sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Livros viciam

E como! Posso dizer pelo verdadeiro frenesi que sinto só de entrar numa livraria ou mesmo biblioteca. No caso das livrarias, nuitos anos passaram-se até que eu conseguisse exercer algum autocontrole para não estourar o orçamento a cada visita praticamente semanal. Uma loucura!

Feiras de livro são um desastre para minhas contas. Tenho que ir pelo menos em dois dias: um só para avaliar e planejar as compras; outro para me esbaldar. Quase ninguém da família aguenta tais passeios comigo, mas só tenho dois braços e preciso recrutar ajuda.

Lendo Nei Leandro de Castro nesta sexta na Tribuna do Norte, eis que ele narra algumas dessas paixões (ou compulsões) por livros como a minha (ou piores).

Começa com Oscar Wilde, que, preso por prática homossexual (imaginem o meliante perigoso que era!) em 1895, conseguiu ter alguns livros consigo na cadeia. Quando deixava a leitura para protestar, os carceiros já sabiam qual castigo ser-lhe-ia impiedoso: retirar da cela os livros. "O poeta definhava", nas palavras de Nei Leandro de Castro.

Nei ainda descreve como se tornou mais um viciado em livros - Capitães de Areia de Jorge Amado seria o responsável.

Fala na possível diferença entre bibliofilia e bibliomania segundo o Aurélio. A primeira diz respeito a colecionar livros que apresentam alguma condição especial. A segunda requer apenas a mania de acumular livros. Acho que me encaixo na segunda. Livros são livros, e assim já são especiais.

Nei também cita José Mindlin e sua biblioteca de 35 mil volumes. Um sonho! Não cheguei nem perto ainda do primeiro milhar (segundo Janaina, tenho 333 - parece conta de mentiroso) e já me preocupo com espaços. E já fiz muitas doações, todas acompanhadas de grande dose de arrependimento. Imagino o quanto não foi maravilhosa a vida de Mindlin. Gostaria de ter conhecido esse colega de profissão de tamanho bom gosto. Acho que choraria de tanta emoção ao conhecer sua biblioteca. 

Há alguns anos, uma colega de especialização conseguiu me incutir a vontade de conhecer Lisboa em Portugal. Nada de atrações turísticas. Bastou falar da enorme biblioteca que lá existe. Pronto! Passei a analisar com carinho a possibilidade financeira de uma viagem à boa terra, pois, pois.

Livros viciam. Sentir seu cheiro, folhear-lhes, avançar em suas estórias e histórias é um caminho sem volta. Mas ao contrário das drogas ilícitas, eles não causam danos colaterais, nem levam à morte. Muito pelo contrário, ganhamos novas vidas e cores com eles. Por isso recomendo com convicção: aprecie imoderadamente!



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