quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Ódio em domicílio

"Duas décadas atrás, celebrava-se a perspectiva de expansão da democracia oferecida pela informação em rede. Hoje, a palavra internet é cada vez mais associada à expressão 'cultura do ódio'."

A frase foi proferida por Demétrio Magnoli, doutor em Geografia Humana e especialista em Política Internacional. Chegou até mim pela coluna Notas & Comentários, da Tribuna do Norte do último domingo. E é o pior retrato do que se vê nas redes sociais.

Abro o Facebook e o Twitter e perco as contas de quantos comentários são postados com o único intuito de avacalhar alguém. A motivação é variada: pensamento político, cor da pele, time de futebol, orientação sexual, gênero, origem, classe social, aparência física... A lista é enorme, mas poderia ser resumida numa única palavra: intolerância. Mas acho que nem é só intolerância, é também muita, mas muita mesmo, falta de educação. 

Pensamentos divergentes, graças a Deus, sempre existiram. Cara a cara, os que pensam diferente tendem a, pelo menos, começar as discussões num tom de civilidade. No mundo virtual, qualquer discussão é infrutífera. É selvageria demais, intolerância demais e discussão de menos. Não se discute, se agride. Não há persuasão, há uma tentativa insana de cooptação, conversão na marra, algo como ou isso, ou a humilhação.

São perfis e perfis dedicados ao mais puro ódio gratuito. Quer dizer, nem tão gratuito assim. Basta ver as tietes de partido, que atuam claramente com interesse financeiro no resultado da eleição que estiver mais próxima.

Sabem aquelas discussões acaloradas em família? Sinto falta. Num dia desses, rolou uma aqui em casa entre amigos. O tema era Neymar. Depois de muitas vozes alteradas para lá e para cá, terminou todo mundo bebendo e rindo. Isso porque discussão cara a cara é discussão de verdade. Matei a saudade. Virtualmente, parece pregação religiosa para converter pecadores e os livrar do fogo do inferno, não importa de que lado você esteja. Cada lado tem tempo de pensar e pesquisar o que vai digitar, ou seja, ninguém dá o braço a torcer. Ou há um linchamento de um lado só, ou a coisa é mútua.

Esta entrega gratuita de ódio em domícilio tem enchido o saco de muita gente - de novo, graças a Deus. Imagino que o próximo passo seja cada um aprender os velhos bons modos. A selvageria vai diminuir. Aos poucos, vamos aprendendo a ver um comentário idiota e dar-lhe o que merece: desprezo. Nem tudo merece resposta. 

Até porque o contrário de amor nunca foi ódio, mas sim desprezo. Quem muito odeia algo está na verdade se importando demais, devotando tempo demais ao que diz não amar. Não gosta de algo? Despreze. Não alimente o ódio com mais ódio. E da próxima vez que for digitar algo, pense se vale mesmo a pena gastar tanto tempo e energia com aquilo que será propagado. Alivie o tom. Vamos trabalhar por um mundo onde não haja mais entrega de ódio em domicílio.

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