sexta-feira, 3 de maio de 2019

Para não regredir mais

É com um misto de incredulidade, agonia e revolta que venho acompanhando os arroubos reacionários tomarem o Brasil a partir de cima. 

De um aparentemente inocente slogan Deus acima de tudo, há um movimento - antecipado desde a campanha eleitoral - para solapar os princípios constitucionais que regem o Brasil. 

São relações internacionais subvertidas por religião ou ideologia, discursos de submissão da mulher e de minorias, medidas que transformam universidades em inimigas e nos submetem ao império da bala. 

Em quatro meses, aprendemos o que é golden shower com vídeo distribuído sem censura nas redes sociais, que 80 tiros disparados pelo Exército contra uma família não passam de um incidente sem necessidade de manifestação de solidariedade presidencial, ao passo que esfregar uma notificação extrajudicial em partes íntimas e mandar a remetente cheirar e enfiar em certo lugar, para dizer o mínimo, é sim caso de apoio presidencial contra a "censura".

Também acompanhamos verbas publicitárias divididas não mais pelo critério de audiência - nem o PT com seu ódio a Globo chegou tão longe - e sim pela proximidade com o chefe da Nação, com SBT e Record ganhando polpudos aumentos de mais 600%.

Até publicidade de sociedade de economia mista é subjugada à vontade alheia à do nosso ordenamento jurídico.

Reformas são empurradas goela abaixo, sem discussão, tudo a toque de caixa. E nada melhora...

Estudos que embasam a tal reforma da previdência viraram sigilosos e não podem ser compartilhados com todos os brasileiros para as devidas discussão e informação.

Aliás, informação sempre incomodou regimes autoritários. Aqui do lado, na Venezuela, por exemplo, a guerra do governo Maduro, apoiado por militares, ressalte-se sempre, com a imprensa reproduz a certeza de que somente a democracia tolera uma imprensa livre. 

Isso por si só já deveria servir de alerta para a aproximação do embarque nessa viagem de volta a priscas eras. Serviu, mas não a todos. Afinal, ódio cega. 

Estamos de volta a um falso embate comunistas x capitalistas. Até esse defunto putrefato foi retirado da sepultura após mais de 30 anos para justificar esse ardente desejo de volta ao passado. As lições da História foram subjugadas. O que deveria soar pitoresco, ridículo, empolga até o último centímetro de almas raivosas que enxergam o mundo de uma forma simplória, maniqueísta, de bem x mal. Se a História não ensinou, esperava-se que a vida houvesse ensinado que nada é assim tão preto no branco. 

O Brasil deveria estar cansado de nós x eles. Deveria. Não está. A cada momento, surge uma nova versão para encher a paciência de quem, como eu, não aguenta mais tanta firula, tanta pirotecnia, quando tudo o que se quer é um país que funcione pelo menos de forma básica, como nossa Constituição determina. 

Eu estou cansada de pagar tudo duas vezes, na saúde, na educação, na segurança. Ainda temos a piora no meio ambiente para aumentar a conta do primeiro item. E as afrontas aos dois últimos para afundar de vez o que resta.

Conversei ontem com um aluno eleitor e apoiador do atual presidente que me revelou uma vontade enorme de ir embora do Brasil com sua família. Se para ele está assim, imagina para quem já percebia o retrocesso que nos ameaçava e ameaça.

Eu me assusto com o nível do que discutimos em 2019, em pleno Século 21. Espero que despertemos o quanto antes e passemos a construir um país melhor a partir de nossa sociedade e do que nossa Constituição determina. 

Esse governo não pode ser apenas isso que vem mostrando. Não queremos e não podemos voltar ao passado, ainda que ali existam coisas boas. É para frente que se anda. O Brasil precisa de várias reformas - política, previdenciária, tributária... Há muito a ser desburocratizado (não confundir com desregulamentado ou deixado ao Deus dará) e barateado em serviços públicos, por exemplo. Há muito de tecnologia a ser utilizado para dar agilidade ao Estado brasileiro.  Não há tempo a perder com volta ao passado. Já estamos muito atrasados. Até os rankings de felicidade apontam a tristeza que se abate por aqui desde 2013. 

Então, chega! Temos que cobrar responsabilidades. Se o presidente e sua turma não conseguem compreender a gravidade da nossa situação, cabe à nação chamá-los ao bom senso porque, do contrário, afundaremos todos em 5, 4, 3...

Nenhum comentário:

Postar um comentário