sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Campos do Jordão

A viagem foi propositadamente curta, mas a maior parte ficou para Campos do Jordão. Agora teríamos o dia inteirinho para passear. Também de forma intencional não tínhamos fechado questão sobre atrações a visitar. É que, depois de um dia todo sem dormir, não dava para adivinhar o estado físico no outro dia.

Mas que nada! Acordamos muito bem, obrigada. O café da manhã na Matsubara Pousada é tudo que faz brilhar os olhinhos de quem vive em dieta. Até existem algumas opções saudáveis. No entanto, quem danado curte um friozinho sem cair de boca em guloseimas apetitosas, como salgadinhos, pãezinhos de vários tipos, chocolate quente e por aí vai?


A vista é estimulante. Mas não se enganem com o sol. A temperatura caiu desde o dia anterior e não quis mais subir. Tanto que os aquecedores continuavam ligados.


Lá fora o vento esfriava até pensamento. Corremos para fotos após o café da manhã, que começa às 7h. Como eu acordo mais cedo e lá o dia amanheceu mais tarde, foi o cheiro do café que me incentivou a pular da cama de vez. 

A dica para qualquer pessoa que vai enfrentar o frio é dormir com uma roupa que você já use como base no dia seguinte. O calorzinho da dormida ajuda a manter o corpo mais aquecido por baixo das camadas de roupa de lã e a enfrentar a geladeira do lado de fora. Esqueça o banho da manhã! Só à tarde e à noite. O que parece heresia em Natal é sobrevivência abaixo de 10°.

Depois das delícias do café, pensamos no que faríamos por lá. Passamos na recepção e conferimos o mural com os passeios com guia. Queríamos visitar a Cervejaria Baden Baden - Janaina é fã. Ao comentarmos, o recepção cortou nossas asas: "todos os passeios para a Cervejaria já estão lotados. Tem que agendar antes". Que choque! Iríamos embora no dia seguinte. Será que dava para passar lá antes? "Tá lotado também". Raiva!

O recepcionista sugeriu que fizéssemos um tour pela cidade com guia, no nosso carro ou não, ou fôssemos mesmo sem guia para algumas atrações.

Voltamos para o quarto para traçar a estratégia do dia. Aí pedi para Janaina voltar e tirar uma foto do anúncio das reservas do guia. Quando ela voltou, percebi que o número da reserva era o mesmo do guia. "Vou ver direto com a Cervejaria".

No site, descobri que realmente era preciso agendar. As visitas eram em grupos de 30 pessoas de hora em hora a partir das 10h até 17h, salvo engano. Como o site pedia até para quem estava agendado que chegasse com 15 minutos de antecedência, me deu um estalo. "Bora sem agendar mesmo? A gente chega bem mais cedo e tenta a sorte de alguém faltar." E assim fomos para lá.

Chegamos uma meia hora antes. O flanelinha nos indicou a vaga numa praça. Sim, Campos do Jordão é pequena, mas tem flanelinha. Quando ele nos ouviu falar, perguntou de onde éramos. "Natal", ao que ele respondeu imediatamente "Rio Grande do Norte. Eu sou da Paraíba, a 3.800 quilômetros daqui." Batemos um papo animado sobre há quanto tempo ele morava por lá, o frio, o Nordeste, etc.. Cesário era o seu nome. Ele nos perguntou se estávamos agendadas. Ao saber que não estávamos, cravou logo: "Vieram no horário certo. O pessoal sempre falta no primeiro horário de visitas. Podem esperar aqui que quando abrir lá vocês entram."

Como o frio tinha arrochado mesmo, essa era a minha esperança. E, ao contrário de Natal, fomos esperar no sol. Na sombra, o frio é mais frio ainda. Não tem quem aguente. Por isso, os bancos da praça - descuidada, diga-se de passagem - não tem abrigo algum.

Lá começamos a bater papo com dois mineiros de Uberlândia. Frio, Natal, Minas, políticos, viagem de carro... Nordestinas e mineiros juntos é claro que não faltaria assunto. Eles estavam esperando algo relacionado a trabalho. Ao saber que estávamos turistando, já indicaram o Palácio da Boa Vista ali pertinho para visitarmos.

Quando o portão da fábrica abriu, Cesário nos avisou. Despedimo-nos dos mineiros e corremos para a porta. Informamos logo que não estávamos agendadas, mas eles nos deixaram entrar para esperar. Lá dentro encontramos mais 3 mineiros que também não estavam agendados. Quando ouviram que éramos do Nordeste, ficaram curiosos para saber de onde. Um deles teceu elogios a Natal. "Gostei muito do Nordeste, mas Natal me recebeu como nós recebemos em Minas. Me senti em casa." A única mulher do trio disse que mineiro recebe visita pela porta da cozinha. Eu respondi que Minas é o mais nordestino de todos os outros estados brasileiros, por isso a identificação imediata. E só conheço mineiro gente boa, viu?

