Com 73 dias de recomendação de recolhimento domiciliar - não, não vivemos um lockdown; ninguém está impedido de circular; as proibições se referem mais a estabelecimentos do que a pessoas, a quem se pede cooperação muito mais pelo bom senso - bateu em mim a curiosidade a respeito do avanços dos casos confirmados (nunca saberemos sobre os assintomáticos sem testes) e dos óbitos ao longo do tempo aqui no RN.
A curiosidade se explica porque não é o acúmulo de casos que determina em que ponto estamos da pandemia, mas o quanto de novas contaminações e óbitos são acrescidos diariamente. Estes números são os que compõem a famosa curva da Covid-19 e apontam se estamos caminhando para o topo ou se já iniciamos a decida, rumo ao controle (espera-se) do contágio.
No Brasil, parece que estamos bailando ao sabor do clamor que surge pelo que ocorre nos outros países. Todo mundo fechou? Fechamos também. Isso pode até ter salvado mais vidas aqui do que normalmente ocorreria. Mas agora estamos partindo no sentido contrário, sem a menor observação de que países reabrem porque suas curvas caíram. A Nova Zelândia, por exemplo, zerou a contaminação na última semana, não tem mais um paciente com Covid-19 internado e só agora vai reabrir cuidadosamente sua economia (vide Ai, que inveja!).
A curva no Brasil segue ascendente e há uma luta para que tudo volte a ser como antes imediatamente. Certamente esse é o desejo de todos. No entanto, não voltaremos a ser como antes nem muito menos imediatamente. O Sars-Cov-2 não permite.
E como anda o RN? Ao contrário do vizinho Ceará, que teve lockdown decretado, aqui continuamos na recomendação de recolhimento domiciliar, como citei na abertura deste texto. Também continuamos a testemunhar pessoas que não dão a mínima para tal recomendação e nem mesmo para o uso adequado de máscara, algo tão simples de ser alcançado. Eu já tive, por exemplo, vizinho na rua fazendo churrasco para convidados, só para que se tenha uma ideia.
Um pouco mais de responsabilidade cívica e talvez todos já estivéssemos livres das inúmeras restrições que a Covid-19 nos impõe, como agora ocorre na Nova Zelândia. Ao invés disso, corremos para tentar imitar Milão numa reabertura precipitada, que terminou em pedido de desculpas do prefeito com o caos que se implantou dali a duas semanas e que exigiu um tempão para que as coisas voltassem ao mínimo de normalidade.
Voltando à pergunta sobre o RN, cheguei ao site do Lais (Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde) que faz, dentre outras coisas importantes, justamente esse acompanhamento diário - sem o acúmulo - dos casos confirmados de Covid-19 e óbitos deles decorrentes a partir dos dados da Sesap/RN.
Em 9 de março, o RN teve seu primeiro caso confirmado. Até 21 de março, as confirmações diárias nunca ultrapassaram 5 casos. Houve até dia em que não tivemos confirmação. Lembrando que a recomendação de recolhimento domiciliar foi anunciada em 17 de março.
Em 22 de março, as notificações diárias subiram para 14. No dia seguinte, 24. No outro dia, 18. No outro, 37. O sobe e desce entre 9 e 37 seguiu até 13 de abril.
Em 14 de abril, foram 45 novos casos. No dia seguinte, 35. No outro, 77. No dia 20 de abril, 106 novos casos foram confirmados. E o sobe e desce seguiu até o dia 27 de abril, que trouxe a confirmação de 118 casos.
Em 4 de maio, novo patamar diário: 144. No dia seguinte, 169.
Em 14 de maio, 232 casos. Em 18 de maio, 294. Em 25 de maio rompemos a barreira dos 300 casos diários: 334 confirmações.
Dentre esses marcos todos, um sobe e desce de casos, mas sempre com tendência de crescimento nos números, mesmo com todos os problemas de testagem que o Brasil e especificamente o Rio Grande do Norte enfrentam.
O acumulado até 27 de maio apontava 5.624 casos de Covid-19 no RN.
Quanto aos óbitos, os 3 primeiros foram confirmados em 28 de março. No dia 21 de abril, passamos para 5 notificações diárias. Em 1.º de maio, já foram 7 óbitos. No dia 7 de maio, 8 óbitos. No dia 11 de maio, 9 óbitos.
Em 12 de maio, atingimos nossa maior notificação diária de óbitos até o momento: 13 novos óbitos. De lá para cá, aparentemente os números apresentam uma tendência de queda, o que só será confirmado após mais acompanhamento diário.
O acumulado até 27 de maio apontava 242 óbitos por Covid-19 no RN.
Mas é o número de casos diários, não o acumulado, que norteia uma mitigação das medidas restritivas.
Se o contágio segue em crescimento, é óbvio que não é chegada a hora de falar em relaxamento de medidas no RN. Precisamos, isso sim, de mais testes para conseguirmos controlar/rastrear o contágio, entendermos melhor a letalidade e enfim dominarmos a Covid-19 para tentarmos reconstruir nossas vidas e economia.
Não importa a posição social, a cor da pele, a ideologia política, o acúmulo patrimonial de cada um. Só sairemos dessa juntos. Abracemos logo a causa para que isso passe mais rápido. É o que a ciência nos mostra.
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