terça-feira, 14 de junho de 2016

Sobrevivendo ao horror

Os repórteres Jack Healy e Marc Santora trouxeram um relato do horror por que passaram as vítimas de Omar Mateen, o louco atirador da boate Pulse, no maior jornal do mundo, The New York Times.

Dois dos relatos são absolutamente angustiantes: a luta de dois rapazes, um chamado Orlando (sobrenome não publicado por medo de alguma represália terrorista), e o outro chamado Norman Casiano, para sobreviver em cabines de um dos banheiros. Segue um resumo do horror abaixo.

Assim que os tiros começaram, Casiano engatinhou em direção a uma cabine de um dos banheiros. Muitas pessoas já estavam lá. Em seguida, um homem ferido também entrou no banheiro. Os que já ocupavam o lugar lhe imploraram que não fizesse barulho. Num dado momento, era possível ouvir as cápsulas das balas caindo no chão e a arma recarregando. O atirador entrou no banheiro atirando sem parar. Casiano levou dois tiros nas costas. As balas transfixaram-no. O atirador não dizia nada, apenas ria. Sua risada era no estilo risada malévola dos vilões dos filmes. Ao mesmo tempo, suas vítimas imploravam por suas vidas, clamando que não o conheciam e nem tinham visto o seu rosto. Segundo. Casiano, essa risada do atirador ficará para sempre em sua cabeça.

Quando enfim o atirador deixou aquele banheiro, Casiano convenceu outros sobreviventes a fugirem dali e às 3 da manhã já estavam num hospital.

O drama de Orlando, por sua vez, levou mais tempo. Ele e uma amiga conseguiram se esconder numa cabine de outro banheiro. Ambos mantiveram os pés fora do alcance visual do atirador, em cima do vaso sanitário. Orlando ainda colocou um dos pés para segurar a porta da cabine. Foram 3 horas com a vida por um fio.

O atirador invadiu o banheiro e foi direto para a cabine ao lado e atirou nos que lá estavam. As pessoas imploravam por suas vidas, mas o atirador permaneceu em silêncio. Ele saiu e recomeçou a atirar. Orlando ouvia os tiros se aproximarem e se afastarem. Também ouviu quando o atirador, numa voz calma, mandou que os reféns parassem de enviar mensagens de texto, tomou seus telefones e ligou para o 911 para jurar lealdade ao ISIS, exigir que os EUA parassem de atacar a Síria e dizer que se a polícia tentasse invadir, o banho de sangue seria maior. Ele então se enfureceu e desligou. Omar Mateen ainda perguntou aos reféns se eles eram negros porque ele não tinha problema algum com negros.

Em outras ligações, Mateen afirmou que havia pessoas na boate vestidos com explosivos e 3 atiradores fora, prontos para matar qualquer policial que se aproximasse.

Orlando e sua amiga mantinham a posição enquanto ouviam o atirador bater nervosamente na arma, usar a pia e o secador de mãos. Omar Mateen começou a checar os corpos. Orlando então trocou de posição para se fingir de morto e sentiu algo lhe cutucar.

Perto do fim, o atirador começou a matar os reféns no banheiro. Uma pessoa que estava na cabine ao lado foi atingida, rastejou para a cabine de Orlando e sua amiga e agarrou-se as pernas de ambos, o que terminou por revelar seu esconderijo. Foi aí que eles trocaram de posição, empurrando a cabeça contra o vaso sanitário para fingir que estavam mortos.

No momento final da batalha com a polícia, o atirador ainda gritou que tinha muitas balas. Houve muitas explosões. A polícia abriu buracos na parede do banheiro para permitir a saída dos reféns, mas Orlando estava com os músculos dominados por cãibras, completamente enrijecidos e não conseguia se mexer. Um policial então agarrou seus ombros e o puxou para fora. Sua amiga também foi retirada de lá. Suas roupas estavam cobertas de sangue de outras pessoas.

Quem souber ler em inglês e quiser um retrato mais fiel do horror ocorrido dentro da Pulse em Orlando, Flórida, pode acessar a excelente reportagem Held hostage in an Orlando restroom, and playing dead to stay alive da edição de hoje do The New York Times.

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