quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Choque de gestão

Choque de gestão é expressão que caiu no gosto popular recentemente. Parece querer significar que, onde não havia gestão, agora haverá. Isto é, numa realidade sem gestão, a presença desta provocará uma brusca mudança de realidade.

Também pode ser compreendida como o processo de implantar uma gestão diametralmente oposta à então vigente. Daí o choque: a nova gestão rompe com os conceitos da atual.

Não se sabe se isso é bom ou ruim. Apenas que pretende ser diferente. Normalmente, o discurso de choque de gestão floresce quando não se está satisfeito com a situação atual. Houvesse plena satisfação tal discurso produziria arrepios nos envolvidos. 

Quem bem aproveitou as condições ideais para o apelo do discurso de choque de gestão, pra ficar num exemplo próximo, foi Micarla de Souza, em sua bem-sucedida campanha para conquistar a prefeitura de Natal.  Foi eleita no 1.° turno. Infelizmente para os natalenses, a ideia de gestão que a ex-prefeita tinha conseguiu ser muito pior do que a que outrora havia.

Choque de gestão é uma das bandeiras do futuro presidente do América Beto Santos. Quer implantar a meritocracia no futebol. Prêmios por conquistas já existem há algum tempo. Jogador de futebol hoje não dá um passo sem receber o tal bicho - nome mais ralé para a produtividade. O time venceu? Pinga dinheiro para quem estava no jogo. Empates também, a depender se em casa ou fora. Passar de fase garante mais um dinheirinho. Conquistar um título, um acesso e até fugir do rebaixamento também engordam (e muito!) a receita do elenco. Não sei dizer se a proposta prevê isso mesmo que já existe ou se terá alguma novidade. Talvez tenha, uma vez que Beto disse em entrevista que a produtividade não será medida apenas por conquistas. Talvez preveja prêmios por tantos dias longe do DM, ou ser relacionado tantas vezes para jogos, ou ainda tantos minutos em campo.

O que me preocupa é que o podre mundo do futebol de hoje é dominado pelos empresários e não sei até que ponto o América tem condições de atrair bons jogadores com uma proposta que rompe com o padrão desse mundo cão (não posso afirmar que rompe porque não conheço o padrão a ser implantado; essa é apenas uma especulação). Logicamente não é o salário que define um jogador. E exatamente por isso não dá para contratar alguém apenas porque sua proposta salarial cabe no orçamento. Garimpar bons talentos e com salário compatível é uma tarefa árdua e que exige bons contatos no (sub)mundo em constante movimento do futebol.

Inobstante tamanha preocupação, surge a informação de que Beto pretende colocar Ferdinando Teixeira como supervisor de futebol. Não tenho notícia de algum trabalho de Ferdinando bem-sucedido nesta área. Ficarei grata em publicar por aqui se alguém souber. Além disso, Ferdinando tornou-se altamente identificado com as coisas do ABC nos últimos anos, o mesmo que se deu com Roberto Fernandes em relação ao América. É muita sintonia com os dirigentes rivais para tamanha função numa realidade extremamente passional como a do futebol. É um verdadeiro caso de arranjar sarna para se coçar. Ressalte-se que há algum tempo Ferdinando anda afastado do dia a dia do futebol. 

Por essas e outras, vejo com preocupação esses aspectos no choque de gestão de Beto Santos. É preciso que alguém alerte o futuro presidente de que o América é um verdadeiro caldeirão e que uma mera derrota ou até empate num jogo de estadual podem aumentar rapidamente a temperatura da fervura. Além disso, a torcida anda mais arredia do que de costume. O número de sócios torcedores consegue ser menor do que quando o time jogava em Goianinha e o público que viu o time na Série C foi decepcionante para quem já viu o Machadão lotar várias vezes na Série C de 2005. Fazer um choque de gestão para voltar ao passado pode não trazer o passado glorioso de volta, e sim aumentar o calvário do clube. A torcida mudou. O futebol mudou. O América mudou. 

Nomes como o de Ferdinando e o de Peninha, conforme visto nas redes sociais, trazem um desgaste desnecessário a uma gestão que nem começou ainda e que precisa trazer a torcida para junto do clube em 2016.

Abra o olho, Beto! Série B é prioridade, mas as escolhas de agora determinarão o tamanho da pressão a ser enfrentada já no estadual.

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