domingo, 23 de dezembro de 2018

Peraí, peraí, peraí

Desde que me embrenhei nessa de escrever sobre jogos do América que eu tento passar bem a experiência da arquibancada para cá. É que sempre me assustei com aqueles folclores do rádio, tipo "A bola tirou tinta da trave" num chute a gol que mais pareceu tiro de meta.

Hoje vivi algo muito semelhante a esses tipos de absurdos na Arena América. Ouvi um narrador dizer que o árbitro de América 1x2 Botafogo-PB acabara o 1.º tempo antes do tempo regulamentar, aos 40 minutos, tendo o árbitro apitado exatamente aos 45 minutos. Alguém da equipe disparou o cronômetro atrasado ou o equipamento estava com defeito.

Depois do jogo, já no carro, ouvi que não havia qualquer perspectiva para o América pelo que havia feito contra o Botafogo-PB. Ao que Janaina não resistiu e comentou: "Por isso que eu digo que o América deveria fechar esse jogo-treino até para a imprensa. Deveria ser só a TV Mecão e pronto." Ela me explicou direitinho por causa de quem toda a imprensa seria prejudicada, mas obviamente não citarei aqui.

Dito tudo isso, vamos ao que vi em campo. Começando pelo que não vi: Alison. Assim que Canindé Pereira passou a escalação, tomei um susto. Cadê Alison? A zaga para enfrentar um Botafogo que joga junto praticamente desde a pré-temporada para 2018 seria formada por 2 garotos da base: Matheus Machado e Jadson. Jadson, originalmente volante, até vinha treinando com o time principal, mas seu companheiro assumiu a "titularidade" hoje. 

O candidato a capitão do time de Luizinho apareceu depois e disse que estava tudo bem. Um pequeno desconforto, normal na volta à atividade física, o tirou preventivamente do jogo-treino.

O time foi então formado com Gledson, Vinícius Pedalada, Matheus Machado, Jadson, Breno; Galiardo, Adenilson, Hiltinho; Fabinho Alves, Adriano Pardal, Max.

O Botafogo foi de Saulo, Israel, Lula, Walber, Charles; Rogério, Carlão, Ronaldo, Clayton; Adalgiso Pitbull, Nando.

Como esperado, todo mundo levou o jogo-treino a sério. O jogo foi duríssimo. Marcação em cima, ninguém perdendo viagem. Uns certos estranhamentos, mas nada mais grave. Galiardo mereceu destaque neste aspecto de não perder viagem. Tanto que foi o primeiro a levar um cartão amarelo pelo conjunto da obra. Houve até dois expulsos: Fabinho Alves na etapa inicial e um jogador do time paraibano na etapa final (vou ficar devendo o nome).

O Botafogo deu um calor danado ao América. Marcou em cima, acelerou o jogo, não deu qualquer chance da defesa americana pensar muito no primeiro tempo. Mas o gol saiu meio na sorte. A Arena América hoje viveu um vento esquisito. Não sei se eu é que não havia reparado nisso antes, mas as quatro bandeiras de escanteio apontavam cada uma para um canto diferente, como se o vento viesse de cima para baixo no centro do campo e de lá se espalhasse nas quatro diagonais, ou seja, em quatro sentidos diferentes. Na arquibancada, até frio passei.

De todo jeito, quando a falta foi marcada onde foi, eu comentei com o pessoal ao lado: "Dali, basta mandar para o meio da área que o vento faz o resto". E assim surgiu Walber no rebote de defesa difícil de Gledson, após chute de Nando (livre), para abrir o placar. Claro que houve um certo cochilo defensivo, mas o vento levou a bola despretensiosamente para onde ela foi de início.

O Botafogo então se sentiu mais à vontade, e o América, claro, mais pressionado. A saída de bola não alcançou o meio de campo como se espera. O América praticamente ficou num 4-2-4 quando estava no ataque, ficando o trabalho de saída de bola pesado, com um buraco no meio e sem muito apoio nas laterais. O lado esquerdo com Breno foi inexistente. O direito com Vinícius mostrava falta de entrosamento. 

