domingo, 3 de fevereiro de 2019

A falta de senso crítico

Eu havia prometido não opinar mais a respeito da troca de treinadores no América, mas não posso deixar de opinar sobre certas coisas que me impressionam.

Primeiro, falo sobre a deterioração do senso crítico no América. Antigamente, treinadores caíam porque perdiam um jogo ou uma classificação. O negócio agora avançou para a demissão de um treinador após uma vitória que colocou o time na zona de classificação para a final do 1.º turno. Até o auxiliar técnico André Luiz falou em sua entrevista da surpresa com a queda de Luizinho. Isso depois de todo mundo jurar que a prioridade é o acesso na Série D. 

Depois, ressalto a movimentação do América para dar carta branca ao técnico Moacir Junior para mexer no futebol como um todo. Em sua entrevista, fica bem claro que a diretoria lhe pediu para avaliar as posições fora de campo. 

É bom lembrar que um dos técnicos do ano passado ouviu quando chegou ao América que o pessoal de casa trabalhava contra os técnicos. Não é uma coisa bela de se dizer? Por que alguém diria uma coisa dessa a um novo técnico? A quem interessa cooptar quem acabou de chegar ao clube para essa lorota de conspiração?

Sobre a contratação de Moacir, eu duvido que exista alguém da torcida que estivesse defendendo a saída de Luizinho Lopes que aposte que ele é o cara a superar a média de 5, 6 rodadas e enfim levar o América ao acesso. Moacir não tem um único acesso em seu currículo! Nunca foi campeão de um estadual pra valer (nada de módulo II, copa não-sei-o-quê, taça de interior). Para piorar, seus números sempre apontam menos vitórias do que empates e/ou derrotas nos últimos anos. Por exemplo, no Volta Redonda, de onde foi demitido ainda em agosto do ano passado, em 10 jogos, foram 3 vitórias, 2 empates e 5 derrotas. E lá ele usava o tão apontado esquema-problema de Luizinho Lopes, segundo 10 entre 10 torcedores e especialistas de tática no futebol: o 4-3-3.

Em 2014, perdeu para o América de Oliveira Canindé por 1x0 na Arena das Dunas (último jogo antes daquela sequência horrível de 10 jogos sem vencer do Mecão), caiu do América-MG na 22.ª rodada, foi para o ABC ainda naquela Série B e também caiu depois de 10 jogos com apenas 3 vitórias.

O único acerto do América nisso tudo foi demitir um treinador já tendo outro em vista para não ficar 300 dias especulando 4.000 técnicos empregados nas Séries A e B e acordar com um Pachequinho.

Mas o que me chama atenção mesmo é essa patota de Minas que anda rondando o América. Nenhum problema com os mineiros, povo que mora no meu coração desde sempre. Mas já observaram que desde 2016, alguns até antes, os nomes que andam no América de técnicos e jogadores em sua maioria vêm de lá? Todo mundo rodado em Tupi, Democrata, URT, Uberlândia... Felipe Suriam, Ney da Matta, Moacir Júnior são boas provas para ficar só nos técnicos. Isso me parece um grande indicativo de que um empresário (ou um grupo de empresários) daquelas bandas encostou no América e vem soltando suas mazelas (para ser justa, alguns até deram certo) para cá para ver se cola.

Enquanto isso, a torcida americana cai no conto de "vamos agir enquanto é tempo" e sonha com a demissão de Luizinho Lopes e acorda com a contratação de Moacir Júnior, para citar só o último da vez, mas podem substituir os nomes de Luizinho e Moacir pelos técnicos que aqui passaram desde Roberto Fernandes em 2015. Absolutamente todos vão se encaixar como uma luva.

Moacir pode ter no América um divisor de águas em sua carreira. Pode virar um técnico vencedor, tanto em número de vitórias como em conquistas. Pode ter seu primeiro titulo estadual de verdade. Pode levar o América a uma inédita passagem de fase no novo formato da Copa do Brasil. Pode conquistar um acesso em campeonato brasileiro. Pode até conquistar um título nacional com o América em 2019. No entanto, a análise do que prega o América e do que realmente faz só demonstra um enorme compromisso com o erro, e sem a menor autocrítica de quem toma essas decisões, seja o presidente Eduardo Rocha ou José Rocha ou Beto Santos - de novo, para citar os últimos - ou quem quer que lhe aconselhe/auxilie.

Afinal, o que, de fato, mudou de 2016 para cá no clube? E em campo?

Se falta senso crítico a quem dirige, não falta a mim. Cansei de ser a primeira a puxar a ficha de associação no América, mesmo sendo contra esse rodízio de famílias no clube. Desde 2005, quando nem ingresso se recebia, apenas um adesivo qualquer, que eu contribuo como sócia torcedora. Em 2016, retardei minha renovação para o fim do ano. Neste ano, quebrei a tradição. Eu sabia que não dava para confiar no papo de que o caminho era aquele com Luizinho Lopes até o fim do ano, porque a Série D seria prioridade. Balela. Prioridade que não aguenta um tranco no estadual em nome de um treinador com menos currículo que o anterior?

Não posso assinar embaixo de um caminho que apequena o América a cada 5, 6 rodadas. Não deixei - ainda - de ir a campo. É o América que vem me expulsando da arquibancada a cada ano mais cedo. Torço pelo clube, não pelo time. Mas acredito que não vai demorar muito para eu descobrir que até masoquismo/sadismo tem limite. Uma pena que esse entendimento não chegue para quem se envolve nas decisões acima apontadas.

Um comentário:

  1. Concordo integralmente. Acrescente apenas que nem Eduardo e nem quem tem lhe "ajudado" a escolher, entende do mercado de jogadores. É conhecer jogadores é elementar nessas funções de direção no futebol.

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