A conversa foi tão boa que nem sentimos a espera passar. A recepcionista nos pediu para adquirimos logo a entrada e sentarmos em nosso lugares na sala seguinte porque já eram 10h e, depois que estivéssemos lá dentro, se alguém agendado chegasse, ninguém poderia nos tirar mais. Euforicamente Janaina apressou o trio mineiro para não perder a vez. E azucrinou a recepcionista dizendo que viajara de Natal só para conhecer aquela fábrica, porque era fã da Baden Baden, ao que todo mundo respondia com risos. Mas deu tudo certo e nós 5 conseguimos acesso.

A visita à fábrica custa R$ 30. Há um vídeo bem legal mostrando a história da cerveja e da Baden Baden.

Depois avançamos para uma salinha onde conseguimos ver o local mesmo da produção com aqueles tonéis enormes e o cheiro dos ingredientes da cerveja cozinhando. O cheiro me lembrou imediatamente Fabrício, meu amigo mestre cervejeiro e que faz uma cerveja deliciosa. 

A guia explica o processo, a diferença de chopp para cerveja e aponta para potes com grãos de malte e lúpulo para quem quiser provar. Nem cheguei perto do verdinho do lúpulo - é amargo de doer.

Em seguida, a parte mais esperada. Entramos numa espécie de bar para fazer a degustação de 3 amostras de Baden Baden: Cristal, Bock e Kaffee. Nessa ordem mesmo, da mais leve para a mais encorpada. As duas últimas retiradas  diretamente da biqueira. Nem sei dizer quantas Baden Baden existem. Bem umas 14. Algumas são sazonais e nem na fábrica havia mais para venda. Muitas são ou foram premiadas internacionalmente, como a Witbier (feita com laranja e coentro) e a Kaffee (que tem cheiro gostoso de café, gosto de café, mas não deixa de ser uma gostosa cerveja).

Eu, que não bebo, bebi e adorei a degustação. Fomos todos presenteados com um copo Baden Baden. E a visita acabou na loja. A luta era para conter o entusiasmo e não comprar todos os copos, além das cervejas que não encontramos em Natal. Até perguntei se eles faziam entrega pela internet, mas nada. Consegui nos trazer de volta ao juízo ao ressaltar que em Natal (pasmem!) a Baden Baden era mais barata do que na fábrica. Adquirimos as que não tínhamos provado ainda e que estavam lá para vender, mas que não eram vendidas em Natal (Red Ale, 1999 e American IPA).

A Witbier, por exemplo, que nunca tivemos coragem de comprar em Natal porque era de laranja e coentro, compramos na semana seguinte no Nordestão por pouco mais de R$ 12. Lá era R$ 14,90. Compramos porque a guia nos garantiu que ela não tem o sabor que uma de laranja e coentro.

Cristal, Weiss (trigo), Golden (canela), 5 grãos (sim, até a cerveja é fitness!), todas são vendidas por aqui com preço melhor, seja no Nordestão ou no Sam's club.

Copo é que foi uma desgraça para embalar. Meti os danados em meias e rezei para não quebrarem na mala.

Quando a visita acaba, ainda há um barzinho ao ar livre, mas como eu ainda queria ver outras coisas em Campos do Jordão e o tempo era curto, ficou para a próxima viagem nos refestelarmos ao sol num frio de lascar e bebericando cerveja.

Na saída, Cesário estava lá para receber seus R$ 5 (sim, flanelinha também tem tarifa turística em Campos do Jordão). Aproveitei para confirmar uma atração ali por perto, o Palácio da Boa Vista. Ele nos indicou o caminho que o GPS também mostrou. Deu até um certo medo pelas subidas e descidas muito estreitas em alguns pontos. Fomos por dentro da Campos do Jordão real, onde o pessoal com menos condições vive. Casinhas simples e aconchegantes. Vimos muitos carros velhos, o que é uma certa característica das cidades muito frias: ninguém gosta de carro do ano e nem liga muito para estética. O que vale é a locomoção. E estão certos, né?

Entra aqui, sai ali, desce um pouco, sobe mais, chegamos ao Palácio da Boa Vista. Se na chegada a Campos do Jordão, a pessoa imediatamente pensa que Gramado dá de 10x0, e ao rodar a opinião começa mudar, é com essa vista que o placar muda totalmente. Em Gramado não há vistas como as que existem em Campos. E a do Palácio da Boa Vista faz jus ao nome. Estacionamos o carro um pouco abaixo e subimos o restinho que faltava.

