terça-feira, 31 de agosto de 2021

Encaixe intrigante


Definitivamente, a Netflix tem problema em fazer a sinopse de seus filmes e isso atinge em cheio negativamente a expectativa de quem se dispõe a assisti-los. Já ciente disso, eu evito ler essa sinopse e confio mais na classificação etária, sendo os de 18 anos normalmente prato cheio para quem quer alguma novidade (vejam que eu escrevi "normalmente". Nem sempre isso se verifica).

A minha última investida foi em Tudo Por Ela (Ride or Die em inglês, título também muito apropriado). O que me chamou a atenção foi o fato de ser um filme japonês (adoro ver filmes com olhares culturais os mais diversos). 

Sem querer, eu li a sinopse e quase, mas quase mesmo, desisti da experiência. Só que sou muito persistente com filmes que entram na minha lista e é preciso ser uma porcaria elevada à última potência para que eu de fato interrompa a exibição (já deixei uma sessão de cinema com apenas 20 minutos de filme porque não conseguia parar de rir do quão tosco ele era).

A sinopse de Tudo Por Ela chega perto desse nível tosco: "Rei ajuda a mulher dos seus sonhos a escapar do marido violento. Durante a fuga, os sentimentos das duas pegam fogo." Não, não, não. Se você assistir a esse filme esperando isso aí vai sofrer de uma decepção tremenda.

Deixe-me ajudar dando um pequeno spoiler. O filme começa com uma mulher, Rei, dando em cima de um cara num bar. As coisas evoluem e eles partem sem muito romantismo para uma relação sexual na casa dele, que é casado. Tudo é bem desconfortável, a começar do velho pudor em fazer nu masculino; o feminino é explorado à vontade. A cena prossegue e teremos alguns momentos muito mais desconfortáveis, com um objeto metálico sendo utilizado para atacar um pescoço, muito sangue espirrando, cortes para lá e para cá... O cara morre e o filme teria começado bem melhor se dispensasse todos esses desconfortos ou escolhesse pelo menos evitar a violência gráfica.

Pronto. O pior do filme passou. Se você conseguir superar isso e deixar a sinopse para lá, será premiado(a) com uma estória sobre relacionamentos tóxicos ao longo de uma vida e as marcas que eles deixam, o estranhamento de não se saber exatamente quem você é e o que você quer e até o entrave que é na vida você ter alguma questão amorosa mal resolvida.

Tudo com uma cronologia que segue entrecortada por vários momentos do passado (sem qualquer aviso), às vezes mais recente, outras vezes, não, como um intrigante quebra-cabeça em que a gente consegue ver bem aquela pequena figura que surgiu na parte debaixo, mas ainda não consegue ter ideia do que o todo apresenta. E foi exatamente aí que ele me conquistou. O filme então segue, sem pressa, e com tantos momentos clímax, que cheguei a jurar que ele havia chegado ao final umas 3 ou 4 vezes antes do verdadeiro fim. 

A jornada é bem intensa (de novo, não se decepcione, estou falando de drama, não de sexo nem de mortes) e me fez até dar boas risadas em alguns momentos. Tirando por uma ou outra cena claramente feita sob uma perspectiva masculina apesar de serem mulheres as retratadas, e alguns outros detalhes que carecem de verossimilhança, o filme chega redondinho ao seu final, e olha que são 2h20 de duração.

Fiquei encantada e muito agradecida por ter superado uma sinopse tosca e um cena de sexo/violência inicial ainda mais tosca. Não lembro de ter visto um longa japonês antes. Certamente repetirei a dose.

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