Há muito eu digo que o ser humano parece ter perdido o valor como tal. Não enxergamos mais o outro como outro, e sim como escada ou obstáculo no caminho.
Esse processo de impeachment de Dilma é exemplo mais do que perfeito dessa realidade. Sem apoio popular e, consequentemente, sem apoio majoritário no Congresso Nacional, Dilma viu a Câmara dos Deputados autorizar o processo contra si nesse domingo.
Mas falemos do lado humano. Será que alguém neste país consegue defender a postura de Jair Bolsonaro que, ao votar, fez questão de prestar homenagem ao homem responsável pela tortura de vários presos políticos da época? Bolsonaro chegou mesmo a dizer que Ustra causava pesadelos a Dilma, como se isso fosse algo engrandecedor na biografia de alguém, especialmente se considerarmos como ele conseguiu causar tais pesadelos.
Dizem que Dilma vem abalada desde o início do processo. Isso é normal em seres humanos. Rivotril e Olanzapina estariam sendo administrados para controle de sua saúde mental. Imaginem com um golpe rasteiro desse de autoria de Bolsonaro...
Mais: no pronunciamento de hoje, a presidente mostrou sinais claríssimos de que está prestes a desabar psicologicamente, se é que já não desabou. Quase 24 horas depois da votação, o que já demonstra que ela não reunia condições para fazer um pronunciamento na hora do baque, Dilma embargou a voz várias vezes, fez pausas prolongadas nas respostas, encheu os olhos de lágrimas. Mas seu partido não se comoveu com o sofrimento a que este ser humano está submetido: insiste em usá-la como bucha de canhão para que ele, PT, se refaça do golpe e organize suas massas para cerrar fileiras novamente na oposição.
Dilma não aguenta mais. Seu destino como presidente já está selado - não há uma só criatura que não saiba disso. No entanto, a compaixão humana cede ao instinto de sobrevivência do PT. E assim a Dilma ser humano é só um detalhe. E seu sofrimento, visível até para os mais insensíveis, não pode ser resolvido como qualquer um resolveria ao se perceber indesejado num local onde já foi muito querido.
Que tristeza ver um ser humano utilizado como meio, quando deveria ser o fim!
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