sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Falta paciência

Vou começar pelo fim para explicar melhor a falta de paciência. A Arena das Dunas está prestes a completar 5 anos e continua expondo a torcida do América a uma saída imprensada, perigosa, ilógica. 

Abrindo apenas um portão externo para a saída de mais de 3 mil pessoas - portão esse que fica tapado por vários ambulantes com equipamentos quentes - a Arena parece disposta a dificultar a vida de quem se propõe a assistir a um jogo no Setor Leste. E olha que ontem este foi praticamente o ÚNICO setor que abriu para receber os espectadores.

Confesso que me falta paciência para tamanhos desrespeito e irresponsabilidade. As autoridades deste estado estão esperando uma tragédia para enquadrar a administração da Arena?

Sobre o jogo, começo pela arquibancada. Também falta paciência para o público do Setor Leste. Mais uma vez, tive o azar de sentar na frente de um grupo de rapazes que eram verdadeiras matracas. Não bastasse não entenderem nada de futebol e até da escalação do América, quando finalmente pararam de falar do time, engrenaram em abobrinhas irritantes, como o fato do pai de um deles não ter bunda ou da promessa de outro de espancar um terceiro porque este havia afirmado que - desculpem o termo, mas não há como expor a dimensão da intelectualidade sem grafar com exatidão - comera sua mulher. Dose para leão!

Eu quando vou a um jogo nem bebo, nem fico pendurada no celular, nem conversando. Eu vou VER o jogo. Abobrinhas e celular eu deixo para antes do início do jogo ou no seu intervalo. Mas desconfio que a idade anda diminuindo exponencialmente a conta da minha paciência... Menos mal que ontem não precisei lidar com fumantes que desafiam a proibição que a Arena não está nem aí para fiscalizar.

Sobre o conjunto da torcida em si, a paciência não durou nem um tempo. Mas não a minha. 7 meses sem ver o América jogar em casa, aproximadamente aos 30 minutos, surgiram umas tímidas vaias na arquibancada. Isso para uma equipe totalmente reformulada, sem o entrosamento ideal, mas que dominou as ações no 1.º tempo. Alguns outros torcedores esgotavam o fôlego a gritar sobre o que determinados jogadores deveriam fazer e uma ruma de impropérios para acompanhar, ainda que não tivessem a menor ideia das qualidades de cada atleta e da função tática que estavam a desempenhar em campo. Porém, graças a Deus, não eram a maioria. Ô povo chato!

Só para ilustrar, houve um que quase infartou à minha frente porque Gledson segurou a bola para enfim repô-la em jogo, com o que parecia ser um chutão, em vez de seguir a orientação do técnico da arquibancada para abrir com Vinícius. Esse torcedor e muitos outros não sabem que Gledson é um goleiro que sabe jogar com a bola no pé. Na verdade, não sabiam, porque Gledson não deu um chutão, e sim lançou uma bola com açúcar e com afeto para Adriano Pardal, disparadamente o melhor em campo, desperdiçar uma chance clara de gol chutando fraco para as mãos do goleiro Pedro, do Santa Cruz.

Agora sobre o jogo, aí não faltou paciência. O América de Luizinho Lopes é uma equipe extremamente bem postada e que sabe exatamente o que quer. Sabem aquelas atuações do América quando pegava uma retranca de uma equipe considerada menor e os jogadores alvirrubros ficavam com uma postura do tipo "como você não vai fazer gol, eu vou esperar você perder a bola" e que é a fórmula do caos? Podem esquecer. O time de Luizinho mostrou logo ao Santa Cruz que não ia esperar mesmo ele se desfazer da bola. A pegada imprensou o mandante dentro de seu próprio campo e até uma mísera cobrança de lateral perto da bandeira de escanteio era motivo de uma pressão quase insuportável da marcação americana, marcação esta que é feita com afinco por todos, embora, claro, nem todos tenham a mesma eficiência.

Lógico que isso proporcionou ao Santa Cruz alguns perigosos contra-ataques. Era um risco a que o time de Luizinho precisava se expor, de forma calculada, para espantar o tabu do América nunca ter vencido o mandante do jogo. No entanto, o Santa Cruz assustou mesmo em duas oportunidades no 1.º tempo: numa bela cobrança de falta que proporcionou uma defesa monstro de Gledson e num contra-ataque pela esquerda em que, pelo lado esquerdo,  salvo engano, o lateral ou o meia chegou dentro da área do América, assustou-se com a chance de chutar com a perna esquerda e resolver passar para quem vinha atrás. Houvesse chutado, só um milagre de Gledson manteria o gol americano intacto.

