Há muito o que falar de América 3x0 ABC. Tanto do que aconteceu antes do jogo como durante a sua realização. Vamos lá.
Antes do jogo, as duas partidas pela Copa do Brasil de quinta-feira mexeram muito com o que seria visto em campo neste domingo.
Pelo lado americano, apesar da goleada para o Santos, a certeza de que a equipe passa por uma evolução que claramente começou com um novo jeito de jogar desde lá atrás, ainda contra o Santa Cruz, e que também contou com a estreia de Leandro Melo como pitbull americano.
O América tornou-se uma equipe que não abafa os adversários, tem uma grande noção defensiva e aguarda pacientemente por um bote em velocidade. Isso diminuiu a ansiedade da equipe, o nível de exigência física - o que não pode ser desprezado numa equipe de média alta de idade - e aumentou a necessidade de empenho de seus adversários para superá-la.
Com tudo isso, ficou ainda mais fácil de identificar exatamente o que já saltava aos olhos: com reforços pontuais a equipe cresceria. Assim foi com Leandro Melo. Assim foi com a saída de Hiltinho para a entrada de Roger Gaúcho e seu poder de finalização.
Pelo lado abecedista, o jogo contra o Moto Club deixou um trauma. O péssimo desempenho no 1.º tempo e o 2.º gol de video game de Márcio Diogo deixaram transparecer que Joilson deveria ser titular. E aqui começa o primeiro encaixe para o América.
Imaginando o grande desgaste de ambas as equipes, Ranielle abdicou de trabalhar bolas pelo meio ao escalar 3 volantes e nenhum meia, imaginando que encontraria o espaço de sempre pelas laterais. Acreditava firmemente num América ansioso para vencer logo o jogo, atirando-se ao ataque como se não houvesse amanhã.
Como eu disse, o América já não é mais assim desde o Santa Cruz. Logo, Ranielle deu ao time de Moacir exatamente o que ele queria: previsibilidade. E aí a confiança americana foi aumentando ao passo que a abecedista mostrava abalo pelo desacerto das jogadas. E quando elas enfim davam certo, era Ewerton quem impedia a comemoração.
Aos 19 minutos, a velocidade de Jean achou o garçom Adriano Pardal, que serviu ao habilidoso e finalizador Roger Gaúcho, que, por sua vez, agradeceu ao presente da melhor forma possível - gol.
A torcida americana finalmente se empolgou. E o jogo seguiu na mesma tônica. Nada de abafa do América.
Mas eis que na empolgação de alguns torcedores, o alvo passou a ser a cria americana Adalberto, hoje zagueiro titular do ABC. Coincidência ou não, no lance seguinte, aos 36 minutos, o velho Adalba presenteou Roger Gaúcho com uma senhora assistência. E ele mais uma vez agradeceu como se deve - gol.
Poucos minutos depois, o América sofreu o primeiro baque: Adriano Pardal se lesionou e foi substituído por Max. O artilheiro da Arena, do América e do Estadual estava fora ainda no 1.º tempo.
Para piorar, Max entrou e já tomou um cartão amarelo por um rapa no adversário. Apreensão dupla.
No 2.º tempo, Ranielle tentou se refazer da mesmice dos 3 volantes, tirando um deles e colocando um meia e um atacante. Isso aumentou um pouco o repertório alvinegro, mas a confiança americana estava inabalável.
No entanto, aos 14 minutos, em mais uma grande intervenção de Ewerton, um choque entre ele e o zagueiro Adriano Alves levou desespero a todos que estavam na Arena das Dunas. Adriano já caiu no gramado inconsciente e o que se viu foi um festival vergonhoso. Uma ambulância que simplesmente não prestava o socorro porque sua equipe não estava dentro.
Depois de muito corre-corre, inclusive de um pique do quarto árbitro para lá, uma das ambulâncias pôs-se a fazer manobras para entrar em campo. E tome tempo perdido. Depois soubemos o motivo do balé do veículo: a Arena das Dunas simplesmente não permitiu que o veículo adentrasse o gramado para prestar o socorro. O deslocamento teria que ser feito por fora. Eu nem vou escrever aqui o quanto esse tipo de atitude é mesquinha.
O abalo foi geral. Alisson Brand entrou, mas o América aí sim se mostrou um tanto quanto incapaz de tocar a bola. E logo em seguida, o goleiro Ewerton também não aguentou seguir em campo e foi substituído por Rafael Copetti, que fez sua estreia - bem, diga-se de passagem.
Antes disso, Adalberto sentiu e saiu de campo ovacionado pela torcida do América - sim, do América - para a entrada do também zagueiro Henrique. E, cá para nós, como o short de Henrique estava apertadinho, viu? Dava a impressão de que rasgaria a qualquer momento.
De todo jeito, o destino parecia bem cruel com Moacir, que fez todas as substituições por lesão e sendo todos os jogadores importantes: o goleiro, o melhor zagueiro até então na temporada e o artilheiro. Já Ranielle só perdeu uma substituição assim, as outras duas ocorreram por estratégia.
Aos 36 minutos, Diego deixou Max na cara do gol e o matador voltou a dar as caras na temporada. América 3x0 ABC. Mas preciso dizer que, antes disso, um gol de Jean foi anulado por um impedimento que não existiu e que Roger Gaúcho pintou e bordou na área abecedista e só não fez um golaço porque um jogador do ABC (não consegui ver quem foi na hora) salvou em cima da linha.
Mesmo assim, ressalto que o ABC não se entregou em momento algum do jogo. Seguiu tentando seu gol até o apito final, que só ocorreu 10 minutos após o tempo regulamentar por tudo que já relatei acima.
Sobre a arbitragem, a cisma com Pablo Ramon segue por parte da torcida americana. Aposto que a torcida abecedista também tem suas ressalvas.
Sobre o uniforme branco, por tudo o que ocorreu de vergonhoso no jogo Santos 4x0 América, não duvido que ele tenha sido utilizado por falta de material vermelho. Mas sabem como é superstição, né? Capaz de virar o número um até o fim do estadual.
No mesmo quesito, aposto que mosaico e extintores (o pó continua lá em todo lugar do Setor Leste e até no escudo da minha blusa, mesmo tantos dias após àquela final) também vão dar um mergulho profundo como preparação de jogos grandes.
Sobre Kaike, as mesmas dificuldades, embora com alguns lampejos. Diego, outra preocupação, esteve melhor no 2.º tempo. Entendo que a volta de Gabriel Nunes deve colocar Diego no lugar de Kaike.
Enfim, o América encaixou com a velocidade de Jean Patrick, a lucidez e a garra de Leandro Melo, o talento de Adenilson e o poder de finalização de Roger Gaúcho. Desde quando o América oscilava estava claro que um jogador no lugar certo já faria todo mundo melhorar. Leandro e Roger são os melhores exemplos.
Ranielle não pareceu entender esse novo momento do América sob o comando de Moacir, como sua escalação inicial demonstrou.
De todo jeito, o América é líder do 2.º turno com propriedade - 100% de aproveitamento, ainda estando um jogo atrás de seus concorrentes mais próximos.
Agora é manter o foco porque o Globo anda botando as manguinhas de fora. E manter o embalo neste estadual é tudo que o América pode querer para entrar firme e forte na Série D.
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