sexta-feira, 22 de julho de 2016

O mistério, a revelação e a provocação

Foi Celso Teixeira na sua primeira passagem pelo América (não vou lembrar se foi em 2002 ou 2003, mas foi por ali no início dos anos 2000) que inventou o treino fechado. Minto. Na verdade, Celso não fez treino fechado; ele fez um treino aberto com o América todo modificado para enfrentar o Náutico. Após vencer a partida, ele revelou que sabia que um espião do Náutico assistia ao treino no CT e por isso botou um 3-5-2 com muitas modificações. Na hora H, escalou o time de sempre.

Quem botou pra frente mesmo o treino fechado no RN foi Roberto Fernandes em 2012. Na época, a chiadeira foi grande. Afinal, aquilo mexeu com o emocional do então comandante do ABC Leandro Campos e, por tabela, a imprensa bateu forte na decisão do comandante americano.

Provada a efetividade, a depender do treinador, o treino fechado virou quase uma constante. A chiadeira depende de quem fecha. 

No ABC, por exemplo, muitas vezes a determinação partiu da diretoria, chateada com a vantagem americana nos últimos clássicos, especial no Frasqueirão. Nunca ouvi 10 palavras da imprensa reclamando disso. Já no América...

Agora, por exemplo, o mistério partiu do técnico Geninho. Fechou o treino de ontem e já avisou que fechará o de hoje. Nenhuma crítica. Tudo absolutamente normal. Eu, que sou torcedora, mas não sou injusta, acho absolutamente normal que um treino seja fechado por semana. Ou que, em ocasiões especiais, como num clássico, todos os treinos táticos sejam fechados. Faz parte da concentração dos jogadores e pode sim trazer alguma surpresa.

Diá, como sempre, prefere a revelação. Confia no seu esquema tático e sabe que, com as filmagens de hoje em dia, dificilmente sairá algo realmente surpreendente de um treino fechado. Até porque um time deve ter um jeito de jogar. Modificar esse formato a cada partida, coisa que Ruy Scarpino fazia por aqui em 2008, termina por prejudicar a equipe. Uma dica ou outra de marcação ou ataque resolve. 

Ademais, os treinadores estarão presentes na beira de campo e podem falar com suas equipes durante o jogo. Logo, o segredo funciona taticamente por 15 minutos se o técnico adversário percebe bem o jogo. Se não percebe, aí sim a vantagem é interessante.

Mas Diá foi mais longe e tascou uma declaração que soou como provocação: "Meu treinamento é aberto. Eles filmaram meu jogo lá [a câmera da Arena das Dunas flagrou dois rapazes gravando o jogo América 1x1 Remo na última rodada, que ficaram com um sorriso amarelo com o flagra]. Se eu soubesse que treino fechado ganha jogo, eu fechava."

Neste ano, o ABC venceu 2 clássicos, o América venceu 1 e houve um empate. Na Série C 2016, a vantagem é do América, que venceu o primeiro confronto, disputado na Arena das Dunas. 

No quesito treinador, Diá venceu duas vezes o ABC de Geninho neste ano pela Copa do Nordeste.

Já o último clássico no Frasqueirão terminou num sonoro 4x0 para o ABC. 

Ou seja, há números para todos os gostos. Mas o mistério, a revelação e a provocação apenas provam como esse jogo tem uma carga de pressão maior do que a normal. 

Quem resistirá?

Um comentário:

  1. Quer dizer que nos dias de hoje, com o jogo sendo transmitido para todo o Brasil, ainda tem clube que vai filmar o jogo in loco? É cada uma.
    ADAIL PIRES

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