Primeiro, nota-se o desconforto do ator com a desproporcional prótese em sua boca. Isso salta aos olhos a ponto de eu me perguntar se não tinha sido muito preciosismo adicionar algo tão esquisito e que chamava tanta atenção. Temi pelo resto do filme.
Queen e sua face imortal Freddie Mercury passaram a existir para mim com I Want to Break Free, cujo clipe era debochadamente engraçado com um bigodudo de saia reclamando dos afazares domésticos. Essa é a primeira imagem que vem à minha cabeça, ainda de criança de primeira infância, é essa.
Muitos anos depois é que descobri sua fase sem bigode, para mim, um tanto sem graça. O bigode era a cereja do bolo daquela figura teatral, imponente, majestosa mesmo no palco.
Digo tudo isso para voltar ao filme que me fez chorar copiosamente sem que houvesse uma cena com qualquer tom de piedade. Afinal, a rainha Freddie Mercury não combinava nada, nada com qualquer tipo de dó que não fosse a nota musical.
Queen era brega? Era. Mas de uma forma transgressora, sem fórmulas em busca do sucesso, como eles mesmos bem definiram em cena da valorosa biografia Bohemian Rhapsody.
O filme retrata a história da banda enaltecendo aquele que sempre foi responsável por sua personalidade, tanto que hoje o Queen é uma banda sem alma, ou uma alma penada em busca de descanso após a morte de sua identidade.
Mas voltando especificamente ao filme e ao evidente desconforto de Rami Malek com a prótese dentária, se eu achava que aquilo não ia dar certo, o ator me provou que eu não poderia estar mais enganada. Sua transformação ao longo dos 232 minutos de filme é assustadora. Quem é Rami Malek? O ator que eu vira como o faraó Ahkmenrah em Uma Noite no Museu sumiu completamente. É Freddie Mercury que vemos ali. Nos mínimos detalhes. É assustador!
Saí do cinema pensando como Rami Malek conseguiria voltar a ser ele mesmo. Sim, Freddie Mercury encarnou nele e a separação não deve ser tarefa fácil. Como ele se olha no espelho agora? Como Freddie ou como Rami?
Se o filme tem falhas de biografia como fãs apontaram, o que Rami Malek nos apresentou tornou tudo isso muito menor.
E a banda desalmada que tudo já tentou para reencontrar sua essência talvez esteja a cogitar uma turnê com Rami Malek no playback para emocionar ao vivo públicos mundo afora. A especulação é puramente minha, antes que alguém acredite. Mas nessa até eu embarcaria. Afinal, o resultado seria bem melhor do que o visto no último Rock in Rio com Adam Lambert, coitado, que tem talento, mas rainha mesmo, só Freddie Mercury.
Bohemian Rhapsody é daquelas obras obrigatórias. E ponto final.
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