De vez em quando, entro numa vibe saudosista. Agora mesmo vi um e-mail de um amigo enviado a outro e entrei em sintonia com a nostalgia.
Adorava receber e enviar cartas na infância e na pré-adolescência. Ver um envelope com meu nome trazia um sentimento de importância, de pertencer a algo mais elevado do que uma possível inadimplência com as únicas correspondências que chegam atualmente: faturas e mais faturas.
Já escrevi por aqui sobre cartões de Natal. As cartas, por sua vez, eram essencialmente manuscritas. Os mais rebuscados, como o meu pai, preferiam datilografar usando uma máquina de escrever. Lembro que vi uma como relíquia ao botar os pés pela primeira vez nos Estados Unidos e me assustei. Como assim, relíquia? Sim, relíquia por lá, onde computadores já davam as cartas (sem trocadilho intencional) há muito tempo. Por aqui, só no fim dos anos 90.
A folha normalmente era pautada. Evitava linhas tortas. Aliás, muitos anos depois foi que entendi o tal do "Deus escreve certo por linhas tortas"...
Nessa época, sabíamos o endereço (CEP e tudo) das pessoas. Sabíamos nome e sobrenome. Sabíamos o número do telefone de cor. Hoje até o próprio número é desnecessário decorar.
Lembro das lindas coleções de papel de carta que as minhas colegas de Escola Doméstica faziam ainda no tempo de primário, já chamado 1.° grau menor. Será que ainda existem?
Com a chegada do computador pessoal por aqui, veio o fabuloso e-mail. Quantos não escrevi e recebi em caráter pessoal? Hoje, só profissionalmente e olhe lá. Também nessa época era legal abrir o correio eletrônico e descobrir as boas novas. Atualmente, é abrir para apagar as inúmeras propagandas indesejadas.
O e-mail já aposentara as cartas. O WhatsApp enterrou tudo de uma vez - cartas, e-mails, SMS. Nenhuma emoção. Nenhuma personalidade. O mesmo traço e os mesmos emoticons ou emojis para todos. Nada de caligrafia. Nem mesmo o endereço escolhido de e-mail. Só o número de telefone ao qual nem damos a devida atenção. Registramos na agenda e nos concentramos no nome com que batizamos o nosso "contato". Sim, viramos contatos no mundo virtual, onde dificilmente há algum contato físico, na melhor acepção da palavra.
Sinto falta do e-mail dos amigos. Sinto falta das notícias sem pressa das cartas. Sem tracinhos azuis para confirmar o recebimento e a leitura. Só mesmo a boa educação de responder imediatamente, naqueles tempos em que imediatamente nem era assim tão imediatamente.
A tecnologia certamente vai seguir seu rumo em busca de novas praticidades. Mas aquele toque pessoal parece cada vez mais fadado ao completo desaparecimento. Uma pena.
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