O Palácio é estilo Vizcaya Museum em Miami - obviamente bem menor e mais acanhado. Nem por isso deixa de ser bonito. A visita é gratuita, mas precisamos formar uma fila para aguardar a visita do lado de fora. O problema não era a fila, era esperar do lado de fora num ponto tão alto no meio da serra: frio e vento à vontade. A guia teve piedade e nos deixou esperarmos na parte coberta da entrada. Apesar de na sombra, o que aumenta o frio, pelo menos as paredes bloqueavam um pouco o vento.

Não podemos entrar com absolutamente nada no local. Tudo é deixado num guarda-volumes. A guia até permitiu algumas fotos no bonito pátio interno, mas alertou que todos teriam que deixar os pertences nos armários antes da visita guiada começar. Como sou do contra, não tirei foto nessa hora. Voltaríamos ali no fim e aí o espaço estaria com bem menos gente para fotos mais tranquilas.

A visita me deixou um tanto revoltada. É que, ao contrário do Vizcaya, que pertencia ao milionário John Deere, o Palácio e sua decoração suntuosa pertencem ao governo de SP. Logo, dinheiro público gasto para que governadores tenham uma residência de inverno estilo nobreza absoluta. Isso representa bem o pensamento "público" de nossos políticos.

A residência ainda é utilizada por governadores, logo, a visita não passa pela casa inteira, mas não nos deixa na mão. Vemos salas, quartos, várias coleções de quadros, esculturas, móveis, baús e arcas.

O dia da nossa visita era o day after do papelão da Câmara dos Deputados que impediu a investigação de Michel Temer. Não havia uma só pessoa no grupo que não estivesse revoltada com aquilo, inclusive a guia. Janaina fez questão de dizer quase tudo o que achava. O quase fica pelo ambiente que a fez não mencionar qualquer xingamento.

Em pouco tempo a visita acabou. Falei da sorte de termos chegado na hora de começar a última visita da manhã? Na saída, fotos no pátio como eu queria e da belíssima vista da serra. Havia um café convidativo, bem de frente para a serra. Mas ainda tínhamos mais um lugar para ir antes do almoço. Deixamos para a próxima ida a Campos do Jordão, que virou meu novo xodó.

Entramos no carro e acertamos o GPS para o Amantikir, lugar número 1 para visitar em Campos do Jordão, segundo frequentadores do TripAdvisor. A paisagem vai lembrando aqueles bosques americanos e canadenses. Em pouco tempo chegamos por lá. Um flanelinha (ou seria um funcionário do local?) nos indicou uma vaga.

O Amantikir é um conjunto muito bonito de jardins. Parece que são 26. Tem até um labirinto claustrofóbico que você se perde com força dentro dele. Na segunda virada, eu desisti e voltei. Não queria levar um dia inteira para achar a saída, não. Se eu tinha achado a vista do Palácio da Boa Vista belíssima, faltam palavras para descrever a vista que o Amantikir proporciona. O barulho do vento é assustador. Fiz Janaina gravar um vídeo para trazer aquele som de lembrança. Se eu não visse um só jardim de lá, só essa vista sonora valeria os R$ 40 da entrada.

Prepare o fôlego! No Amantikir, anda-se muito e sobe-se sempre. São vários níveis de jardim. Até casa na árvore tem. Mas adorei mesmo foi ver dois gatos refestelados no meio das flores de um jardim. Impagável!

Muitas dúvidas depois, eu já sem fôlego (não, não foram só meus muitos quilos a mais. É bom lembrar que Campos do Jordão está a 1.628 metros acima do nível do mar. Imaginem que esse parque é ainda mais alto porque é praticamente numa montanha! O fôlego foge para todo mundo que é do litoral, especialmente para quem tem asma), terminei não conferindo tudo, tudo de lá. Havia mais coisas, que também ficaram para uma próxima oportunidade.

De volta ao carro, o flanelinha (era mesmo um flanelinha?) não estava lá. Hora de conferir a organização das compras da Baden Baden na mala. Sim, porque retiramos os casacos que vinham protegendo os copos para aguentar o vento do parque. Agora era a hora de devolver os casacos a essa função.

Não sei se já citei que aluguei o carro com ar condicionado. Mas nem pensem que foi bobeira. O ar pode ser aquecido, o que ajuda muito quando o frio ameaça as mãos no volante. É a função do ar que ninguém dentro de Natal conhece, mas que é ultra necessária na montanha.

