A descrição que aqui reproduzo foi feita pelo jornalista Leandro Loyola, da Época, em reportagem sobre o transcorrer da sessão do Senado que afastou por até 180 dias Dilma Roussef da presidência do Brasil.
"O silêncio exigido por Renan só se fez muito mais tarde, às 22h58, quando o senador Fernando Collor subiu à tribuna. Por uma dessas oportunidades que só a política brasileira proporciona à história, Collor, removido da presidência por um impeachment, votou no impeachment de sua quarta sucessora. Collor não aparecera no Senado o dia todo. Empertigado como sempre, ele foi o único a começar com um formal 'Excelentíssimo senhor presidente do Senado, Renan Calheiros'. Foi o único orador realmente respeitado por seus pares e pela audiência. Fez-se silêncio no plenário para ouvir Collor. Apenas o deputado Pauderney Avelino, líder do DEM, permaneceu falando ao telefone ao lado do senador Ronaldo Caiado.
Collor foi ouvido com aquele tipo de respeito que só se concede no parlamento a pessoas em episódios dramáticos. Foi um respeito impessoal, pois Collor não é amigo dos outros senadores: ganhou essa deferência por falar ali como protagonista de um episódio triste. Citou Rui Barbosa, o mesmo trecho que foi citado em seu impeachment. Comparou os dois processos e passou a criticar Dilma, ao citar inclusive os avisos que disse ter dado à presidente sobre sua resistência a lidar com o Congresso e aos problemas na economia. 'A autossuficiência se sobrepujava à razão', disse. Ao descer da tribuna, apesar das fortes críticas a Dilma, Collor foi cumprimentado primeiro pelas senadoras Gleisi e Vanessa Grazziotin."
Mais um momento surreal da política brasileira que eu vivi para ver.
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