Disco arranhado

Acho que a passagem do tempo tem me deixado mais ranzinza do que o habitual, mas algumas verdades do mundo do futebol têm me irritado com mais frequência, no estilo disco arranhado - para quem é do tempo do disco.

"Fulano não é jogador para o América". Fulano joga futebol? E o América não é um clube de futebol? Só saberemos se fulano é jogador para o América quando vestir a camisa e entrar em campo. 

"Fulano não é técnico para o América". Essa é um pouco mais aproximada da realidade porque o América anda num outro nível de pressão. É preciso indicar jogadores com capacidade de jogar a Série A, mas com salário de Série D, e o time tem que estar sempre na ponta dos cascos sem nenhuma ponderação acerca do momento da temporada. E, é claro, é preciso lidar com a pressão de diretores para certas contratações/escalações no meio de tudo isso.

"Fulano joga menos do que Beltrano que estava aqui no ano passado". Essa é infinita. Não importa a temporada, há sempre X que joga menos do que Y, que também ninguém suportava e dizia que jogava menos do que Z...

"Tem que trazer jogador/treinador de peso". E quando aqui chegarem, receberão a pecha de encostados/acomodados/aposentados. Ou alguém acha que um jogador/treinador no auge da carreira, muito bem empregado, vai largar tudo para resgatar o América por puro altruísmo?

Se o técnico tem uma convicção, ele tem os seus peixes. Se muda o time em busca de uma melhor formação, está perdidinho. De todo jeito, ele sempre já deu o que tinha de dar com apenas 5 rodadas de um turno de estadual. 

Um caminhão de jogadores também acompanha essas mudanças. E aí sobram "Viu fulano no time X? Tá arrebentando. Aqui no América ninguém teve paciência. Queimaram o cara com 2 jogos", diz o primeiro a vaiar o atleta ainda no aquecimento. 

Agora voltem e troquem as palavras "fulano", "beltrano", "jogador" e "técnico" por quem já jogou, treinou ou foi cogitado no América. Qualquer um vai encaixar como uma luva em 99,99% das vezes.

É ou não é um disco arranhado?