Leonard e Lowry no título
Imagem: Sérgio Estrada, USA TODAY Sports
Drake no jogo 1 das NBA Finals
Imagem: Garrett Elwood, NBAE, Getty Images
Há tempos eu não acompanhava com afinco os playoffs da NBA. A culpa nem é minha. É que nasci a tempo de ver Magic Johnson, Michael Jordan, Scottie Pippen, Charles Barkley, Larry Bird, Dennis Rodman, e tantos outros que não me atrevo mais a enumerar pela memória, e até mesmo Shaquille O'Neal, Kobe Bryant e Allen Iverson. Ou seja, os novos tempos de Stephen Curry ou The Beard nunca me empolgaram muito.
Aí caí na besteira de ver um jogo de LeBron James. Uau! Seria ele mesmo isso tudo? Era. Decidi conferir mais neste ano.
Descobri um novo James Harden, the Beard, mais clássico também. A NBA voltou a ter placares empolgantes. Para fechar o firo, o Orlando Magic emplacou mais de 20 vitórias do início do ano para cá para arrancar o 7.° lugar na Conferência Leste, ainda que em prejuízo do também querido Miami Heat.
Enfim, voltei. Mas voltei pensando em quem seria massacrado pelo Golden State Warriors na final.
Havia um frisson com o grego Antetokompo do Milwaukee Bucks. O Magic também impusera uma derrota aos surpreendentes Raptors lá em Toronto. Na série toda, o tal do Kawhi Leonard não jogou nem pedra na lua. O Orlando Magic deu um nó defensivo nele. E eu pensando: "Como veem num jogador aposentado potencial para levar um time adiante nos playoffs?". Mas o Toronto além de ter Siakam, que destroçou o time floridiano, ainda contou com uma total inaptidão dos jogadores do Magic em encestarem a bola.
Com uma análise dessa, como eu iria apontar que os Raptors tinham condição de avançar mais uma série? Não tinham. Só que o time canadense, para usar um clichê, começou a crescer no momento certo, um jogador por vez. O excepcional desempenho de Siakam contra Orlando despertou o de Leonard na série seguinte.
Enquanto isso, Bucks e Warriors varriam adversários. No oeste, eu achava mesmo que Houston Rockets e Golden State Warriors travavam uma final antecipada. Quem vencesse seria o grande campeão de 2019.
Bem, no leste, Leonard acordou e começou a fazer de tudo em quadra. Lento, mas persistente, ele faz bandeja, cava falta, arremessa perfeitamente de 1, de 2, de 3. Quase todos os seus lances terminam em 3 pontos, ainda que dentro do garrafão por sua capacidade de atrair a marcação. E ainda acha umas assistências com açúcar e com afeto tanto para 2 pontos como para 3 pontos. Enfim, um clássico jogador de basquete.
Série dura com o Philadelphia. Siakam e Leonard crescendo. Tchau, Philadelphia, no jogo 5.
Do outro lado, Golden State só confirmava o favoritismo. Tchau, Houston, no jogo 6.
Do lado leste, só se falava em Antetokompo. 4x1 no bom time do Boston, que foi uma decepção para todos.
Finais do leste. Finais do oeste. Duas lavadas certas de Bucks e Warriors.
No oeste, o pule de dez: Warriors 4x0 Portland. Uma varrida numa final de conferência? Quem seguraria Curry e cia.?
No leste, o que parecia uma varrida terminou numa virada sensacional de Toronto. Leonard jogou mais ainda. Tanto que apagou o grego do Milwaukee. E mais um se juntou à turma - Ibaka - ainda que Siakam tenha sofrido leve queda de desempenho.
Coitados dos Raptors... Nadaram tanto para morrer na praia... Mas aí a gente lembra que quem nunca chegou à final tem uma vontade muito diferente de quem já chegou tantas vezes seguidas. Era isso que me deixava com uma tremenda pulga atrás da orelha em relação à final deste ano.
E a pulga se instalou de vez quando os Raptors continuaram a crescer ao passo que os Warriors aos pouquinhos desciam do pedestal onde merecidamente se encastelaram nas últimas temporadas.
Os placares deixavam claro a força canandense até nos jogos perdidos. A folga era sempre maior com os Raptors à frente. Mesmo quando o Golden State venceu, isso se deveu mais a erros finais do Toronto e de uma atuação um tanto quanto apagada de Siakam e os outros, nunca Leonard. Houve até um jogo em que Curry teve a melhor atuação num jogo da NBA, mas nem isso foi suficiente para seu time vencer o adversário.
A série não terminou em Toronto porque o Golden State acertou a defesa no último lance em cima de Leonard e Green demorou para arremessar - e ainda por cima errou.
Na finalíssima na Califórnia, o erro final ficou com os Warriors, que enfrentaram um Leonard raçudo como sempre, a ponto de sofrer as últimas faltas e ter os últimos arremessos livres da temporada. Foi a compensação do que ocorrera no jogo anterior em Toronto.
Só faltou falar do que jogaram os companheiros de Leonard. Lowry foi o rei do 1.° quarto. Só deu ele. Siakam dominou os quartos finais. Cada qual com 26 pontos. VanVleet fez 22. Leonard também. 4 jogadores com mais de 20 pontos. E ainda teve Ibaka e seus ganchos: 15 pontos. Não dava mesmo para segurar.
Para mim, que fui conquistada aos poucos pelo Toronto mesmo com o desgosto da eliminação do Orlando, os Raptors mostraram o que se espera de um time de basquete de verdade. Todos jogam, todos infiltram, todos fazem cesta à moda antiga. Arremessos de 3 - minha especialidade dentro da minha mediocridade como jogadora - são consequência, jamais objetivo primordial de um ataque. Bom mesmo é trabalhar com velocidade para infiltração e subir para converter a cesta arrancando uma falta do adversário, que vai ficando pendurado (e olha que Leonard ficou ontem, viu?).
A NBA, que havia me perdido, me recuperou como fã, ainda que seus jogadores andem que é uma beleza com a bola. De todo jeito, muito obrigada, Siakam, Leonard e cia pelo resgate.
Desculpa, Leonard, por tudo de errado que pensei de seu desempenho por julgá-lo pela série contra o Orlando. Ah ele foi eleito o MVP (por tudo, não pelo jogo, tenho certeza) e fechou um seletíssimo trio com Kareem Abdul-Jabbar e LeBron James de atletas campeões e MVP de finais da NBA com duas equipes diferentes.
Peço desculpas a quem teve paciência de ler até aqui um texto que ficou maior do que eu esperava, mas não havia como falar de toda a experiência sem esses detalhes.
No mais, um outro grito resgatando a cidade que primeiro sediou um jogo da NBA: We the North, we the champions!
P.S.: ainda teve Drake, o cantor de hip-hop, canadense, azucrinando como torcedor os jogadores adversários. Inesquecível!
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