quarta-feira, 20 de agosto de 2014

O time de fora de casa

Dói escrever isto, mas o América, tão conhecido por ser imbatível em seus domínios, virou o time de fora de casa. Em outras terras, o Mecão surpreende e conquista grandes resultados. Em casa, começa a colecionar decepções em sequência. E tudo (alegrias e decepções) são anotados na conta de Oliveira Canindé. Não poderia ser diferente.

Desde que aqui chegou, o treinador americano começou aos poucos a demonstrar um padrão tático mais retrancado. O meu alerta disparou desde o primeiro clássico sob seu comando, em que o América não se soltou como de costume e somente um lance isolado de Wálber nos acréscimos garantiu a vitória rubra. Digo lance isolado, porque, em entrevista à Rádio Vermelho de Paixão, eu questionei Rodrigo Pimpão se havia sido a marcação do Abc que teria impedido o bom futebol do América, ao que ele prontamente respondeu que não, que tudo seguiu como Oliveira determinara. E a entrada de Wálber quase como atacante? "Eu vejo como uma superação do próprio jogador", ele disse.

Ok. Ali começava o meu lenga lenga de pedir publicamente que o treinador soltasse os laterais americanos em seu esquema. O time foi cada vez mais adquirindo um novo jeito de jogar: feio no primeiro tempo, melhor no segundo. E passou a colecionar mais decepções em casa e alegrias fora. 

Quem não lembra Globo 1x2 América? E América 0x0 Globo? Lembro até de ter comentado em casa que o América dava pinta de que viraria o time de fora de casa com Oliveira Canindé e que eu tinha esperança de uma grande campanha na Copa do Brasil por isso, mas que normalmente isso era uma desgraça na Série B. É que em 2006 o Ituano de Leandro Campos era assim e só não foi rebaixado porque bem antes trocou de treinador.

Mas aí chegou a Série B e o América bateu o Avaí na estreia. Mesmo padrão: 1.° tempo +/-, 2.° arrasador. Depois perdeu para dois times Frankenstein àquela altura: Oeste (fora) e Abc (casa). 

Já na Copa do Brasil, venceu o Boavista lá e aqui. Arrasou o Náutico aqui e perdeu lá. E as contusões começaram a aparecer.

Jogo louco contra o Atlético-GO em casa: 3x3, com virada para lá e para cá. Contra a Portuguesa, venceu fora na entrada de Daniel Costa.

Em casa, mais uma derrota: América 0x1 Ceará. Fora, mais uma vitória: Vila Nova 1x3 América. Sempre com a melhora no 2.° tempo.

Contra o Joinville (fora) até mereceu um gol, mas acabou levando nos acréscimos.

Foi para Goianinha (em casa ou fora?) e venceu o Luverdense por 2x0.  E no Maranhão tomou 3 gols do Sampaio Corrêa sem esboçar reação.

Ufa! Chegou a tão sonhada pausa para a Copa 2014. E Oliveira Canindé soube aproveitá-la bem. Hoje ele conhece cada jogador do elenco e pode aperfeiçoar seu esquema de jogo. Só faltou preparar o time para enfrentar retrancas, mas mais para frente falarei nisso.

América 4x2 Bragantino. O time jogou bem os dois tempos, mas sofreu com as duas falhas do goleiro. Porém mostrou superação.

Jogo com o Vasco em São Januário: primeiro tempo sofrível, segundo arrasador. 1x1. Mesmo padrão em casa contra o América-MG. Sufoco grande. Mas 1x0 muito suado e valorizado.

Antes de continuar na Série B, falemos da Copa do Brasil. Em casa, tomou 3 do bom Fluminense. No Maracanã, perdeu o 1.° tempo de 2x1. No segundo, como sempre, fez história e marcou 4 gols para fechar Fluminense 2x5 América, o novo Maracanazo.

Contra o Icasa, primeiro tempo só não foi de todo ruim porque Pimpão aproveitou bobeira da defesa do adversário e abriu o placar. No segundo, de novo Mecão arrasador. Ficou em 2x0, mas poderia ter sido uma goleada.

Tirando Boa 3x2 América, em que o América só quis jogo no fim do 2.° tempo, vamos a América 0x1 Santa Cruz e América 0x2 Ponte Preta.

Primeiro, não há time imbatível. Segundo, futebol é chegado a coisas ilógicas como tabus e noites de zebras. Então não há nada demais em perder para o péssimo Santa Cruz (em 2006, também perdemos para o rebaixado Paysandu) e para a boa Ponte Preta, de quem o América é freguês nos últimos tempos.

O problema é a repetição do padrão. Se o time adversário se retranca (se nós fazemos, por que os outros não fariam?), o América vira uma espécie de Brasil de Felipão. Nada de laterais forçando as jogadas de linha de fundo; apenas bolas diretas. Ontem chegou a ser deprimente o número de vezes que Andrey e Cléber levantaram bolas para Isac, que nunca foi bom de cabeça (Oliveira já deveria saber disso), e estas morreram fraquinhas nos pés do goleiro Roberto da Ponte Preta. Quase tenho um infarto, já que detesto burrice. O mesmo ocorreu contra o Santa Cruz, com o agravante que era o minúsculo Renatinho quem desviava de cabeça.

Não, Oliveira, a torcida não aceitará de bom grado pagar para ver o time do coração dar chutões para cima. Essa não é, nem nunca foi a tradição do América. E se você não entendeu ainda, eu explico: artilheiro só sai do time se levar um tiro no meio do jogo. Aconteceu isso com Pimpão ontem? Não. Então sua substituição foi totalmente estapafúrdia, principalmente se considerarmos que você promoveu a entrada de Isac em péssima fase. O América precisava reconquistar sua característica de bom toque de bola e não de um brucutu (não que Isac o seja) para receber tiros de meta do goleiro.

Respeito que você queira apostar na retranca no 1.° tempo. É o seu estilo. Mas você precisa saber o que fazer no segundo tempo para que o time pelo menos encante e dê esperança de que sabe jogar. Perder faz parte. Mas não dá para jogar um futebol tão humilhante como o jogado dentro de casa contra Santa Cruz e Ponte Preta. Quer alçar bola na área? Faça seu time chegar à linha de fundo, e não a vergonha de deixar os atacantes o tempo todo na intermediária aguardando o presente dos céus vindo de Andrey e Cléber. Especialmente se esses atacantes não têm a menor característica de velocidade. 

Espero que essa desfeita não se repita. Afinal, não merecemos que o América vire o time de fora de casa DENTRO de casa. Não merecemos mesmo.

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