Se o Wall Street Journal jogou a auto estima brasileira lá para cima ao indicar o Real como a moeda a ser adquirida como melhor saída para quem quer fugir dos prejuízos trazidos pela Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia), logo em seguida The New York Times deu uma lenhada segura nela.
O maior jornal do mundo publicou um artigo com o título "Brazil's Olympic Catastrophe", cuja tradução se encontra no título desta postagem. Nele a brasileira Vanessa Bárbara, colaboradora do jornal americano, colunista do Estadão e editora do website A Hortaliça, desceu o pau no caos em que se encontra o Rio de Janeiro a poucas semanas do início dos jogos.
O artigo começa afirmando que "é oficial: a Olimpíada do Rio é um desastre não natural".
Ele então descreve todas as desgraças que a jornalista presenciou no Rio no dia 17 de junho, há duas semanas, ou a 50 dias do início dos jogos olímpicos.
A lista é grande: desde o estado de calamidade pública até a crise financeira que impede que a cidade cumpra os compromissos com os jogos olímpicos e paralímpicos.
Aliás, sobre o estado de calamidade pública, o artigo traz que "essas medidas são normalmente tomadas por causa de terremotos ou enchentes. Mas a Olimpíada é uma catástrofe feita pelo homem, previsível e evitável."
O ritmo das obras passou a impressão - veja bem, a 50 dias dos jogos - de que os jogos serão realizados apenas em 2017. Nenhum trabalhador consultado sabia dizer qual instalação olímpica estava em construção. A resposta era uníssona: "É para a Olimpíada". A ruma de tijolos e canos espalhados pela cidade transformaram o Rio num imenso canteiro de obras, impressão que eu confirmo porque lá estive na última quinzena de maio.
A coitada da jornalista ainda se preocupou em pedir ao escritório de imprensa da Rio 2016 um tour pela cidade. Mas, em suas palavras, ela foi "olimpicamente ignorada".
Num dos canteiros - especialmente o que será o Parque Olímpico Deodoro - ela entrou à vontade no meio das ferragens porque tudo estava abandonado em plena tarde da sexta-feira.
Dos poucos projetos terminados, um desabou: a ciclovia Tim Maia. Duas pessoas morreram.
A arena de vôlei de praia sofreu com as tentativas frustradas de licenciamento ambiental e danos causados pelas ondas. Depois da construção de uma barreira, agora são os bandidos que dão as caras por ali. Um homem esfaqueado foi encontrado pelos trabalhadores. Segundo o artigo, "os ladrões estão tão à vontade que deixaram suas mochilas e uma cadeira de praia por ali".
Quanto à segurança, reportagens locais são conta de 20 disputas territoriais envolvendo traficantes em 20 bairros do Rio. 43 policiais foram assassinados só neste ano e pelo menos 238 civis foram mortos pela polícia. 76 pessoas foram atingidas por balas perdidas, das quais 21 morreram.
O artigo chega a relatar o ataque de 20 homens armados até com granadas ao maior hospital público do Rio para libertar um dos chefes do tráfico no dia 19/06.
Sobre informações turísticas, a repórter brasileira, obviamente fluente em português, gastou meia hora na central do metrô apenas tentando entender qual ônibus deveria pegar para o Parque Olímpico. Não havia funcionário na cabine de informações. Um vendedor de pipoca e alguns transeuntes ajudaram-na.
As dívidas assustam. O estado do Rio de Janeiro deve mais de R$ 21 bilhões ao governo federal e R$ 10 bilhões a bancos públicos e fundos internacionais. O orçamento deve sofrer uma queda de R$ 5,5 bilhões neste ano. Já houve um empréstimo de R$ 860 milhões para ajudar a cobrir os gastos com segurança durante os jogos.
A Zika é outra desgraça. 150 médicos e cientistas de vários lugares do mundo já pediram ao Comitê Olímpico que ou adie os jogos, ou os leve para outro lugar. Alguns atletas anunciaram que não vão participar da Olimpíada, como o jogador de golfe número 1 do mundo Jason Day.
Mas aí o artigo pegou pesado: de acordo com um cálculo divulgado por brasileiros, no Rio, o risco de uma mulher ser estuprada é 10 vezes maior do que ser infectada com o vírus da Zika. No caso dos homens, o risco de ser assassinado com um tiro é maior.
O prefeito Eduardo Paes não escapou incólume. O artigo lembrou de uma piada sua numa entrevista para a TV em 2012: "A Olimpíada é um pretexto maravilhoso; eu preciso usá-la como desculpa para tudo. Agora tudo que eu precisar fazer, farei por causa da Olimpíada. Algumas coisas até podem estar relacionadas aos jogos, outros não têm nada a ver com eles."
A repórter então mostrou como a estratégia do prefeito está errada, dando como exemplo a favela Providência. Lá, os habitantes queriam saneamento. A prefeitura gastou R$ 22 milhões no local construindo um teleférico.
O custo da Olimpíada está estimado em R$ 12 bilhões, mas sem incluir as isenções de tributos para quem organiza os jogos, os custos de instalações temporárias e as indenizações de famílias por desapropriações para a construção olímpica.
