Machucada como nunca, a torcida do América está, com razão, muitíssimo ressabiada com o elenco atual e a diretoria, mesmo sendo gente com histórico de sucesso dentro de campo.
É que esse filme parece demais com os anteriores. Troca-se tudo porque o clube se enfiou numa crise de resultados e financeira e é a torcida que mais uma vez precisa carregar o clube nas costas, logo ela, sempre tão maltratada em todos os outros momentos.
Para piorar, o conselho deliberativo do clube resolveu não discutir qualquer alteração no estatuto do clube para não dar vez ao voto para sócias(os) torcedoras(es). Escolheu-se um novo estatuto quase no uni-duni-tê (quase, porque o escolhido dentre os projetos foi justamente o único que vetava o voto para esta categoria de pessoas associadas).
A crise varre as estruturas do clube como nunca antes pelo que me parece. Nunca o número de pessoas associadas foi tão baixo, reflexo da campanha inflamada (e com razão) da torcida #SemVotoSemSócio, turbinada por uma pandemia descontrolada que impede público nos estádios há mais de ano.
A luta de Alex Padang, Clovis Emídio, Hermano Moraes e Paulinho Freire, todos a favor da inclusão do voto para a torcida associada, tem sido encampada em dois pontos, pelo que afirmam: possibilitar as condições para que o América enfim se torne democrático com as devidas discussões e o trâmite esperado para a fundamental e almejada mudança, com conclusão esperada para 2022, e colocar em campo, já nesta Série D, um time/elenco empenhado em resgatar a alma que se esvaiu completamente contra o Campinense no último domingo.
É fato que ninguém aguenta mais ilusão. Ninguém aguenta mais ser chamado para financiar um projeto que parece ser definitivo, mas que vai se encaminhar para afastar ainda mais a torcida.
No entanto, eu preciso apontar pelo menos 2 bons sinais advindos de atitudes, não de palavras, desse grupo. O primeiro deles é o fato de, aos pouquinhos, conversarem com algumas pessoas da torcida, sejam membros das imprevisíveis torcidas organizadas, sejam torcedoras(es) independentes, para explicar a situação atual e tudo o que pretendem fazer para a saída da crise atual política e financeira, inclusive ouvindo críticas e sugestões com respostas imediatas de forma franca.
O segundo sinal foi a dispensa, ainda não confirmada pelo América, mas já divulgada pela imprensa, como o jornalista Augusto César Gomes, dos jogadores Romarinho e Everton Silva, titulares absolutos que claramente desaprenderam a jogar futebol com a camisa do América. Há aqui um recado claro e muitíssimo necessário pelo que se viu no último jogo ao restante do grupo, especialmente na semana em que um clássico será disputado pelo Campeonato Brasileiro.
O América está sufocado financeiramente por obra e graça de qualquer pessoa, menos da torcida. Quem discordar disso não pode estar bem da cabeça. E a pandemia está se encarregando de dar o tiro de misericórdia num clube que mal consegue manter os olhinhos de fora d'água.
Há de novo, mais uma vez, novamente, um apelo para aquela que SEMPRE carregou o clube nas costas nas situações boas e PRINCIPALMENTE nas situações ruins. Só que ela agora exige um reconhecimento de que as coisas TÊM que mudar. A mudança urge e arrasta cada vez mais gente para lutar por sua concretização. Terá ela a velocidade necessária para reaproximar a torcida antes que a vaca vá de vez para o brejo? Impossível, já que eleição para o conselho deliberativo, onde a mudança será implantada, só ocorre em outubro. Até lá, o destino do América em 2022 pode ter sido selado como muito sombrio, sem série, uma vez que a primeira fase da Série D acaba na primeira semana de setembro. Enfim, é uma verdadeira sinuca de bico.
Não acho que a torcida deva abandonar sua campanha por mudança. Está bem claro que as coisas enfim estão sendo encaminhadas politicamente para onde todas as pessoas que amam o América e projetam sua existência por muitos mais anos para frente querem. É só observar com atenção. A velocidade não é a desejada, mas é a possível. A questão agora é ajustar a campanha com a realidade crítica do clube.
Sugiro que pensem dirigentes e torcedoras(es), especialmente aquelas pessoas que de fato estão empenhadas na campanha #SemVotoSemSócio, em uma forma da torcida abraçar financeiramente o clube nesta Série D sem abdicar do seu movimento, pelo contrário, dando mais voz a ele. E que haja a mais absoluta transparência a respeito da movimentação política no clube para que esses ventos enfim soprem no América. Porque ninguém aguenta mais viver no presente com um olho nostálgico para o passado e agora ainda mais com medo do futuro nem chegar para o Orgulho do RN.