E como falta! Falar de um clássico no RN envolve tanta coisa que vira um suplício.
É preciso falar desse jeito louco que dirigentes daqui arranjam para motivar o torcedor, com acusações de bastidores que desacreditam qualquer desempenho em campo.
Também é preciso falar da falta de vontade ou competência para devolver o clássico para as torcidas verdadeiras - as famílias - que tão somente querem ver seu time em campo e não estão nada interessadas em hino da torcida tal, aliança com a torcida qual, tocaias, bombas e assemelhados.
É preciso falar das cenas bestiais de bombas jogadas dentro e fora do estádio, como se um clássico fosse um evento bélico, uma guerra. Mas aqui, além da falta de paciência, sobra a vergonha alheia pela repetição ultrajante dessas cenas de horror.
É preciso falar de uma federação que insiste no não-marketing e agora se empenhou em tirar os jogos das TVs dos clubes, matando de vez qualquer chance de exposição do futebol de um estado que os grandes centros nem têm certeza de onde fica.
Por tudo acima, hoje eu não vi o clássico, mas ouvi, quando possível, a narração de Marcos Lopes e vi comentários do pessoal no Twitter.
E aí falta paciência mesmo para comentar mais uma derrota do América num clássico no estilo "além de queda, coice". Logo quando eu havia comemorado a mudança de postura do América ao perder um jogador na partida anterior e ter amarrado o Potiguar.
Pelo que ouvi, o América não conseguiu amarrar o jogo em momento algum, o que lhe seria vantajoso, ainda que todo mundo insista em apontar equilíbrio no 1.º tempo. Teria o América acreditado demais que a instabilidade do ABC por reformulação na equipe não o atingiria?
Reclama-se de um gol anulado por impedimento. Falta paciência para comentar sobre isso em todos os sentidos.
Houve um golaço de Xavier para esfriar de vez o América.
E quando o 3.º gol do ABC trazia uma ruma de lembranças maravilhosas para a torcida alvinegra e terríveis para a torcida alvirrubra, Jean Patrick sofreu um pênalti. Poderia ser uma tímida reação. Poderia. Mas Max e seu histórico de pênaltis contra o ABC trataram de enterrar qualquer ânimo.
O que se viu em campo a partir daí, pelo que ouvi, foi um time carregando 300kg nas costas, 100kg por cada gol sofrido. Não levou mais porque Gledson não deixou.
A torcida fez uma lista enorme de problemas do América: a zaga, seja quem for que esteja de titular, os laterais Vinícius e Diego, o volante Galiardo, lentidão/ausência de Adenilson, a inoperância de Fabinho Alves, o tempo esgotado de Max, a média de idade do time, os preparadores físicos do América, o 4-3-3 de Luizinho e, claro, o próprio Luizinho.
Falta paciência. Esperado. Basta olhar para os números do América nos últimos clássicos para entender a situação. O abecedista Marcelo apontou que, nas últimas 5 partidas no Frasqueirão, o América tomou 14 gols e só marcou 1.
Mas é preciso olhar para os últimos anos para não repetir o padrão que trouxe o América até aqui. Com mais 2 rodadas, Luizinho vai chegar ao limite em que Leandro Campos, Felipe Surian e Pachequinho chegaram e dançaram nos últimos estaduais. Ele e Felipe Surian, nesta ordem, foram os que mais tiveram equipes feitas a partir do zero. O América precisa ganhar um padrão no estadual e daí sair para contratações pontuais para buscar o difícil acesso na Série D. Pontuais aqui deve ser entendido como aquelas contratações com cacife para a titularidade, sejam 5 ou 11, cheguem elas ainda no estadual ou não.
Se o troca-troca de técnicos, principalmente, e de jogadores não funcionou, é chegada a hora de apostar na estabilidade. E apostar na estabilidade só se verifica na hora da adversidade. Porque manter o rumo nas vitórias não é aposta, é osmose.
Certamente ficam lições de mais um clássico perdido por placar elástico, mas não é o impulso de mudar tudo num estalar de dedos que vai retirar o América do buraco em que ele se enfiou ainda mais profundamente a partir de 2016. E é bom não esquecer que a luta do América hoje é mais embaixo do que a do ABC.
Enfim, se o América vive sob pressão, essa se tornou quase insuportável hoje. Luizinho e Eduardo Rocha agora carregam não só 300kg, mas o mundo nas costas.
Desejo sabedoria e resiliência aos dois para aguentar o tranco e enxergar o que de fato é erro, seja tático, técnico ou de nível de jogador mesmo, seja de comprometimento ou de habilidade, o que é superioridade do adversário, e o que recai na instabilidade de início de temporada.
Sobre o clássico, um público de 6.781 pessoas mostra bem o que se tem feito a respeito dele nos últimos tempos. Mas os dirigentes daqui parecem todos num desafio estilo Bird Box, sem poder retirar a venda que lhes cobre os olhos nem por um segundinho sequer.
Com ou sem paciência, o limite de erros permitidos ao América no 1.º turno se esgotou. E na quinta-feira só lhe resta vencer o Palmeira para seguir pensando na final do turno. É bom lembrar que foi contra esse mesmo Palmeira que o ABC também esgotou sua cota de derrotas.
O fio da navalha chegou cedo, como sempre. Convém não escorregar.
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