscar um outro profissional, especialmente um acostumado a dizer exatamente o que aquele coitado quer ouvir, mesmo que no fim reste a frustração de verificar o que fora alertado.

Querem um exemplo clássico? Alguém inventou que, num divórcio, o cônjuge que fica com os filhos tem direito de ficar com o imóvel onde o casal residia. Há tantas questões envolvidas num matrimônio, que é praticamente impossível dizer o que acontece com um imóvel sem maiores detalhes. Qual o regime do casamento? A quem o imóvel pertence? Era alugado? Foi doação ou herança? Foi adquirido antes ou depois do matrimônio? Foi adquirido em substituição a outro imóvel?

Mas o advogado sem diploma sabe tudo. E ainda avisa ao coitado do cliente que ele abra o olho porque um conhecido de um conhecido conseguiu exatamente o que queria num caso igualzinho a aquele. Ele sabe todos os detalhes. Interessante é que nunca sabe coisas de fato importantes para a causa.

E aí o cliente orientado pelo advogado sem diploma normalmente se mete no que chamamos no Direito de aventura jurídica. Mas ele só vai saber disso tarde demais.

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