quarta-feira, 22 de agosto de 2018

O triste voto nulo ou em branco

As últimas pesquisas mostram que a maior parte da população prefere pura e simplesmente jogar o voto fora. É isso que se faz quando a escolha recai em anular o voto ou votar em branco.

Sei que a revolta com tudo que aí está é grande, mas nunca consegui compreender como é que alguém sai de casa num domingo, enfrenta uma fila para escolher as pessoas que vão governar e fazer as leis de cabo a rabo neste país e decidem não decidir. 

Acho que valeria um Globo Repórter para saber quem são essas pessoas, como vivem, de que se alimentam, como enfrentam outras escolhas na vida. Sempre imagino que essas são as pessoas incapazes de tomar as rédeas de sua própria vida. "Ei, fulano(a), você quer suco ou refrigerante?" "Tanto faz. Você decide". "Arroz com ou sem passas?" "O que a maioria decidir eu aceito."

Nem sempre é assim. Na verdade, essas pessoas posam de "meu voto é muito precioso para que eu dê a essa canalhada". Quem sou eu para dizer que não temos mesmo uma canalhada de candidatos, não é mesmo? O que acho inaceitável é que alguém não consiga identificar dentre 13 candidatos aqueles com potencial para piorar o grave quadro em que nos encontramos. É muita preguiça mental ou absurda vontade de se eximir de responsabilidades. 

A quantidade de votos nulos, em branco e abstenções só aumenta a cada eleição e há tempos superam os votos válidos de quem foi declarado vencedor. Em que essa atitude ajudou este país, os estados e os municípios? Não teríamos melhor sorte se esse pessoal se importasse mais com quem vai definir o plano econômico para sairmos da crise, os investimentos em serviços públicos que podem aliviar o bolso de todos, só para citar duas mínimas coisas que os(as) eleitos(as) de outubro definirão?

Não votar sempre soou para mim como acomodação. E acomodação é sinal de satisfação com o status quo. Se o sapato apertasse mesmo o pé de quem diz protestar não votando, essas pessoas votariam. Não votam porque estão satisfeitas, ou pelo menos o incômodo ainda não foi suficiente para lhes obrigar a analisar e escolher a melhor dentre as péssimas alternativas, por assim dizer.

13 candidatos. Treze. É muita gente. Isso para falar apenas da eleição presidencial. Não é possível que um deles, nem que seja um daqueles que não sai do 0%, não mereça o seu voto. Porque quem escolhe somos nós. Não há notícia de candidato eleito por pesquisa. É a soma do meu voto com o seu, com o do vizinho, com o da cozinheira, da empresária, do professor, do gari, da motorista do ônibus, do milionário filhinho de papai que vai definir quem vai assumir essa bodega aqui. 

Na última eleição presidencial, por exemplo, as pesquisas apontavam um caminho e as urnas mostraram um outro 2.° turno. Agora imaginem aí se a maioria dos eleitores que escolheram jogar o voto fora da disputa houvessem decidido por uma melhor alternativa do que as que Dilma e Aécio representavam. Hoje talvez não estivéssemos em situação tão periclitante. Talvez a crise não tivesse chegado ao ponto de deixar 27 milhões de pessoas sem o devido trabalho. Ou 63 milhões endividados. Ou não tivéssemos um presidente mais preocupado em gastar os tubos para não ser investigado do que em pensar de fato na população que agoniza nos hospitais deste país, para citar um único problema.

O voto nulo, ou em branco, ou a abstenção são uma grande vergonha para a nossa cidadania, cujo exercício é justamente o voto. É inadmissível que alguém escolha livremente ser menos cidadão do que o outro, decidindo não decidir. É um rebaixamento absurdo da própria condição humana. E tal comportamento tem nos jogado numa vala cada vez mais profunda.

Cansou de tudo que está aí? Pois mude. Analise, escolha, vote. "É todo mundo ladrão". Pois façamos o revezamento dos bandidos. Isso deixa quem está de fora doido para entrar e de olho nos deslizes de quem está dentro. 

Vamos aposentar essa galera que já tem não sei quantos mandatos e a única melhora de fato observada é em seu patrimônio pessoal. Vamos fazer valer a lei da ficha limpa. Vamos melhorar nossa representação no que dá. Eu garanto que esse é um movimento sem volta. Se a cada eleição formos dando pontapés pelo menos em parte da canalhada, a vida de todos vai melhorar. 

Porém, o primeiro passo é sair da acomodação. E votar. Votar principalmente para que tudo isso aqui não piore porque pode piorar enormemente com gente até que defende a volta da ditadura, aquela desgraça que decide inclusibe o que você pode pensar, ler, ser. 

É melhor pensar, analisar e votar agora para que tudo isso não lhe seja definitivamente proibido a partir das eleições de 2018. 

Quem sabe não dê para escolher também alguém que possa tirar a nação desse clima de Fla x Flu, realçando o velho e comemorado espírito conciliador brasileiro? Afinal, já aprendemos que não há salvador da pátria (aprendemos, né? Collor ensinou bem direitinho), tão-somente alguém que possa inspirar a nação a arregaçar as mangas no sentido certo.

De todo jeito, a mudança passa pela ponta dos nossos dedos. É votar ou morrer. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário