O alerta acima foi feito pelo infectologista Artur Timerman, presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses, em entrevista à repórter Adriana Dias Lopes nas páginas amarelas de Veja desta semana (10/02), em que ele defende o desenvolvimento de uma vacina como medida mais eficaz. Vale a pena conferir a entrevista completa na edição que ainda está nas bancas. Alguns trechos:
"A emergência mundial declarada pela OMS não é exagerada?
É natural que o ineditismo da situação estimule o alarde. Nunca na história da medicina houve uma doença transmitida por um vetor associada à malformação fetal. E esse alvoroço não é em vão. Ele é útil, fundamentalmente, para acelerar o interesse das autoridades políticas e médicas em investir em pesquisas consistentes sobre o assunto.
(...)
Como deve ser o registro dos casos de microcefalia?
Defendo um protocolo único. Todo e qualquer caso de microcefalia deve ser notificado, eliminando-se, claro, as causas já conhecidas - mesmo que não se tenha certeza de que ele possa estar relacionado ao zika. Foi assim com a aids. Na década de 80, durante três anos, notificávamos todos os casos de pessoas acometidas por pneumonia, gânglios inchados e alteração imunológica, apenas suspeitando de uma associação com o vírus HIV. A medida era protocolar. Por termos pecado pelo excesso, pessoas que nem imaginávamos pertencer ao grupo de risco do HIV foram identificadas, como os heterossexuais.
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Por que não há ainda um teste eficaz para ser usado em larga escala na detecção do zika?
Por incompetência do governo federal. Nossos virologistas são muito bons. Mas não recebem a verba necessária para pesquisa. Não há investimento porque ciência básica não dá voto. Há cientistas de universidades federais no Nordeste que têm de pedir reagentes emprestados para trabalhar. E sem um teste em larga escala não conseguimos decifrar o comportamento do vírus no organismo. É o que chamamos de fisiopatogenia, na linguagem médica. Precisamos de um teste que identifique os anticorpos no sangue, produzidos pela infecção. Os anticorpos permanecem para o resto da vida no sangue. (...) Hoje, um teste desse tipo não levaria mais de seis meses para ser desenvolvido.
Não é inconcebível que um mosquito cujo potencial de transmitir doenças se conhece há pelo menos 100 anos ainda desafie a ciência?
O papel da ciência não é acabar com o Aedes. É impossível acabar com o mosquito. O Aedes tem uma capacidade de adaptação biológica sofisticada, superior à de qualquer inseto. Há menos de dez anos, ele se reproduzia apenas em poças grandes, de meio litro, constituídas de água limpa. Hoje, basta uma quantidade equivalente a uma tampinha de água - limpa ou suja. o Aedes sempre teve um comportamento diurno, atraído pela luz do sol, e já o vemos durante a noite, em torno de luz artificial. Suas larvas sobreviviam por três meses. Agora, o tempo é quatro vezes maior. Seu voo atingia a distância de 10 metros. São 50 metros atualmente. Essa capacidade extraordinária de sobrevivência sempre driblará qualquer tecnologia.
É impossível, portanto, eliminar o Aedes Aegypti.
Não costumo ser pessimista, mas nesse casos terei de dizer: é praticamente impossível eliminá-lo. O problema está lá atrás, com a urbanização caótica das grandes cidades, sobretudo nos países da América Latina, erguidas sobre asfaltos impermeáveis, com pouquíssima vegetação e repletas de lixo e esgoto a céu aberto. O papel da ciência é importante, mas paliativo. Ela servirá para eliminar ou evitar as consequências trazidas pelo mosquito. As medidas podem ser válidas, mas apenas reduzirão os danos.
Na semana passada, a fim de eliminar eventuais focos de reprodução do Aedes, foi autorizada a entrada forçada de agentes de saúde em imóveis públicos e particulares em caso de abandono ou na ausência de pessoa que possa permiti-la. Não é uma postura autoritária?
O governo tem mostrado total despreparo para lidar com o Aedes. Imagine um mundo ideal, em que todas as residências estejam livres do mosquito. Agora, imagine as pessoas saindo de sua casa. Por quantos focos de infecção vão passar? Cerca de 70% dos focos das larvas do Aedes estão ao redor das casas. Era possível atacar esses focos espalhados, sem controle, em cidades menores. Foi assim há quase um século, no combate à febre amarela, também transmitida pelo Aedes. Não há comparação possível, agora. Nosso ministro da Saúde, Marcelo Castro, é uma autoridade política, mas está longe de ser uma autoridade científica. Outra medida absurda há pouco tomada pelas autoridades é o espetáculo proporcionado pelo tal "fumacê". Ou seja, agentes vestidos com máscara e equipamento de segurança dedetizando as cidades. Isso não funciona com o Aedes, inseto capaz de se adaptar com rapidez. Esses produtos agem entrando em um túbulo embaixo da asa do mosquito e matando-o por paralisia. O Aedes sente o cheiro do DEET, o principal composto dessas substâncias, e deixa de voar. Sem abrir as asas, ele não morre.
Os cuidados devem ser redobrados no Carnaval?
Não há dúvida. É um período de calor, em que as pessoas estão supostamente menos vestidas e suam mais. Os repelentes devem ser repostos a cada hora, portanto. Esse é um tipo de recomendação que não está na bula dos produtos. (...)"
Se você não entede do assunto fale tanta besteiras.Sou da Anvisa e sei...nos anos 80 nó erradicamos o mosquito transmissor da dengue aqui em Natal e o principal equipamento foi justamente o "fumacê", ele é muito eficiente com o inseticida e vai atingir o mosquito lá no interior das casa. Não tem isso de ser mutante e que se adapta facilmente. Também nunca se ouviu falar nesse tal túbulo no mosquito. O problema para resolver essa endemia é somente "vontade" do governo federal, pois mesmo desde que extinguiu a antia SUCAM, que dendemos desses fracos agente de saúde da prefeitura, que não trabalham corretamente, como fazia a antiga Sucam
ResponderExcluirAndré Luiz
Não mate a mensageira, André. Apenas reproduzi trechos da entrevista do presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses publicada na Veja desta semana.
ExcluirAssim tá tudo bem, desculpa...
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