O primeiro jogo oficial também confirmou a minha impressão de que o América é um time que engatilha rapidamente a transição para contra-ataques, o que transforma num verdadeiro inferno para o adversário um erro na saída de bola.

Outra coisa são as jogadas perigosíssimas de bola parada. Até cobrança de lateral vira escanteio e há um revezamento de quem desvia primeiro a bola para uma sobra mortal de frente para o gol. Ontem, o desvio foi de Galiardo e a sobra foi de Adriano Pardal. Houve jornalista falando no Twitter em falha da defesa do Santa Cruz. Certamente nunca observou de verdade um time de Luizinho Lopes e nem acompanhou os treinamentos do América.

E as cobranças de falta? Artilharia pesada de todos os lados porque muita gente sabe cobrar. Há todos os estilos: rasteira, colocada, forte... Que saudade disso no América!

E, claro, o primeiro jogo oficial de um time pressionado como o América pesa para todo mundo. Até para o experiente Alison. Como a camisa do América pesa, minha gente! O zagueirão deu duas pixotadas logo de cara, armando contra-ataques. Nada que a experiência não resolvesse e assim ele se recuperou na sequência. Só que uma mulher na minha frente cismou de que ele era o pior jogador do América por isso e não o perdoou mais. A caninga só parou quando Alison foi substituído por contusão. Mais uma dose para leão...

Gostei de todos em campo, exceto, para variar, Breno. Já vi dois jogos dessa criatura e não consegui ainda enxergar uma única qualidade que tenha justificado sua permanência no elenco. Nem defesa, nem passe, nem cruzamento. Como é um jogador jovem, talvez esteja pesando a chegada ao profissional. Mas basta olhar as atuações de Jadson e Judson para desconfiar dessa ideia.

Max apresentou uma irritante dificuldade em dominar a bola num campo que mais parecia um tapete. Um trabalho específico deve resolver o problema - espero.

Também vi gente reclamar de que Adenilson não parece um camisa 10. Hello!!! Não há mais camisa 10 estilo Souza no futebol brasileiro. Aliás, talento em geral anda em falta no pobre futebol brasileiro, imaginem no RN! Adenilson sabe ver o jogo, sabe cobrar faltas, conseguiu boas enfiadas ontem e mostra disposição para marcar, características que, juntas, fizeram falta ao América nos últimos anos e podem fazer grande diferença num elenco formado para a Série D (sim, o América não vai disputar a Série A em 2019).

Já citei que Adriano Pardal foi o melhor em campo? O atacante esteve à vontade aparecendo no meio, nas pontas, como centroavante e ainda com grande disposição para marcar. Foi premiado com o gol, mas merecia ter feito pelo menos mais um.

Do Santa Cruz, chamaram minha atenção Júlio Brasília e, principalmente, Dyorgenes, camisas 10 e 11, respectivamente. Mas o time mostrou bom entrosamento dentro da proposta de Fernando Tonet.

A falta de paciência voltou a dar as caras para mim quando, num cochilo de Judson, uma saída de bola do América já no fim do jogo virou uma perigosa falta para o Santa Cruz. Nessa hora, todo o pesadelo dos anos anteriores assustou a torcida americana. De novo dominar um jogo e perder no fim? Não dessa vez. Fim de jogo, fim do tabu.

Se há ainda muito espaço para uma atuação mais vistosa, isso é ótimo. Em anos anteriores, o América começava a mil por hora e via seu desempenho ir murchando. Agora não. O América ainda não mostrou tudo o que sabe, mas há um grande potencial que, bem lapidado na hora dos reforços pontuais ao longo da temporada, pode por fim a anos de sofrimento. E o time mostrou a mesma entrega dos dois amistosos contra o Botafogo-PB, uma coisa que me enche os olhos, já que ninguém dá menos do que 110% em campo.

A primeira batalha foi vencida, diria até com louvor. Pelo menos o Santa Cruz não tira mais o América da disputa do título estadual como nos anos anteriores. Agora é cuidar para que o Potiguar não seja o estraga-prazeres deste ano.

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