quarta-feira, 8 de agosto de 2018

A coletiva

Imagem: Canindé Pereira

Dizem que a primeira vez ninguém esquece. Ontem, tive a audácia de, mesmo passando longe de ser jornalista, frequentar uma entrevista coletiva, no caso, a do América apresentando o executivo de futebol Armando Desessards. O horário casava com o meu último dia de meias férias, então fui lá meter o bedelho por causa do Só Futebol? Não!.

Na chegada, reencontrei alguns profissionais por quem nutro carinho: Mallyk Nagib e Ricardo Silva, que só me reconheceu depois de Canindé Pereira fazer a chamada. Foi engraçado. 

A coletiva terminou sendo meio quebrada porque haveria transmissão ao vivo da TV Ponta Negra numa determinada parte, o que levou Armando Desessards para um canto e deixou o presidente, o vice presidente, o presidente do Conselho Deliberativo e o executivo das bases (assim foi denominado) Jocian Bento onde estávamos.

No início, estavam presentes Ricardo Silva (Rádio Globo Natal), Mallyk Nagib (TV Assembleia/Rádio CBN Natal), Rogério (TV Ponta Negra) e suas equipes. Fico devendo outro nome que não tenha captado por ainda estar me ajeitando no espaço. Sei que outras emissoras de TV compareceriam em outro horário.

Eduardo Rocha falou livremente sobre o novo momento do América e do futebol brasileiro, inclusive ressaltando que levaria à FNF proposta de que os clubes do estadual só pudessem registrar 30 jogadores para a competição - com direito à troca de um goleiro - e dentre estes, 15 teriam que ser sub-23.  Ele entende que isso seria bom para todos os participantes, especialmente financeiramente.

Disse ainda que o América está para fechar uma parceria com um grande clube do futebol brasileiro que só seria anunciada após a formalização por escrito.

Coube a José Rocha falar sobre o desejo de concluir a primeira etapa da Arena América para que jogos sejam lá realizados em 2019 e Eliel Tavares corroborou as palavras de Eduardo Rocha sobre esse novo momento do América com um olhar mais atento a jogadores jovens.

Quando a entrevista começou, fiquei atenta a tudo e a todos. Armando Desessards foi questionado sobre o que espera do trabalho no América (essa parte segue em outra postagem que me foi gentilmente enviada por Canindé Pereira).

Perguntei a Eduardo, Eliel e Jocian (quem quisesse responder) qual seria o nível de convicção do América com esse novo trabalho, já que as últimas administrações do clube apontavam convicção num novo caminho e desistiam após tropeços no estadual. O presidente tomou a frente para responder e revelou uma certa chateação com o meu comentário sobre convicção. Relembrou que havia sim convicção no trabalho de Leandro Campos ante a melhor campanha da Série D 17 em pontos, mas que os testes de fogo da Copa do Brasil e do 1.º turno do estadual apontaram que o trabalho não renderia. Reforcei que eu questionava justamente o quão forte seria essa convicção, se ela resistiria aos trancos do estadual, caso tropeços inesperados acontecessem. Fiquei bastante satisfeita ao ouvir Eduardo afirmar que o América persistirá no planejamento traçado ainda que haja tropeço no estadual porque ele não vê qualquer outro caminho melhor do que esse a longo prazo.

Mallyk perguntou sobre a proposta de mudança de estatuto que seria apresentada por Eduardo Rocha para que 600 novos sócios patrimoniais fossem incorporados com o pagamento de 30 parcelas de R$ 100 e então todos os sócios patrimoniais passassem a ter direito a voto. Eduardo disse que já sentia muita resistência a essa proposta porque os atuais sócios, que estariam nessa condição há 30, 40 anos, não queriam que novos sócios fossem incorporados sem um levantamento do patrimônio do clube.

Eduardo também classificou como falácia o movimento para que sócios torcedores votassem como se isso fosse prática da maioria dos clubes brasileiros. Segundo ele, poucos admitem isso e, ainda assim, a maioria desses estabelece que o direito cabe ao sócio patrimonial.

Mallyk então perguntou mais diretamente se o América não abriria esse voto aos sócios torcedores. Eduardo respondeu que o estatuto não permitia e nem ele apresentaria qualquer proposta nesse sentido. Mais claro, impossível.

Quando a coletiva acabou, me aproximei para um tête-à-tête com Jocian Bento, aliás, muitíssimo simpático. Jocian fala com uma clareza didática, típica de quem acredita no trabalho que desenvolve porque o conhece a fundo. Apontei que nas campanhas bem sucedidas de 1996, 1997, 1998, sob o comando de Eduardo, que culminaram no primeiro acesso do RN à Série A, na conquista da Copa do Nordeste e na disputa da Copa Sul-americana, o time titular sempre contou com 2, 3 jogadores formados aqui e lhe perguntei qual a chance que ele via de isso se repetir agora ante suas observações após 1 semana de trabalho.

Jocian afirmou que há uma dificuldade grande de calendário para as bases do RN (ah, FNF...), já que um atleta aqui disputa no máximo 15-20 partidas por ano e um atleta do Sudeste chega a fazer 70 jogos numa temporada, e isso representa uma pressão muito grande para o atleta daqui na transição para o profissional. Apesar disso, ele disse que há 4,5 jogadores em observação para integrarem de fato o elenco e que a luta é para aumentar a rodagem da base. Nesse ponto, Eduardo se juntou à conversa e afirmou que iria entrar em contato com o presidente do Botafogo-PB para que o sub-17 e sub-19 viessem a disputar um dia de amistosos no CT americano, com a retribuição do América em semana posterior. Além disso, ele tenta viabilizar um torneio de bases envolvendo pelo menos América, Botafogo e Santa Cruz a ser realizado em João Pessoa - meio do caminho entre RN e PE para reduzir custos - com esse intuito, uma vez que a base do Santa Cruz está envolvida em competições mais fortes.

Jocian ainda confirmou que o América não trará atletas que estejam no mesmo nível dos disponíveis na base. A lógica é que é melhor dar espaço aos da casa do que gastar mais com um profissional, com o que eu concordo totalmente. Ora, o atleta daqui ainda pode evoluir e certamente representa uma grande folga de caixa em tempos de clube com parcos recursos.

Por fim, perguntei a Eduardo se já havia alguma especulação a respeito do novo treinador, ainda que obviamente ele não me desse o nome desejado. "Ainda não", apesar de que Armando Desessards já vem trabalhando há uma semana em busca de atletas que possam compor o América 2019. A respeito disso, Eduardo esclarecera no início da entrevista que as decisões seriam sempre conjuntas, o que não impediria a diretoria de também elencar nomes para a discussão.

Aproveitei para perguntar sobre o perfil a ser buscado, uma vez que Jocian apontara em entrevista que era preciso um profissional que olhasse para as bases. Eduardo garantiu que quer "um técnico com coragem de usar jogadores da base", sob pena de tudo que vinha sendo planejado e feito pela diretoria com a contratação de Jocian e Armando ir por água abaixo. Que assim seja!

Por fim, considerando que a pré-temporada começará em novembro, perguntei-lhe quando ele acharia ideal já estar fechado com o novo técnico. "Em outubro", ele respondeu lembrando que ainda estamos em agosto.

Com exceção do sócio torcedor, gostei do que vi e ouvi. Agora é aguardar que, de fato, o América siga um novo rumo já agora em 2018. Não dá mais para imaginar um clube com tamanha tradição no futebol brasileiro relegado à uma Série D e ameaçado de encerrar a temporada entre maio e agosto.

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