sexta-feira, 8 de abril de 2016

A primeira ninguém esquece

Nesta semana, de tanto ouvir uma amiga falar nos benefícios vitais da acupuntura, resolvi experimentar, apesar de não gostar muito da ideia de ter agulhas espetadas em mim - normalmente tenho uma pequena reação alérgica na pele ao fazer exame de sangue, por exemplo. Mas iria passar por uma avaliação primeiro.

A minha lista de doenças era tão grande que esqueci de dizer que tenho asma! Mencionei quase tudo da cabeça ao pés, mas a danadinha ficou de fora. O terapeuta (Seria esse o nome adequado? Ou seria médico, já que se trata de medicina chinesa? Ou apenas acupunturista, dificílimo de pronunciar?) pareceu ouvir com atenção. Ao me dizer que tudo é emocional, ele terminou usando uma frase de efeito que quase me fez levantar e.ir embora: "nós somos aquilo que pensamos." Pronto. Lair Ribeiro. Se quiser meu respeito, não venha com Lair Ribeiro ou Augusto Cury para perto de mim. A menos que queira contar como alguém enriqueceu do zero contando histórias circulares, que não saem do canto. 

Mas eu queria ver até onde aquilo ia. Então resisti e fiquei paradinha lá na minha maca sem sapatos e sem relógio. Sem qualquer aviso, ele começou a colocar as agulhas. Começou pelos meus pés. Eu só pensava na minha amiga que indicara a acupuntura. Nesse momento alguns palavrões acompanharam o pensamento, já que eu não imaginava que seria espetada assim, sem nenhuma preparação. 4 nos pés, 4 nos braços e uma filha da mãe bem na cabeça. As outras nem incomodavam, mas a da cabeça parecia repuxar o topo do couro cabeludo. Ô coisa para latejar! Reclamei duas vezes e ele tentou piorar a dor para ver se eu aguentava ficar com ela. Respondi que, quanto a aguentar aquela dor por 20 minutos, aquilo não era nada perto das enxaquecas que costumo ter. Ele disse que ela era a correspondente ao meu ombro, daí a dor. Já ouvirá isso: cada um sente uma agulha diferente doer mais. Tudo depende de qual órgão é o incômodo da vez.

Eu tinha que ficar 20 minutos deitada na maca com as agulhas. Deveria relaxar. Eis um drama para quem é ansiosa: relaxar. Mas levei a sério. Fiquei olhando para o teto branco. Depois para as persianas. Uma coceirinha nas agulhas dos pés. "Vou pensar em outra coisa". Fiquei ouvindo alguns barulhos externos e projetando o que eles eram. A coceira deixara as agulhas dos pés e à região entre pescoço e queixo, típica da alergia. Agora eu teria que coçar. Resisti o quanto pude, mas enfim cocei. Nesse momento vi o tamanho das agulhas no meu braço esquerdo. Jesus! Pareciam a espessura do Oxford Advanced Learner's Dictionary! Quase uma mão inteira!

"Tenho que relaxar". Percebi que meus braços não estavam totalmente em contato com a maca. Inconscientemente eu resistia a relaxar. Relaxei os ombros um pouco mais. Quando vi, estava pensando numa música de Jorge Vercilo. Agora nem lembro mais qual era, mas já botei os CDs para tocar no carro até encontrá-la.

Por mais duas vezes tive que obrigar meus ombros a relaxarem sobre a maca. "Como sou tensa!", pensei. Senti um leve sono. "Quanto tempo será que passou? Acho que uns dez minutos." Fiquei pensando quantas outras salas semelhantes existiriam ali. Eu sabia que havia pelo menos mais uma pessoa em atendimento.

O barulhinho bem longe do ar condicionado era ritmado. A coceira ente o queixo e o pescoço voltou. Fiquei alerta novamente. Apesar de toda a espera, não estava estressada ou achando que desperdiçava tempo. Ouvi uma porta bater. "A próxima sou eu. Acabou.", pensei. Ele entrou: " E aí?". "Tudo bem", respondi.

Retirou minhas agulhas e me disse que poderia voltar no mesmo horário na semana seguinte. Ah, pediu que eu fosse de bermuda para conseguir espetar minhas pernas. Claro que ele não usou esse termo "espetar", mas é o resumo para mim: espetar agulhas em mim.

Ele colocou umas sementes de mostarda na minha orelha direita. Espetam também. Cada uma com uma função. Tenho que apertá-las 3 vezes ao dia. E doem muito mais do que as agulhas. Nessa hora, ele comentou que eu teria alguma coisa no pulmão. "Black magic?" Eu nem comentei da asma!

Fiquei esperando se sairia muito elétrica (a amiga que indicou me disse que se arrependeu de ter ido à noite por isso) ou muito zen. Não. Saí normal. Mas um normal diferente. Ao entrar no carro para dirigir, reclamei normalmente de duas barbeiragens (reclamo apenas para mim) e, pela primeira vez, não me senti furiosa por estar rodeada de gente que ou não sabe dirigir, ou não respeita a lei, ou os dois. Aquilo provocou em mim nada. Parecia até uma coisa inexistente.

Descobri que a junção do polegar direito com a mão ficou dolorida, assim como o cotovelo direito. Mas pelo efeito até agora, valeu a pena ter experimentado a acupuntura. Quero só ver o que ocorrerá na próxima semana.

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