O historiador Leandro Karnal, que estará em Natal na quinta-feira para falar sobre felicidade e liberdade no Teatro Riachuelo, foi entrevistado pela Tribuna do Norte no último domingo. Confira abaixo reprodução dessa entrevista exatamente como grafada. Vale a reflexão.
Todo mundo quer ser feliz. Mas é possível ser tão pleno e absoluto quanto a esse sentimento?
A felicidade plena e permanente é uma impossibilidade. Como saberíamos que estamos bem se nunca tivéssemos sentido a falta, a dor e a infelicidade? O prazer da comida só pode vir após a fome. Adão e Eva estavam no Paraíso mas não tinham consciência de que eram felizes e perfeitos. Só o erro, o pecado, fez iniciar a história. Perceberam que estavam nus. Tiveram que administrar a perda dos filhos depois, um por matar e outro por ter sido morto. Luc Ferry diz que o possível é a serenidade e momentos que classificamos como felizes. Sem momentos de perda e de luto, qualquer ideia de felicidade é impossível.
Muita gente quer 'parecer' mais do que realmente 'ser' feliz. A internet tem culpa nisso?
O sentimento é antigo. Em poema clássico, Raimundo Correa dizia há muitas décadas que 'Quanta gente que ri, talvez consigo/Guarda um atroz, recôndito inimigo/Como invisível chaga cancerosa!/Quanta gente que ri, talvez existe/Em parecer aos outros venturosa!' Isso foi escrito bem antes do Instagram. Invejar é essencial à espécie humana. A internet facilitou a comparação e a representação de uma vida pública que pareça feliz. Hoje, parecer, e não ser (no sentido de Maquiavel para os termos) é quase obrigatório.
Você já disse acreditar no trabalho e no sacrifício como caminhos para a felicidade. Mas esses caminhos variam entre pessoas/grupos/classes, etc. Acredita numa ideia objetiva de mérito?
Acredito no mérito sempre. Minha crença na meritocracia me faz defender cotas em vestibulares e outros momentos. Exatamente para igualar os méritos e os esforços. Sem esforço nada ocorre, nada se realiza. Porém, quando eu coloco um atleta profissional ao lado de uma senhora de 80 anos e digo corram e que vença o melhor, a ideia de esforço é problemática. O Brasil não é a Suécia ou a Dinamarca. No mundo ideal, com pessoas recebendo proteínas e boa escola pública, basta dizer: estudem, cresçam e disputem. Isso não é nossa realidade.
Você sempre critica o apego ao 'pensamento mágico'. O que a religião pode trazer de bom e de ruim para as pessoas?
A religião é uma forma de comunicação com o mundo e uma poderosa maneira de organizar o universo. Isso é diferente do pensamento mágico. O pensamento mágico é a crença de que certos rituais conseguem as coisas por si. Isso é ruim e infantil. Exemplo: um grande religiosos, Inácio de Loyola, recomenda que você reze como se o homem não existisse e trabalhe como se Deus não existisse. Isso é religioso e muito produtivo. Magia diz respeito a objetos, ritos práticas que substituem a ação efetiva pela irracionalidade de um objeto. Religião pode ser um desafio para crescer, pensamento mágico infantiliza.
A super exposição das redes sociais seria uma consequência da solidão que acomete as pessoas nesse começo de século?
Sempre fomos solitários. As redes sociais lut contra algo muito antigo. Mas usamos celulares para evitar contatos também: Não quero estar na casa da minha avó e fico olhando o celular. Não tenho força para ficar focado na aula e fico conferindo recados. As redes sociais também são um escudo contra a presença e não apenas uma questão de solidão. Solidão é complexa e eu posso estar sozinho com pessoas e não sozinho sem ninguém ao meu lado. solidão não nasce da matemática mas da consciência.
Os ânimos acirrados pelas polarizações políticas atuais poderão gerar um consenso no futuro, um equilíbrio?
O futuro é sempre abstrato e incerto. A polarização atual preenche um espaço de denegações e ressentimentos muito fortes. A maioria das pessoas necessita odiar porque possui pouca capacidade de amar. Os grupos precisam eleger inimigos para atacar e assim, se integrarem. Levar minha energia para um campo mais fácil do que entender ou debater. Um caminho que não tem equilíbrio.
Como manter uma postura neutra diante de tanta cobrança sobre opiniões, sentenças, posição, etc.?
Ninguém é neutro. Não existe neutralidade. Todo saber é político. O problema é que me cobram opiniões polarizadas e não as dou. Não porque eu deseje agradar a todos, mas porque considero imbecilidade a posição extrema. Gritam que estou em cima do muro quando há serpentes dos dois lados. Querem que eu integre uma das bandas histéricas e acham que quem não berra e insulta deve ser um 'isentão'. Tenho opiniões claríssimas sobre racismo, educação, violência contra a mulher, ditadura, e cidadania. Nunca mudei estas opiniões. Mas quando pensamos e analisamos a fundo, vejo maus contradições nos polos que se atacam do que virtudes.
Em seu recente livro com a Monja Coen, você aponta uma atitude mais pacífica perante a sociedade. Como atingir esse conhecimento sem recair no conformismo?
Minha serenidade não é conformidade. Minha paz não é aceitação da violência ou da injustiça. Apenas eu preciso, antes de todos, ter tranquilidade para denunciar e criticar e não entrar em um jogo de ódio. Ninguém pensa gritando e ninguém raciocina com insultos. Quem fica dando apelidos aos outros mostra sua dor, seu ressentimento, sua inveja e seu fracasso. Insultar e classificar são estágios anteriores ao pensar. A serenidade é uma meta. Nem sempre consigo.
Torcedor americano: Burra Preta, AVC, ab6, abC, chiqueirão, lamão, funerária, time de preto, etc. Isso é o quê Leandro Karnal? Ressentimento, sua inveja e seu fracasso. Kkkkk
ResponderExcluirTorcedor abecedista: paquitas,japecanga, etc. Karnal? Idem!
Falar em liberalismo no Brasil é egoísmo ou imaturidade.