domingo, 17 de maio de 2015

Falou e disse

Por absoluta falta de tempo, não li uma reportagem especial da Veja da semana passada sobre os 70 anos do fim da 2.a Guerra Mundial.

No entanto, na edição atual, carta de Mauricio Queiroz, Diretor do Centro Cultural da FEB (Força Expedicionária Brasileira), além de verdadeiro puxão de orelhas na revista, trouxe interessante questionamento sobre a mania que os brasileiros temos de não exaltar, nem mesmo reconhecer, feitos de nosso país. Segue a íntegra:

"Na edição 2245 de VEJA, eu me surpreendo com uma super-reportagem sobre os setenta anos da vitória aliada contra o nazismo na II Guerra Mundial, na qual não é dita sequer uma única palavra sobre a Força Expedicionária Brasileira (FEB), tampouco sobre os feitos de nossos pracinhas em terras italianas. Considerei que a reportagem pretendia, de fato, referir-se à participação dos alemães, ingleses, americanos e soviéticos no conflito, e isso, tenho de admitir, foi cumprido de forma absolutamente elucidadora. Ressalto, no entanto, que, exatamente no dia 8 de maio, data em que se comemora o fim da II Guerra Mundial - oportunidade em que o mundo inteiro, inclusive o Brasil, presta suas justíssimas homenagens aos heroicos pracinhas, que puseram a vida em risco, combatendo em campos congelados com os quais jamais haviam tido contato -, exatamente nesse dia de glórias para nosso país, a falta de uma única linha ou palavra sobre os combatentes da Força Expedicionária Brasileira transmite a impressão de que o Brasil não participou do evento! E as grandes batalhas nas quais os brasileiros tiveram ativa participação? Montese, Castelnuovo, Soprassasso, Monte Castelo, Fornovo di Taro, onde o Regimento Ipiranga de Caçapava (SP) aprisionou milhares de soldados alemães, além de grande quantidade de equipamento civil e militar? E o general Mascarenhas de Moraes, o coronel Nelson de Mello, o general Zenóbio da Costa? E os febianos, aqueles velhinhos, em sua maioria, de 95 anos, remanescentes dos 25334 soldados que enfrentaram o risco de morrer congelado ou ser baleado? E o que defendiam? E os 443 soldados brasileiros mortos em combate? Será mesmo que toda a história deles não mereceria, pelos menos, algumas poucas linhas que lhes garantissem um registro, ainda que débil, de sua passagem pelo maior conflito de todos os tempos? Será que nós, brasileiros, merecíamos uma reportagem como essa, que coloca o Brasil e os soldados brasileiros que participaram ativamente da II Guerra Mundial num plano de completo esquecimento? E, pior, numa reportagem de vinte páginas nas quais se exaltam os feitos de americanos, soviéticos, ingleses e até mesmo dos nazistas, será que esses brasileiros, de tantas vitórias na II Guerra, mereciam, de fato, passar por tamanha humilhação, de ver a imprensa da própria terra renegar-lhes a condição de heroísmo por terem colaborado, ativamente, para a derrota do nazismo?"

Respondo sem hesitar: não mereciam. Nem eles, nem a sociedade, nem o Brasil. Triste nação que desfaz de seus próprios feitos e cuja memória é falha.

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