quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Álcool e verdade

Escutar os áudios de Joesley Batista e seu comparsa delator produziram em mim as mais variadas sensações - asco, raiva, tristeza e por aí vai. Para completar, o áudio anda acompanhado no noticiário pela vergonhosa foto de R$ 51 milhões de pura corrupção em caixas e malas estocadas num apartamento vazio. O desvio de um deputado apenas. Agora imaginem quanto já não foi gasto e quantos mais não foram desviados por tantas outras autoridades por aí. Dá um embrulho no estômago só em pensar nos vergonhosos corredores do Hospital Walfredo Gurgel, no propalado déficit da Previdência, nos rombos das contas públicas. A crise é mesmo responsável pela falta de dinheiro dos entes públicos ou esses verdadeiros abutres organizados em partidos de fachada é que seriam os responsáveis por termos menos investimento onde importa (saúde, educação e segurança)? Não preciso responder.

Sobre o bandidão Joesley, uma certeza: nunca o consumo de bebida alcoólica foi tão comemorado pela sociedade brasileira. Sim, pois, como se diz por aí, quando o álcool entra, a verdade sai. Depois de tantas doses, o cara que saiu do zero para ter a maior empresa do mundo no ramo de carnes de 2002 para cá a custa de tantas propinas que saíram de nossos bolsos revelou sem o menor pudor seu sórdido plano para entregar seus comparsas políticos e sair praticamente impune do episódio. Provavelmente, o embotamento dos seus sentidos, típico efeito das bebidas alcoólicas, fez com que ele nem lembrasse que estava a testar o equipamento em que gravaria suas negociações sujas. Aí a Polícia Federal pediu o aparelho para fazer perícia, o que revelaria mais áudios. O Supremo Tribunal Federal julgaria o prazo para novas provas. No limiar de perder tudo, foram-se os anéis e os dedos: os advogados entregaram até a infame gravação - para o bem da sociedade, diga-se de passagem.

Está tudo lá: o procurador auxiliar corrupto, a certeza de Joesley de que era muito mais esperto do que Janot e o Ministério Público Federal, a revelação de que de 30 traquinagens (termo por ele usado para se referir aos crimes) de sua empresa, ele só entregaria 20, como ele pressionaria ministros do STF (segundo ele, já tinha 2 na mão) com a ajuda do ex-Ministro da Justiça José Eduardo Cardoso (que atuou como advogado da ex-presidente Dilma Roussef no impeachment). A cada passagem, uma nova revelação. Ele chega mesmo a dizer que vai anunciar na empresa que ninguém será preso: nem ele, nem diretor algum.

O Brasil bem que merecia que tudo ficasse devidamente comprovado. Mas aí eu recebo a Tribuna do Norte de hoje e vejo estampado na capa: "Janot obteve informação prévia, afirmam delatores". A intenção é clara de desmoralizar o Procurador Geral da República, não bastasse a realidade de que os áudios já o colocaram como verdadeiro ludibriado. Talvez a TN não saiba que a delação não chega pronta. Até sair para homologação, ela é sim negociada entre as partes. Obviamente o procurador saberia dela antes de sua oficialização. Mas a manchete deixou um que de algo ilícito de Janot. Talvez seja desconhecimento jurídico. Oremos.

A verdade é que a cambada de bandidos que se diz representante do povo e que se vê às voltas com a corajosa atuação do MPF e da PF nos últimos anos anda doidinha para "estancar a sangria" que a Lava Jato vem provocando. 

Déssemos umas boas doses de álcool a muitos dessa corja, veríamos lindos discursos caindo por terra de um lado e de outro. Aí talvez acordássemos para a realidade de que a lei deve ser sim para todos, não só para os outros, como parece ser o lema de muitos cidadão brasileiros no dia a dia das ruas deste país.

2018 é logo ali. Vai escolher a dedo seus representantes ou vai preferir pagar a conta de muitos milhões diariamente desviados por políticos/bandidos profissionais? Se escolher a primeira opção, é bom começar a se informar desde já sobre a bandidagem. Caso contrário, deixe que as musiquinhas e peças de marketing da época da eleição e que são pagas com o seu dinheiro decidam por você.

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