quinta-feira, 17 de abril de 2014

A estreia de Fernando Henrique e a Série B

Nem venham me dizer que a estreia de Fernando Henrique aconteceu contra o Potiguar. Dois times 100% modificados não servem de parâmetro. Ali foi um treino de luxo. A estreia de Fernando Henrique aconteceu mesmo contra o Globo. Fogueiríssima. Enfrentar um gramado (?) daquele com a péssima iluminação do Barretão (parece que é feita para ofuscar a visão e não para iluminar o gramado) não é mole. Ainda mais numa final. Tudo isso numa estreia. Não é fácil.

Por isso tudo eu preferia Dida. Entrosado e com muito mais ritmo de jogo. Mas Oliveira Canindé preferiu Fernando Henrique. E este não comprometeu o resultado, apesar das reclamações de Cléber sobre o silêncio do goleiro em alguns lances.

Fernando Henrique mostrou um fundamento importante num goleiro e que, pelo menos até a contusão grave deste ano, fazia falta em Andrey - um potente tiro de meta. A bola chega a cair na intermediária do adversário. Dida também tem esse fundamento, mas não com a potência que Fernando Henrique revelou ontem. Parece um nada, mas já conversei com um preparador do América em 2008 e ele me fez ver a importância disso. Goleiro com tiro de meta fraco atrai o adversário porque a bola sempre cai ou na linha divisória ou até antes dela, ainda no seu campo de defesa.

Aliás, amigos, opino sobre goleiros porque sempre gostei de acompanhar os treinamentos do América atrás do gol (quando me permitiam), conversei muito com preparadores de goleiro e aprendi demais sobre a posição. Um goleiro que fala é fundamental. Ele consegue corrigir posicionamentos durante a partida, inclusive falhas de posicionamento impostas pelo treinador. Afinal, ele é o único que vê todos os jogadores à sua frente, tantos os seus companheiros como os adversários. Assim Fabiano nos salvou em 2008.

Os anos de futebol por exemplo já me tiraram a ilusão ainda compartilhada pela maioria dos torcedores de que existem jogadores perfeitos. Não existem. Nem na seleção brasileira, nem no Barcelona, nem no Real Madrid. Existem características e características.  Lateral ótimo no ataque não marca bem. Lateral que marca bem não ataca bem. Atacante que se movimenta muito não tem boa mira. Atacante com boa mira não se movimenta bem. Quem tem boa bola parada é apenas razoável com a bola rolando. Goleiro que tem boa saída por baixo normalmente não sai bem por cima. Goleiro mais baixo é muito ágil. Goleiro alto é lento. E por aí vai. É preciso verificar quais são as necessidades de cada time para saber quem é melhor para cada posição, mas ninguém é perfeito ou infalível.

Sempre achei Dida um goleiro com muito potencial. Primeiro, ele quebra uma dessas ditas verdades acima. Ele é alto, mas não é lento. Mas se encaixa na verdade de que quem tem boa saída por baixo é o contrário por cima. Isso não é defeito, é característica. Fabiano, grande ídolo do América nos três acessos de 2005, 2006 e 2011 tem a mesma característica, só que com bem menos altura. Dida evoluiu do ano passado para cá. Fez um estadual em 2013 quase perfeito. Quase, porque sofreu aquela tragédia na final do Barretão. 

Foi jogado aos leões por Roberto Fernandes duas vezes. Daí a cisma de parte dos torcedores. A primeira após CRB 4x2 América pela Série B de 2012. Por falta do que falar para justificar a derrota de sua equipe, Roberto Fernandes fez o que sempre fez muito bem: transferir responsabilidades. Disse que havia chegado a hora de Galatto ser titular. Assim, através da imprensa. E o que Roberto Fernandes fez de verdade? Manteve Dida, só esperando os apupos da torcida. Na partida seguinte, a intranquilidade que pesava sobre o jovem goleiro, que atuava sob o peso de uma guilhotina apontada para seu pescoço prestes a cair ante a entrevista do comandante, se fez sentir quando aplicou um golpe de MMA num jogador do Ceará dentro da área. Aquele pênalti determinou o resultado. E Dida foi achincalhado, como era de se esperar ante as palavras do treinador.

A segunda, após a falha no Barretão. O América enfrentou o Potiguar 4 vezes, sendo 3 seguidas até ali. 1 jogo em Goianinha (única vitória), 2 jogos em Mossoró e o último no novo estádio (?) porque anteciparam a ida para Ceará-Mirim. Dida só falhou em um jogo no estadual: o último. Por volta dos 30 minutos do 2.º tempo. Mas a equipe de RF não teve mais forças para achar um gol. Nem mesmo nas cobranças de pênaltis (Itamar, goleador, perdeu). A culpa, como entrou para a história, foi única e exclusivamente de Dida, coitado. E Roberto Fernandes sacou o goleiro na Série B para arriscar vários resultados (como de fato ocorreu) com Rodrigão, uma piada que andou por aqui como há tempos não se via.

Para Roberto Fernandes, exemplo de goleiro era Bruno Fuso, sua indicação para o Abc. Dá para confiar? Diga-se de passagem que a ótima contratação de Andrey na Série B do ano passado deve-se 100% ao presidente Alex Padang. Roberto Fernandes não o queria no América; preferia outro goleiro. Quem sabe não era Bruno Fuso? Foi Padang que fez valer seu conhecimento e sua autoridade para trazer Andrey para o Mecão.

O América indiscutivelmente está bem servido de goleiros. Andrey, Dida e Fernando Henrique suprem bem as necessidades do clube numa Série B. Mas dos 3, Dida está em melhor fase, é o que mais compreende a grandeza do América e o que revela mais potencial para encher os cofres do clube. Mas por ser o mais humilde dos três (certamente esta não é uma característica do ótimo Andrey, que, à la Fabiano, já fez beicinho por ficar de fora, mesmo voltando de lesão), é o escolhido para ser o reserva do reserva. Até por minha profissão, não consigo engolir essa injustiça. Preciso compartilhar o que penso a respeito, mesmo sabendo dos fortes ataques de quem pensa o contrário. Mas se é da minha essência falar o que penso, o que posso fazer? Que chovam críticas, então!

Outra coisa: a Série B começa no sábado. Oliveira Canindé vai ficar aguardando Andrey sentir ou não sentir o joelho, ou já fechou questão de que seu titular será Fernando Henrique? Goleiro é a posição que mais sofre com a falta de ritmo. Dida é o que está melhor, mas não vai jogar, como já ficou claro. Andrey não sabe o que é isso desde a grave lesão nos dois joelhos. Fernando Henrique agora que começou a buscar o ritmo ideal. Vamos ter mexida de novo no gol? Acredito que Andrey volta. Mas ele está 100%? Oliveira Canindé só deve escalar Andrey se essa for a sua condição. Do contrário, deixe Fernando Henrique porque esse troca-troca não faz bem ao América como um todo. E teremos longas 38 rodadas pela frente para buscar o sonho de voltar à Série A e de nos afastarmos o quanto antes da Série C. Não podemos dar sopa para o azar na saída. É hora de estabilidade.

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