Aliás, falta de entrosamento era a bola mais cantada para esse amistoso. Um time tinha de 10 a 12 remanescentes da temporada atual. O outro, 1 (Adriano Pardal). Um time já jogara 90 minutos de amistoso sem qualquer substituição. O outro recebe jogadores a cada 3, 4 dias. Quem esperasse ver entrosamento no América hoje ou é muito inocente ou mal intencionado.

Mas o América soube se virar. E começou a achar Vinícius Pedalada e Fabinho Alves na direita. Por falar em Vinícius, que cobrança de lateral, hein? Um verdadeiro escanteio. Na segunda cobrança, Max, o terror da bola aérea defensiva ou ofensiva, desviou certinho para a bola sobrar para Hiltinho (perdão pela rima). Gol fácil de empate e o primeiro indício do bom trabalho que Luizinho sempre mostra em relação à famosa bola parada.

O segundo gol do Botafogo foi uma vergonha... para a arbitragem. A falta é marcada no meio de campo, quase na bola central, ainda no campo do Botafogo, em cima de Nando. O jogo para, mas a bola sobra mais à frente, mas quase na linha lateral e na linha do meio, para Clayton, que escuta o apito, coloca o pé sobre a bola e já lança na frente para Adalgiso Pitbull, que se livra de Jadson e encobre Gledson. O juiz apitou a falta e permitiu que o jogador cobrasse mais à frente, em sistema de vantagem, mas tendo marcado a falta, sem qualquer sinalização a respeito. Todos os jogadores do América reclamaram do lance cobrado com bola rolando. Ao Botafogo-PB coube a comemoração do lance infeliz da arbitragem. E olha que ainda poderíamos discutir mais uns 4 lances de pênalti não vistos, 3 para o América e 1 para o Botafogo-PB. 

No segundo tempo, o América mostrou-se mais equilibrado com a entrada de Rennan (volante) no lugar de Hiltinho. E a entrada de Adílio (atacante) no lugar de Adenilson terminou sendo responsável por grande oportunidade de empate num lançamento primoroso de Gledson, aí sim com a bola tirando tinta da trave.

Se faltou entrosamento por parte do América, mais chances de gol de ambos os lados e perder é sempre mais frustrante para o dono da casa, sobrou um jogo disputadíssimo até o último segundo de jogo (sim, o árbitro acabou o jogo com o Botafogo num contra-ataque perigoso) e que mostrou ambas as equipes em boas condições físicas. Todo mundo deu 110% em campo. 

Clayton foi o dono do jogo e fez boa parceria com Adalgiso Pitbull. 

No América, prefiro apontar surpresas e o que não gostei. Eu me surpreendi com Matheus Machado e Rennan, que não haviam me deixado boa impressão na Copa do Nordeste Sub-20, mas deram conta do recado hoje. Nando praticamente não se criou na frente do zagueiro, por exemplo. 

Isso, entretanto, não quer dizer que não houve falhas defensivas. Houve. Também algumas individuais, até de Gledson.

Não gostar de não gostar mesmo, eu só não gostei de Breno. Nada fez. Quando fez, fez errado. Mas não dá para sacrificar ninguém no primeiro amistoso/jogo-treino. De todo jeito, eu compreendi por que Luizinho pediu a contratação de Diego Corrêa e agora quer mais um lateral esquerdo. 

Daqui a uma semana, um novo encontro entre as equipes, desta feita no Almeidão. O Botafogo deve ser o mesmo. O América talvez mais próximo do time que estreará no dia 10. Talvez com mais entrosamento. Mas certamente teremos mais um jogo disputadíssimo até o apito final. E mais um proveitoso teste de fogo para os comandados de Luizinho Lopes.

Falta de perspectiva? Peraí, peraí, peraí. O Botafogo disputa o estadual da PB e a Série C. O América, o estadual do RN e a Série D. Ver falta de perspectiva num primeiro amistoso de um elenco totalmente refeito e ainda desfalcado num jogo duro e de placar apertado já soa ilógico. Agora acrescente que esse comentário veio de alguém que narrou o jogo. E aí? Quem será que sofreu de falta de perspectiva? 

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