O América parece seguir a passos firmes para se afastar de vez de sua torcida. Não bastasse permanecer combatendo qualquer possibilidade de o sócio torcedor ser chamado a assumir responsabilidades nas escolhas de futuro do clube e de estar fora por sua própria incompetência de competições oficiais até 2019, agora os dirigentes americanos cismaram de bloquear comentários dos seus torcedores na conta do clube no Instagram.
Inicialmente preciso esclarecer que não frequento o Instagram. Mas torcedores que estão indignados com o comportamento do clube estão convocando todos a deixarem de seguir a conta do clube nessa rede social (clique aqui) e me provocaram a expor minha opinião a respeito.
Não é de hoje que o América não nutre bons sentimentos em relação à democracia. Não faz muito tempo eu até fui bloqueada pelo clube no Twitter. Não entendo como uma pessoa jurídica pode bloquear perfis em qualquer que seja a rede social. Como expandir sua influência? Como chegar a novos perfis de torcedores, como aqueles que não frequentam as arquibancadas, mas que são consumidores em potencial?
A postura das famílias que dominam a política do clube também dá o tom: para elas, quanto menos gente se intrometendo, melhor. Daí a enorme resistência de colocar o clube em harmonia com as práticas mais atualizadas quanto à participação efetiva na vida política da agremiação.
Não sei como se dá o bloqueio no Instagram. Imagino que o clube poderia remover apenas comentários que incidissem em crimes de calúnia, difamação, injúria ou de incitação ao ódio gratuito. Críticas à forma de administrar e aos resultados obtidos? Essas fazem parte da democracia, que é a convivência por excelência dos contrários. Essas tendências ditatoriais de inadmitir a discordância não têm a menor razão de ser em lugar algum, imaginem numa agremiação esportiva, que reúne amantes do futebol, esporte em que dois times se enfrentam em busca da vitória. Sem os contrários, como disputar uma partida? Qual a graça de um jogo com só um time em campo? Como vibrar com uma vitória se não há do outro lado um grupo disposto a também conquistá-la com unhas e dentes?
A impressão que essas atitudes que surgiram com mais força no América a partir de 2016 passam é de que há uma campanha firme no clube para afastar completamente a torcida do clube. Aliás, não só a torcida, uma vez que há notícia de reunião do conselho deliberativo com apenas 10 conselheiros presentes. A quem interessa um clube nas mãos de poucos? Quem fiscaliza quem numa situação assim? Como ficará o patrimônio do clube sem que forasteiros (assim se denomina quem não tem o DNA) estejam atentos às decisões tomadas? Quanto dinheiro mais o América precisará pegar emprestado (ninguém doa) com abnegados? Mais: até quando o patrimônio aguenta essa rotina de abnegados decidindo errado e emprestando dinheiro ao clube para cobrir o rombo de seus próprios erros?
Sem a torcida por perto, é muito difícil romper esse ciclo que empurra o centenário América Futebol Clube rumo ao ostracismo. O exemplo do Alecrim, às voltas com esquisitos leilões trabalhistas, além de alerta, começa a parecer objetivo firme. Quando o patrimônio acabar, só restará a torcida. Ainda restará?
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