domingo, 28 de outubro de 2018

Na hora da urna

Mais um dia de festa da democracia. Que dia maravilhoso! 

É bem verdade que não chegamos todos assim tão alegres para votar. Há quem não goste e encare o voto como obrigação. Eu não. Entendo que votar é escolher dentre as propostas de futuro se não a melhor, pelo menos aquela que menos prejuízo trará.

Nosso país ainda tem muita estrada a percorrer nos caminhos da democracia rumo a uma vida melhor para cada um e cada uma de seus cidadãos e suas cidadãs. Mas é só a democracia que pode nos levar de fato até lá. E quanto mais nos envolvemos, quanto mais cobramos, quanto mais fiscalizamos, mais aceleramos o passo rumo ao nosso destino.

Precisamos evoluir como nação, como sociedade. Respeitarmos filas, por exemplo, seria um bom ponto de partida.

Também precisamos de amadurecimento político para deixarmos de cair no conto do vigário de que existe um salvador da pátria a cada quatro anos. Não há. Nós todos somos salvadores da pátria. Nas filas, no trânsito, nas redes sociais. Sempre que implantamos a partir de nós o respeito pelas pessoas e pelas leis que gostaríamos de ver nos outros. Sempre que nos aproximamos da tolerância e nos afastamos dos preconceitos que insistem em nos invadir. Sempre que devolvemos o troco a mais ou apontamos o erro para menos da conta recebida. 

A cada dia, a cada luta, a cada hora, nos tornamos mais humanos e vamos  também transformando a sociedade e a nação.

O voto canaliza essas mudanças. 

Nesta eleição, vimos um mundo mais feio. Fake news e robôs se passando por pessoas com o único intuito de destilar ódio. Se bem que isso talvez não seja de hoje, é verdade. Mas o pior foi que vimos pessoas assumindo a identidade de robôs com o único intuito de destilar ódio. Vimos pessoas aplaudirem discurso que lembra coisas tristes que o Brasil e o mundo viveram num passado nem tão distante assim. 

Mas o povo brasileiro não é de ódio. Somos conhecidos e reconhecidos mundialmente como um povo feliz, amável, hospitaleiro. Gostamos de abraço, de beijo, de festa, de rir alto, de dançar, de comemorar, de brincar. Gostamos de multidões, de gritar gol, de reunir a galera.

Não, isso não combina com discurso que vê coitadismo nas ações que denunciam as agruras por que passam miseráveis, negros, mulheres, índios, gays e todas as outras pessoas apenas por não se encaixarem no perfil do homem branco heterossexual de classe média alta. 

Isso também não combina com discurso que prega uma minoria tem que se adaptar à maioria, ou então desaparecer. 

Isso passa longe de combinar com discurso que aponta todos que não estão com determinado candidato como marginais vermelhos que devem ir para a cadeia ou deixar o país.

Isso também afronta invasões policiais a universidades para arrancar faixas contra o fascismo, a salas de aula para conferir o conteúdo da aula de professores Brasil afora e até a casa de estudantes para conferir o material didático utilizado para estudos.

Isso jamais combinará com tantos episódios de violência registrados por divergência política.

Isso jamais estará em consonância com ameaças a juízes e tribunais, seja com palavras chulas e ameaças de morte individuais, seja com a promessa de que apenas um soldado e um cabo são suficientes para fechar a maior corte do país, a corte constitucional, o STF, guardião maior de nossa Constituição, a Cidadã, portanto, guardião maior de nossa democracia, refúgio último do cidadão contra um Estado que não respeita as leis e o oprime.

Não, o Brasil não é assim. O povo brasileiro não é assim. 

Seguiremos hoje todos para as urnas, tão inexplicavelmente achincalhadas por um dos lados nesta eleição. É ali, na hora da urna, que a expressão de que todos somos iguais se faz mais presente. Ela não quer saber quanto de dinheiro você tem no bolso, se você é loiro, negro, gay, hetero, homem ou mulher, se é gordo ou magro, se comeu fartamente ou se está faminto, se é empresário, funcionário público, prostituta ou biscate, se é religioso ou ateu, se é doutor ou analfabeto. Ela só quer saber dos números que você vai apertar para definir que rumo devemos seguir pelos próximos quatro anos.

É nessa hora que somos todos absolutamente iguais. Valemos o que digitamos. E todos valem a mesma coisa: um voto. Que se soma a outro, e a outro, e a outro, e a outro... Todos assim, sem identificação, sem peso diferente. Todos iguais.

Daí o valor universal do sigilo do voto. E é neste momento quase confessional que muita gente reflete e vota no que lhe parece, ali, naquele momento, mais sensato.

Saímos todos com a boa sensação do dever cumprido e vamos apenas aguardar para saber quantos mais dos nossos irmãos de cidadania fizeram a mesma escolha que nós.

Neste domingo, na hora da urna, não deixe de refletir sobre a importância deste momento e quanto já não lutamos para que ele voltasse a ser garantido a todos os brasileiros num passado nem tão distante.

Há apenas 30 anos temos uma Constituição Cidadã. E esse pouquíssimo tempo já é o maior de nossa história em que a democracia de fato imperou no país. 

Ali, na urna, só você e a máquina, lembre de seu papel fundamental na formação da sociedade, da nação, do país que queremos, e não deixe que ninguém lhe tire também esse papel. Nossa democracia foi forjada a sangue, suor e muitas lágrimas. Não a entreguemos de mão beijada a quem nunca acreditou nela.

Vote. Vote com alegria. Vote com amor. E vote para que esta festa da democracia não seja a última. 

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