quinta-feira, 18 de maio de 2023

Sem fim

Como costuma dizer minha irmã, depois dos 40, se você não sentir uma dor, é porque morreu. 

No meu caso, depois de ter voltado à intensidade do basquete (treinos de 2 horas de duração) há mais ou menos 1 mês e de ter obtido 1.001 contusões, na última quinta-feira arranjei uma inesquecível: uma inflamação no nervo ciático.

Esse nervo, que é o maior do corpo humano, desce pela coluna vertebral e em sua parte final se ramifica para ambas as pernas.

A inflamação dele produz uma dor lancinante, enlouquecedora, sem posição de alívio (no estilo cálculo renal), que é absolutamente imprevisível. 

Há uma semana cheguei do treino com uma leve dificuldade de sentar, típica de uma lombar lascada por anos em pé de salto como professora e advogada. Até por isso já faz um bom tempo que aderi mais largamente aos tênis como sapatos sociais e companheiros quase inseparáveis.

Também por essas profissões, sofro com o que eu mesma diagnostiquei como fascite plantar, que surge na sola do pé depois de caminhar ou passar muitas horas em pé. Nem ligava mais para isso, já tinha como coisa certa, igual a ter que fazer xixi depois de beber muita água. 

Pois bem. Cheguei do treino e fui para a minha sessão de fisioterapia de banho quente na coluna seguido de 10 minutos de gelo numa garrafa pet sendo rolada pelo pé esquerdo. 

Já no banho, senti que algo não ia bem porque assim que a água bateu na lombar, a dor desceu para a nádega esquerda. 

Terminado o banho, à medida que fui rolando a garrafa pet, fui sentindo que não ia mais aguentar ficar sentada em posição normal. 

A noite de sono não foi das melhores pela sensação de que havia tomado uma verdadeira surra nas costas inteiras, algo que já sentira após outros treinos.

Mal sabia que o pior chegaria na manhã seguinte. Cada movimento meu, fosse para me virar na cama, fosse para me sentar ou ficar em pé, ou mesmo andar, trazia uma forte dor na nádega esquerda, que descia a coxa e o joelho pelo lado externo e terminava numa dor absolutamente lancinante, enlouquecedora, no meio da perna esquerda. Passei o dia inteiro chorando copiosamente a cada vez que precisava me mexer. Pior é que a própria dor me obrigava a me mexer e a piorar minha situação.

Por volta do meio-dia comecei a tomar ibuprofeno de 600 mg na tentativa de pelo menos encontrar uma posição para ir a um pronto-socorro. 

4 doses depois, já na manhã de sábado, minha irmã me levou para o pronto atendimento numa clínica de ortopedia. Fui deitada no banco da frente do carro, quase chorando de dor. Ao chegar lá, não me disponibilizaram nem uma maca para que eu esperasse deitada, já que sentada era simplesmente impossível. Aguardei o atendimento e fui atendida em pé mesmo. Mesmo que alguns funcionários tenham dito para que me fosse dada prioridade por minha condição, a recepcionista respondeu que só os médicos davam prioridade. Engraçado é que, sem triagem, como os médicos poderiam dar prioridade? Deve achar que todo mundo tem Q.I. de dois dígitos.

O médico de plantão me ouviu e ainda assim me pediu para sentar numa cadeira para um teste. Ainda bem que deixou que me levantasse antes de começar a chorar. Disse que eu tinha uma inflamação no ciático, que tomaria uma injeção de corticóide e tomaria uma analgésico narcótico (o mesmo que tomara em crises renais) para aguentar a dor até que saísse o resultado da ressonância e eu o levasse ao profissional de coluna que já me atendera durante a pandemia.

Passei 4 dias sem poder sentar. Até num evento de dia das mães planejado (só fui porque era dia das mães, qualquer outro estaria cancelado), passei mais de 3 horas em pé, seguido por um intervalo de 30 minutos deitada no banco de trás do carro e outro período de 2 horas em pé. 

Como sou a única que dirige aqui em casa e o carro não é automático (não gosto, mas a dor me faz repensar meu gosto), tive que mudar completamente a posição de dirigir para pelo menos cumprir parte das obrigações, mas o arrependimento vem logo em seguida porque meu quadro piora algumas horas depois. Por exemplo, voltei a sentar na terça-feira, mas já na quarta pós-supermercado estava de volta a uma única posição deitada sob pena de muito choro.

Há momentos em que o gelo é tudo na vida, em outros só uma compressa quente resolve. Massagem só pode ser leve, como alguém que toca piano. 

A perna agora também fica dormente do nada, embora esse seja o menor dos problemas. É a dor que é insuportável porque sem fim. 

Ainda no atendimento do sábado, tendo visto que uma caminhada leve me ajudava, perguntei ao médico se poderia fazê-la para não ficar parada. "Só se você quiser uma cirurgia na coluna", ele me respondeu. Hoje eu compreendo o que ele quis dizer. 

Meu resultado só sai na segunda-feira à noite e o médico está marcado para a terça-feira de manhã. Vou descobrir se foi só a intensidade do basquete que fez tudo isso ou se algo mais grave me afetou a coluna daqui a 5 dias, portanto. Até lá, lidar com essa dor incapacitante, que impede de raciocinar, de sentar, de ler, de falar, é algo que ajuda no meu convencimento de anos de que o inferno é por aqui mesmo. 

Se posso deixar um conselho, deixo dois: cuidem da postura corporal e jamais deixem de praticar um exercício de alto impacto para retomá-lo muitos anos depois. É a linha "você nunca valoriza o que tem até ter perdido".

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