quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Além do tempo

Não sou noveleira. Já fui. Vez ou outra surge alguma coisa que atrai minha atenção e resolvo acompanhar alguns capítulos. Só para me arrepender depois e seguir firme no propósito de achar que acompanhar uma novela de uma hora de duração, com uma ruma de propaganda no meio, de segunda a sábado, nos horários mais inconvenientes do dia, é um desperdício inadmissível de tempo. Ressalto que penso exatamente o mesmo sobre futebol na TV. 2 horas são muito tempo para nada. Só assisto algo com total atenção se torço para os times (América, Brasil e USA) e olhe lá. Normalmente, me dedico a ler algo ao mesmo tempo, ou, no mínimo, expresso opiniões a respeito pelo Twitter.

Mas aqui em casa imperam algumas regras. Há uma TV na cozinha e ela está sempre ligada na hora das refeições pelo menos durante a semana. Vai começar violência no jornal? Troco de canal na hora. Não sei em que minha vida vai melhorar sabendo quem arrombou o que e acompanhar em detalhes o puro sadismo de quem focaliza cadávares como quem exibe um prêmio.

A outra é que Malhação não dá. Minha mãe adora. Como não janto em casa todas as noites, ela fica livre dia sim, dia não. Então, na preparação do jantar, a TV fica disponível para mim.

A regra fundamental é que tenho que ficar checando se Além do Tempo começou. Se sim, nada pode perturbar sua exibição. Daí que termino por dentro de toda a estória.

Aliás, deixe-me elogiar esse horário na Globo. As novelas não se arrastam por muito tempo e também não são lengalengas intermináveis. E quando são novelas de época, que arraso! Figurino, cenários conseguem nos transportar mesmo para o ambiente.

Falando de Além do Tempo, a novela já era um encanto por quebrar o clichê da megera que ninguém suporta. A condessa interpretada por Irene Ravache conseguiu conquistar o amor da neta, apesar de todas as crueldades impostas ao filho e à nora. 

Ontem, Além do Tempo quebrou mais um. Houve um fim de fase digno de um fim de novela. De pronto já imaginamos que houve um casamento e até quem não havia descolado nem um olhar durante a novela arrumou um pretendente para o resto da vida na festa. Não, não houve. A megera nem enlouqueceu, nem se matou, nem foi presa no fim. Nem todo mundo foi feliz para sempre. Pelo contrário, a maldade se manteve e até aumentou no fim.

Elizabeth Jhin, autora, teve a coragem que ninguém teve até agora na TV brasileira: matou o casal lindo e jovem protagonista da estória de maneira trágica, diria até cruel. É para ser aplaudida de pé! Nem tudo são flores na vida e esta novela milagrosa conseguiu mostrar isso. De um jeito assustador, mas belo e poético ao mesmo tempo.

Mais: esta é a primeira novela a fazer uma transição de 150 anos. Ou seja, ontem começou uma nova novela com os mesmos atores. Nada de novela de época agora; tudo transcorre nos dias atuais. Eu amei o fim e a transição.

Ainda que a autora venha a me decepcionar agora, tudo que foi feito até aqui já merece meu aplauso - logo eu, que não sou noveleira. Só estou com pena de não ver mais o show que era a iluminação das cenas feita com velas. Um primor.

Elizabeth Jhin ganhou o meu respeito.

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