Não se trata de uma lamúria vitimizante, apesar de reconhecer que esse bordão do título é o número um dentre aqueles atingidos pelo que o ex-presidente FHC classificou de fracassomania. Mas há coisas que acontecem comigo que me parecem tão inéditas... E sempre que conto a alguém a reação é invariavelmente de risada porque ninguém jamais pensara em coisa semelhante, como o número de vezes que tenho problemas com meus sapatos nos fóruns e tribunais do RN. Então, acho que posso utilizar o sim o título desta postagem.
Há dois domingos, resolvi sair para petiscar de frente ao feiíssimo mar de Natal. Postei até umas fotos no Twitter e no Facebook. Não me canso de exaltar a beleza deste paraíso onde tive a sorte de nascer. Pois bem. Pedi um filé com fritas. As batatinhas vieram bem crocantes. Muito bom o petisco. No entanto, num determinado momento, ao levar algumas batatinhas à boca, uma resolveu ficar em pé do lado direito da minha boca, entre os maxilares e a bochecha. Quanto sofrimento! Como a batata estava bem crocante, ela se recusava a dobrar ou partir. Ficou lá, em pé na minha boca, e eu no maior sofrimento tentando mastigá-la em vão, já que ela estava fora do alcance dos meus dentes. Uma luta inglória posso dizer, posto que estava eu lá com a boca aberta e com uma batatinha travando o fechamento. Para piorar, um casal resolveu deixar o local mesmo na hora em que eu estava lá tentando colocar a desgraça da batatinha ao alcance da mastigação. E vinham em minha direção! Só pude tentar disfarçar o meu desespero.
Depois da agonia, enfim a batatinha cedeu. Graças a Deus, pois eu já estava a ponto de retirá-la da boca na mão mesmo, estilo mulher das cavernas. Mas o resultado da tragédia eu só descobri depois: passei a ter uns estalos do lado direito ao mastigar. Sabe quando comemos amendoim ou castanha caramelizada? Assim era o barulho ouvido tanto por mim como por quem estava ao meu lado. Detalhe é que eu estava comendo um pão seda quando percebi a marmota.
Fui pesquisar na internet (sim, hoje em dia ninguém procura logo um médico sem antes ter uma ideia das mazelas que nos acometem) e descobri uma tal de disfunção na ATM, que é, em termos rudimentares, a junta que possibilita a movimentação do maxilar e fica bem próxima da orelha e da bochecha. Uma para cada lado. Costuma doer, mas no meu caso não. O barulho seria o disco que fica ali tentando voltar à posição original. Me assustei mesmo foi com a possibilidade de ter um travamento do maxilar e ficar de boca aberta até achar um pronto-socorro. Triste.
Também descobri que o tratamento não é nada fácil e que pouquíssimos dentistas são habilitados a cuidar disso. Na verdade, diagnosticar a causa não é fácil. Eu, por exemplo, tenho a tendência de apertar os dentes sob estresse. E tenho uma mordida bem forte. Isso pode ter facilitado um desgaste na área e aí a batatinha precipitou tudo...
Para minha sorte, os barulhos quase que sumiram completamente sem qualquer tratamento. Mas procurei um setor especializado nisso na faculdade de Odontologia da UFRN. Recebi umas recomendações para que o problema não se agrave (aparentemente está bem no início) e vou retornar em um mês para que seja analisada a evolução. Parece que tive sorte, se é que um episódio desse nível com uma batatinha pode ser chamado de sorte...
De todo jeito, fica o alerta a respeito. E quem tem bruxismo (aquele hábito de ranger os dentes à noite) deve procurar imediatamente um dentista para colocação de uma placa protetora. Além de acabar com os dentes, o desgaste é terrível para a ATM e pode levar a dores terríveis. Melhor prevenir.
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