Agora vamos todos dormir com um barulho desse.
Faltam 33 dias para a Rio 2016.
O maior jornal do mundo publicou um artigo com o título "Brazil's Olympic Catastrophe", cuja tradução se encontra no título desta postagem. Nele a brasileira Vanessa Bárbara, colaboradora do jornal americano, colunista do Estadão e editora do website A Hortaliça, desceu o pau no caos em que se encontra o Rio de Janeiro a poucas semanas do início dos jogos.
O artigo começa afirmando que "é oficial: a Olimpíada do Rio é um desastre não natural".
Ele então descreve todas as desgraças que a jornalista presenciou no Rio no dia 17 de junho, há duas semanas, ou a 50 dias do início dos jogos olímpicos.
A lista é grande: desde o estado de calamidade pública até a crise financeira que impede que a cidade cumpra os compromissos com os jogos olímpicos e paralímpicos.
Aliás, sobre o estado de calamidade pública, o artigo traz que "essas medidas são normalmente tomadas por causa de terremotos ou enchentes. Mas a Olimpíada é uma catástrofe feita pelo homem, previsível e evitável."
O ritmo das obras passou a impressão - veja bem, a 50 dias dos jogos - de que os jogos serão realizados apenas em 2017. Nenhum trabalhador consultado sabia dizer qual instalação olímpica estava em construção. A resposta era uníssona: "É para a Olimpíada". A ruma de tijolos e canos espalhados pela cidade transformaram o Rio num imenso canteiro de obras, impressão que eu confirmo porque lá estive na última quinzena de maio.
A coitada da jornalista ainda se preocupou em pedir ao escritório de imprensa da Rio 2016 um tour pela cidade. Mas, em suas palavras, ela foi "olimpicamente ignorada".
Num dos canteiros - especialmente o que será o Parque Olímpico Deodoro - ela entrou à vontade no meio das ferragens porque tudo estava abandonado em plena tarde da sexta-feira.
Dos poucos projetos terminados, um desabou: a ciclovia Tim Maia. Duas pessoas morreram.
A arena de vôlei de praia sofreu com as tentativas frustradas de licenciamento ambiental e danos causados pelas ondas. Depois da construção de uma barreira, agora são os bandidos que dão as caras por ali. Um homem esfaqueado foi encontrado pelos trabalhadores. Segundo o artigo, "os ladrões estão tão à vontade que deixaram suas mochilas e uma cadeira de praia por ali".
Quanto à segurança, reportagens locais são conta de 20 disputas territoriais envolvendo traficantes em 20 bairros do Rio. 43 policiais foram assassinados só neste ano e pelo menos 238 civis foram mortos pela polícia. 76 pessoas foram atingidas por balas perdidas, das quais 21 morreram.
O artigo chega a relatar o ataque de 20 homens armados até com granadas ao maior hospital público do Rio para libertar um dos chefes do tráfico no dia 19/06.
Sobre informações turísticas, a repórter brasileira, obviamente fluente em português, gastou meia hora na central do metrô apenas tentando entender qual ônibus deveria pegar para o Parque Olímpico. Não havia funcionário na cabine de informações. Um vendedor de pipoca e alguns transeuntes ajudaram-na.
As dívidas assustam. O estado do Rio de Janeiro deve mais de R$ 21 bilhões ao governo federal e R$ 10 bilhões a bancos públicos e fundos internacionais. O orçamento deve sofrer uma queda de R$ 5,5 bilhões neste ano. Já houve um empréstimo de R$ 860 milhões para ajudar a cobrir os gastos com segurança durante os jogos.
A Zika é outra desgraça. 150 médicos e cientistas de vários lugares do mundo já pediram ao Comitê Olímpico que ou adie os jogos, ou os leve para outro lugar. Alguns atletas anunciaram que não vão participar da Olimpíada, como o jogador de golfe número 1 do mundo Jason Day.
Mas aí o artigo pegou pesado: de acordo com um cálculo divulgado por brasileiros, no Rio, o risco de uma mulher ser estuprada é 10 vezes maior do que ser infectada com o vírus da Zika. No caso dos homens, o risco de ser assassinado com um tiro é maior.
O prefeito Eduardo Paes não escapou incólume. O artigo lembrou de uma piada sua numa entrevista para a TV em 2012: "A Olimpíada é um pretexto maravilhoso; eu preciso usá-la como desculpa para tudo. Agora tudo que eu precisar fazer, farei por causa da Olimpíada. Algumas coisas até podem estar relacionadas aos jogos, outros não têm nada a ver com eles."
A repórter então mostrou como a estratégia do prefeito está errada, dando como exemplo a favela Providência. Lá, os habitantes queriam saneamento. A prefeitura gastou R$ 22 milhões no local construindo um teleférico.
O custo da Olimpíada está estimado em R$ 12 bilhões, mas sem incluir as isenções de tributos para quem organiza os jogos, os custos de instalações temporárias e as indenizações de famílias por desapropriações para a construção olímpica.
Agora vamos todos dormir com um barulho desse.
Faltam 33 dias para a Rio 2016.
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