O caminho da volta é de uma paz constante até entrarmos mesmo na cidade. Mas Campos é agradável de todo jeito. Ainda vi uma pizzaria (La Fortezza) que queria conhecer, mas que também ficará para a próxima viagem para lá. Na chegada ao hotel, o cansaço das subidas cobrou a conta. Levei um tempão prostrada na cama para ter coragem de tomar banho. Resultado: o almoço dançou. Já eram umas 15h e eu queria conhecer o Pastelão do Maluf (é o band...quer dizer, o político mesmo). Dica de Karla, que afirmou que os pastéis eram enormes e deliciosos. O problema é que Michele, amiga mineira que morou em Natal e agora mora em SP, iria subir a serra com o noivo depois do expediente para um happy hour em Capivari. Se eu comesse algo àquela hora fecharia para balanço até o dia seguinte. E eu ainda iria tomar banho, me arrumar, pedir o traslado e comprar os chocolates de lembrança da família...

Depois de muita prostração, banho tomado e ânimo renovado, lá fomos nós a Capivari. Demos uma olhada no Pastelão do Maluf, apesar de sabermos que não dava mais. Ainda que pudéssemos comer lá no horário, não sei se aguentaríamos naquele dia. Com a aproximação da noite, o frio estava aumentando e o local não tinha as tochinhas super bem-vindas de aquecimento. E eu não queria mais ficar enfurnada em canto algum depois da fritura da note anterior. Eu queria mesmo era ficar nas mesas da rua.

Continuamos nosso passeio pelas lojas de casacos de couro. Cada vez que entro numa eu me lembro imediatamente porque nunca adquiri um. É muito dinheiro para algo que será usado no máximo uma vez por ano. Eu me viro bem com os de estilo Gap mesmo. Além de combinarem com os meus amados tênis (nada de bota no frio!).

Passamos para as lojas de chocolate. Vi duas diferentes, mas há várias da que eu me engracei mais: Sabor Chocolate. Neste aspecto, Gramado leva mais vantagem. Em Campos do Jordão, as lojas não têm uma só degustação para a gente ter uma ideia do que está comprando. E há mais opções. Dá até para perder o juízo. O preço não é convidativo em nenhuma das duas, mas em Campos é menos caro. Compramos uns normais e outros diet. Quem comeu dos dois na nossa volta adorou e ainda disse que o diet nem de longe parecia diet, especialmente o branco. Compra certa na próxima.

Depois das lembrancinhas compradas, hora de tomar o rumo da Baden Baden. Calma, não voltamos à fábrica, não. Fomos à cervejaria. Tochinhas na rua e um cardápio de enlouquecer, segundo o que eu havia checado na internet. Sem sol, o frio apertou. Escolhi uma mesa bem coladinha numa espécie de lampião, ou lamparina como meu avô chamava (ele ainda tinha o disparate de nos perguntar se lamparina dava choque...). O frio me fez passar por cima do medo de fogo perto de gás. Sentei quase colada no negócio.

Enquanto esperávamos as nossas companhias começamos com a cerveja ideal para o frio e que experimentamos na fábrica, a Bock. Na cervejaria, poderíamos comprar a caneca e depois comprar o refill mais barato (menos caro seria mais adequado). Foi o que fizemos. Caro por caro, tomaríamos chopp, que é muito mais gostoso, e ainda levaríamos duas lembrancinhas para casa. A essa altura eu já me perguntava se tantos copos e canecas resistiriam à delicadeza do embarque/desembarque de malas...

O ambiente é acolhedor. O chopp, uma delícia. Aí chegaram nossas companhias e o bate-papo rolou por um bom pedaço da noite. Pedimos um filé aperitivo (na cerveja e com torradas) e depois uma truta também muito gostosa. Nada é grande demais como o preço elevado indica (lugar turístico é fogo!), mas vale totalmente a pena.

Nossos amigos queriam sobremesa e aí partimos para um fondue na caixinha. Um é muito para duas pessoas. Mas quem resiste a chocolate, né? Dessa vez, como partimos para comer no 1.° andar do local, o chocolate não congelou como acontecerá em Gramado. Se bem que lá a temperatura estava entre - 1° e 1°. No meio da rua, o chocolate derretido do fondue não aguentou: ficou durinho.

Depois que nos despedimos de uma noite maravilhosa com os amigos, pedimos o traslado. Eis a parte dura: esperar no vento frio. A volta é sempre uma diversão porque eles juntam o pessoal do hotel e da pousada e a gente ouve as conversas mais engraçadas.

A chegada à pousada encerrou o único dia inteiro que tivemos em Campos do Jordão, que foi sem programação antecipada, no entanto, foi um arraso.

No dia seguinte, estrada rumo a Sampa. Mas isso fica para a próxima postagem.

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