25 minutos de atraso, público já impaciente, bastaram as cortinas do Teatro Riachuelo se abrirem para a plateia viver mesmo A Experiência.
Jorge Vercillo é idolatrado em Natal. E ainda dizem que não há público por aqui para música bem feita, pensada com maestria e executada com perfeição.
Nesta semana, tive a ousadia de questionar sua capacidade de me surpreender. Se houvesse a menor possibilidade de Jorge ter lido minha postagem sobre o show de Yrahn Barreto a que assisti na quarta-feira, eu diria que ele se sentiu provocado e entregou o melhor show que já acompanhei dele desde os tempos de Machadinho e Boulevard, palcos longe da excelência que um artista dessa estirpe merece. Desde aqueles tempos, bato o ponto nos shows deles aqui em Natal, tendo tido o azar de ter perdido dois.
Sua apresentação foi cheia de emoção. Seria o transbordamento da felicidade de ter na banda aquele menininho que aparecia no CD Elo e que agora aos 16 anos é responsável pelas guitarras e parte dos violões do show? Vinícius é tímido e alegre, duas características do pai Jorge, e com talento que veio no sangue. Sim, as músicas de Jorge Vercillo não contêm acordes fáceis, sequências simples nem solos/intros previsíveis. Vinícius foi aprovado com louvor.
O que sempre me invade quando vejo Jorge Vercillo no palco é sua entrega ao público. O cara é o cara e ainda assim se preocupa em saber o que seu público quer ouvir do seu repertório que não está na lista do show. Ontem, até o pecado de errar um acorde ocorreu ante o pedido inesperado. Em menos de 1 segundo, os dedos se acertaram no violão e acho que a maioria nem percebeu, tamanho o carisma dele.
Depois de tantas apresentações, como ele ainda consegue me surpreender? É que além de tudo, ele é um excelente intérprete. Fiquei sem palavras com o que vi nas antigas Fênix e Avesso, em ambas ele tendo a ousadia de abrir mão de intrumentos em algumas passagens para ouvirmos cada detalhe da emoção de sua voz.
2 horas depois, o público de pé exigiu um bis, muito bem saboreado. O show acabou mesmo depois desse bis, ele já cumprimentando o público, mas como ninguém arredava o pé e um de seus fã-clubes preparou uma bonita tela, Jorge chamou todo mundo para cantar mais uma música, justamente a que batiza o grupo, Acontecência. Existe um homem desse?
Confesso que eu andava meio chateada com ele após aquela polêmica por ele criada em relação a músicas sertanejas e especificamente o hit Que tiro foi esse?. Não precisava. A música brasileira tem espaço para todos os gostos, até os ruins. Vê-lo cair nessa esparrela de reclamar do (mau) gosto dos outros lhe tirou do Olimpo dos Deuses em que habitava por seu talento para lhe colocar numa vala comum de arrogância, o que nem de longe combina com sua essência e, tenho certeza, não era o que ele almejava. Deixemos quem gosta de rimar coração com emoção, ou empinar o bumbum, ou sair do chão (tcha, tcha, tcha) para lá e sejamos felizes com as doses mais raras de talento que sorvemos em êxtase com o trabalho de altíssimo gabarito dele, que transforma os momentos de apreciação em estadas no paraíso. Deixemos o inferno para os seus tradicionais habitantes se é que vocês me entendem.
A minha chateação era tamanha que brinquei que levaria uma faixa "Que tiro foi esse?" para o show. Levei uma reprimenda de volta desde o primeiro segundo de show que quase nem cantei, apenas apreciei cada um desses segundos que Jorge Vercillo e sua banda me proporcionaram ontem.
Engraçado que uma prima de uma amiga ganhou um ingresso e estava arrependida por ter feito outros planos. Como uma criatura tem um ingresso de Jorge Vercillo na mão e se atreve a fazer outros planos? Para que vocês tenham uma ideia, o show foi ontem, 4 de agosto, e o meu ingresso para o meu assento favorito, que me deixa quase olho no olho com ele, estava comprado desde o fim da tarde de 4 de janeiro, 7 meses antes, portanto.
Enfim, o paraíso existe. E ele é embalado pelo talento de Jorge Vercillo.
- Fotos e vídeos de autoria minha e de Janaina
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