quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Apertado

Vez ou outra eu posto nas redes sociais o desgosto, a depressão, a sensação de impotência que me afligem a cada ida ao supermercado. Lembro de algo semelhante ocorrido no fim dos anos 80, ainda criança, mas já consciente das agruras da famigerada carestia.

A grande diferença é que hoje não sou mais sustentada pelos meus pais e sou eu mesma que tenho que lidar com os cálculos cada vez mais cruéis do orçamento doméstico. Não tem sido nada fácil. A gente vai numa semana no supermercado e gasta X. Na semana seguinte, X + 40%. Na outra, X + quase 60%. A conta já não fecha há muito tempo, mesmo eu sendo uma verdadeira caçadora de promoções. Para se ter uma ideia, esta é a principal que faço no Instagram: acompanhar as ofertas das redes mais variadas.

Corta-se daqui, dali e a tesoura começa a ameaçar coisas antes vistas como absolutamente seguras para a classe média e seus devaneios de riqueza, como plano de saúde. TV a cabo, comida fora e outras coisas tidas como extras, ou supérfluas, para usar um termo que minha mãe muito utilizava naquela época e que me deixou com um certo trauma do vocábulo, já sofreram corte praticamente exterminador do orçamento.

E mesmo com tantos cortes, a conta teima em não fechar com a renda atual. Nem a renda de outrora resolveria ante a subida desenfreada de quase tudo, especialmente daquelas coisas tidas como essenciais numa cesta básica. A cada mês, novos cortes não parecem suficientes para "estancar a sangria", expressão que lembra a dor de políticos em passado não muito distante com coisas bem menos importantes.

Se paro para pensar em como pessoas abaixo da nossa renda estão sobrevivendo, a sensação que tenho é de que vou enlouquecer. Estamos arrodeados de pessoas que estão com muita dificuldade de encontrar até o que comer em qualquer dia da semana. Dói no coração.

Essa lembrança/sensação de que toda essa parte ruim dos anos 80 voltou me assombra diariamente. Queria adiantar esta fita logo para o meio dos anos 90. Mas está difícil, quase impossível, especialmente porque agosto parece tem 1.485 dias. 

Que pelo menos a cultura nos salve.

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