sábado, 16 de janeiro de 2016

O que atrai nos programas de sócio

Num mundo passional como o do futebol, ser sócio de carteirinha do seu clube de coração deveria ser a grande motivação de torcedores afora. Foi-se o tempo. Ainda existem pessoas assim, mas a exigência aumentou.

Segundo estudo de Rodolfo Ribeiro, professor de administração e marketing e líder do núcleo de pesquisas em futebol do Senac em São Paulo, divulgado por Rodrigo Capelo (da coluna Época EC), 9 itens foram citados como determinantes de alguma forma na decisão de se associar aos programas dos clubes brasileiros (em ordem de relevância):
1 - desconto nos ingressos
2 - prioridade de compra dos ingressos
3 - direito a voto nas eleições do clube
4 - desconto no estádio (alimentação, estacionamento, etc.)
5 - kit de boas vindas (uniforme)
6 - experiências exclusivas (viagens com jogadores, eventos fechados, etc.)
7 - pontos em programas de fidelidade
8 - recebimento de revista oficial do clube
9 - desconto em produtos de parceiros

Para se ter uma ideia, desconto em ingressos (item 1) é 19 vezes mais atrativo do que desconto em produtos de parceiros (item 9). O item 2 é 17 vezes mais efetivo. O 3, 13 vezes. Os itens 4 e 5 são 9 vezes mais efetivos do que o 9. O item 6 é 6 vezes mais efetivo. O 7 é 4 vezes mais efetivo e o item 8, 3 vezes.

Os primeiros 5 itens da lista são os mais influentes na decisão de se associar. Aceitar o sócio como eleitor do clube , algo raro Brasil afora, pode dar o estímulo que falta a qualquer programa de sócio. Por outro lado, o programa da Brahma "Por um futebol melhor", embora seja o de maior visibilidade, é o de menor influência.

Foram ouvidas 312 pessoas com idade média de 29 anos. 79% eram homens e 21% mulheres.

É claro que o fator de maior peso nem passou na lista: o preço. Se for fora da realidade do torcedor, virar sócio passa a ser visto como uma prisão, um verdadeiro mico.

Aliás, sobre preço, Oliver Seitz, professor brasileiro de Administração Esportiva da University College of Football Business em Londres, fez as contas sobre quantas horas uma pessoa que recebe salário mínimo precisa trabalhar para comprar o ingresso mais barato disponível. Ele utilizou como parâmetro o ingresso mais barato para ver os campeões nacionais de 2014. Sinceramente, não me causou surpresa que no Brasil o trabalhador precise trabalhar mais horas do que em qualquer outro lugar para ver um jogo no estádio. Vamos aos números.

1 - Brasil: 10 horas e 18 minutos para ver um jogo do Cruzeiro.
2 - Espanha: 6 horas e 42 minutos para ver um jogo do Barcelona.
3 - Inglaterra: 6 horas e 18 minutos para ver um jogo do Chelsea.
4 - Portugal: 4 horas e 12 minutos para ver um jogo do Benfica.
5 - Itália: 3 horas e 42 minutos para ver um jogo da Juventus.
6 - Argentina: 3 horas e 30 minutos para ver um jogo do Racing.
7 - Estados Unidos: 3 horas e 12 minutos para ver um jogo do Los Angeles Galaxy.
8 - França: 2 horas e 36 minutos para ver um jogo do Paris Saint Germain.
9 - Alemanha: 1 hora e 48 minutos para ver um jogo do Bayern de Munique. 

A reportagem de Rodrigo Capelo ainda traz o dado de que o valor ideal de ingresso para o brasileiro seria de R$ 20,63, ou quatro horas e quinze minutos de trabalho. Seguindo os dados de 2014, somente o São Paulo disponibilizou setor com ingressos a R$ 20 na Série A (4 horas e 7 minutos de trabalho).

Obviamente ingresso a R$ 20 não é garantia de lotação. Muita coisa pesa na decisão de ir ao estádio, inclusive a campanha do time. Mas o jornalista traz uma consideração relevante:

"Arena lota de baixo para cima. Quando começam as vendas, primeiro esgota o setor que tem entradas mais baratas. Depois, o seguinte. Se a primeira faixa de preço é cara demais para o torcedor que ganha um salário mínimo, ela é ocupada por outro, e este deixa de pagar pelo setor seguinte. O resultado é que, na hora do jogo, as arquibancadas mais salgadas, geralmente as que ficam visíveis durante a transmissão da partida pela TV, ficam às moscas. (...) estádio precisa ser setorizado, e as faixas de preço precisam atender a todo tipo de público, do popular à elite, até encher a casa."

Os dirigentes sempre querem um preço de ingresso que praticamente obrigue o torcedor a se associar. Mas estádio vazio é desestimulante para todo mundo, inclusive sócios. Além de péssimo portfólio na conquista de um patrocinador de peso.

Neste aspecto, parece que os programas de sócio de América e ABC ficaram um pouco mais dentro da realidade, com valores em torno de R$ 30/ mês para garantir acesso a todos os jogos na arquibancada. Vamos esperar que o preço dos ingressos também não fique muito acima disso. Afinal, cabe ao torcedor decidir se quer pagar um valor para ter direito só a uma partida ou a todas do mês. O importante mesmo neste momento é trazer o torcedor de volta à arquibancada. Pelo bem do futebol do RN.


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