Hoje caminhando pelo centro da cidade, passei pela Pizzaria Reis Magos, ainda ali na esquina da Floriano Peixoto com a Jundiaí, e me lembrei da inocência de outrora.
Sim, já foi o maior evento da semana comer uma pizza da Reis Magos no domingo. Tempo esse em que milagrosamente as pizzas vinham com um único sabor - simples, como a Portuguesa, agradavam em cheio - e todo mundo se satisfazia com uma única fatia.
Não havia refrigerante que não viesse em garrafa (ou casco, quando vazio),qsimples e longe do atual KS.
Tempo em que se passava a semana inteira combinando uma ida ao cinema, com tela grande de verdade, tanto que Rio Grande e Nordeste tinham dois andares enormes para melhor aproveitar a imensidão. Pobres cinemas atuais com suas telinhas.
E ir à cidade era ir ao centro. Não havia esse trânsito caótico de hoje. Mas os ônibus continuam iguaizinhos no desconforto. Mamãe quase todo dia arranjava o que fazer na cidade. Lá íamos nós e ainda com direito a bater o ponto na casa de meus avós, minha segunda casa mesmo.
Falar ao telefone (o que muitas vezes significava procurar o orelhão mais próximo) só o necessário. Aliás, linha telefônica em casa ficava para os ricos. De tão caras, elas eram alugadas. Vejam só!
Ali no centro outro passeio era ir à sorveteria. A Beijo Frio era a melhor. Sempre tomava doce de leite com creme (que depois passou a vir com passas) e cobertura de marshmallow. Típico de um sábado.
Adorava as castanhas caramelizadas ou o milho cozido/assado que meu avô sempre me trazia quando vinha do Café São Luiz, ali pertinho da Lobrás (Lojas Brasileiras - claro, concorrente das Lojas Americanas, das Pernambucanas). Aliás, encontrar vovô no Café São Luiz era certeza de sair com uns trocados para comprar qualquer besteira. Uma festa!
E aí foram chegando os shopping centers. Primeiro, os CCABs. Depois o Cidade Jardim. O Hiper Bompreço da Prudente (quem não lembra da boneca gigante na qual podíamos entrar para ver um corpo humano por dentro ou dos golfinhos de Miami [imaginem se eram de lá mesmo] - todos no estacionamento do Hiper?). O golpe de misericórdia veio com o Natal Shopping e seu cinema. Pelo menos o Midway Mall nos levou um pouco de volta para aqueles lado, embora ainda longe do centro.
Enfim, acabou a inocência. Hoje é tudo individual. O sorvete é você quem bota como quiser. Telefone, um para cada. Ou mais de um. Carro, um para cada. Uma sala de cinema para cada filme. Uma pizza para cada. Ninguém nem pede mais pequena ou média - agora é tudo gigante. Até assalto agora é um para cada.
Ficaram apenas as lembranças de quando sentar na calçada e discutir as novelas era o programa de quase toda noite. De quando a família tinha uma só televisão. De quando só existia o mundo real para se viver. Mesmo que esse mundo estivesse envolto numa enorme aura de inocência.
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