Talvez você nem tenha se dado conta, mas estamos a menos de um ano das próximas eleições no Brasil. E pelo atual momento político e social brasileiro, estas eleições terão grande importância para definir o rumo dos brasileiros até como nação. Mas é preciso ter cuidado.
Primeiro, acho que já passou da hora de reconhecermos que não existe um salvador da pátria. Não há, nunca houve, nem haverá. Não podemos passar a vida em busca de uma autoridade superior que trará soluções mágicas para os problemas nacionais. A última grande decepção neste aspecto, pelo menos para mim, foi Lula e seu Fome Zero, que nunca acabou com a fome dos brasileiros por meio de ações da própria sociedade civil. Antes dele, Fernando Collor e sua caçada a marajás. Acredito que já deveríamos ter aprendido a lição.
Segundo, os políticos sempre serão reflexo da sociedade em que são formados. Sim, eles não são malvados seres alienígenas que de repente pousaram na Terra e escolheram o Brasil como alvo de suas maldades. Se queremos políticos melhores, precisamos melhorar como sociedade. Acolher as regras sem que haja uma evidente fiscalização é um bom inicio. Respeitar filas sem que um ser superior tenha que vir organizá-las (já viu que há umas marcaçõezinhas no chão indicando como a fila deve ser posicionada?) e as regras de trânsito sem necessidade da presença de um guarda ou de fiscalização eletrônica, tudo pelo simples entendimento de que as regras foram pensadas para melhorar a vida de todos, não apenas a do engraçadinho que se acha muito esperto de quebrá-las a seu bel prazer.
Terceiro, estamos sim melhorando como sociedade. As investigações empreendidas por órgãos do Ministério Público e das Polícias Brasil afora (especialmente a Federal) e as sentenças de juízes e os acórdãos de tribunais variados, até superiores, demonstram que cansamos da corrupção. Sim, cansamos. Cansamos de ver fulano embolsar R$ 4 milhões e termos um aluno que desmaia numa escola porque sua última refeição fora um prato de mingau no dia anterior. Estamos fartos de ver beltrano levar R$ 500 mil na galhofa e um hospital ter pacientes estocados nos corredores. Não aguentamos mais assistir a campanhas eleitorais recheadas de dinheiro em busca de salários que não batem com o gasto antecipado.
Quarto, é bem verdade que cansamos dos políticos e suas politicagens. Ficamos estupefatos ao constatarmos o quão baixo esses seres repugnantes podem ir em busca de autossalvação. Mas é aqui que reside o perigo: não podemos desistir de votar. É na urna que temos o protesto mais eficiente. Sem gastar a voz, apenas apertando botões, podemos botar para correr todos os atuais detentores de cargo dos poderes executivo e legislativo, exceto os municipais. Sem necessidade de chamar a polícia, ou de apresentar uma ordem judicial e sem necessidade de uma aprovação prévia por parte dos próprios investigados.
Quinto, sim, vamos dar um chega pra lá monumental. Mas é preciso ficar claro que não buscamos um salvador da pátria e nem vamos eleger apenas anjos, santos ou novos discípulos imediatos de Jesus Cristo. Não. Os novos também terão desvios de caráter. Sempre. Afinal, somos seres humanos, todos passíveis de erros. Mas certamente os novos entenderão que o país vive um novo momento. Virou mesmo uma página importante de sua história - aquela que dizia que adoramos políticos do tipo "rouba, mas faz". Saberão que, de maneira geral, Ministério Público, Polícias, Tribunais de Contas e até o Poder Judiciário não atuam mais como simples engavetadores, de olhos fechados para os crimes de privilegiados, com cada vez mais raras exceções. Pensarão duas vezes em se apropriar de recursos públicos. Certamente dosarão a sede que os leva ao pote.
Sexto, e o mais importante e que complementa o primeiro ponto: precisamos entender que a solução não vem de cima, mas de baixo. Qualquer transformação começa assim. O cozimento que transforma ingredientes crus em comidas saborosas começa por baixo. A sociedade brasileira também se fortalece embaixo. Começamos em nossas casas. Depois nas ruas. Nas redes sociais. O Brasil fervilha. O Messias somos nós. Nós vamos mudar o Brasil. Nós vamos seguir as regras. Nós vamos dar o exemplo. Nós decidimos dar os passos iniciais para as mudanças.
E como somos fortes assim! Derrubamos imperadores, ditadores, inclusive os que vestiam farda militar, presidentes. Nós, que não aceitamos parlamentarismo porque queremos nós mesmos escolher cada um de nossos governantes. Nós, brasileiros do Norte, Nordeste, do Centro-Oeste, do Sudeste e do Sul. Ricos e pobres. Negros e brancos. Homens e mulheres.
Então, coloquemos tudo no seu devido lugar. Não queremos ninguém determinando nossos destinos. Comecemos desde já a deixar o Brasil como queremos. Vamos fazer valer a Lei da Ficha Limpa. E assumamos o compromisso de votar em candidatos que não estejam impregnados das velhas práticas. Nada de salvadores da pátria. Nada de voto de protesto no candidato mais engraçado, ou mais lunático. Nem, principalmente, anulando voto ou faltando à eleição. A hora da faxina está chegando. Arregace as mangas e faça sua parte para que o Brasil siga de vez o rumo que sonhamos. O Brasil tem jeito. Mas não há mágica: a solução somos nós que aplicaremos a cada outubro eleitoral enquanto vida houver.
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