segunda-feira, 14 de agosto de 2023

"Nosso ambiente é forte"

Logo após América 2x0 Pouso Alegre, o técnico Dado Cavalcanti concedeu entrevista coletiva.

América 2x0 Pouso Alegre
O jogo iniciou muito tenso. Foi um jogo muito nervoso. Foi perceptível que a gente entrou fora dos padrões normais de uma equipe equilibrada. O peso da quantidade de rodadas sem vencer é muito grande. Então traz também para os atletas dentro de campo uma responsabilidade grande e a gente sentiu, a verdade é essa, não tem como. Lutar contra o rebaixamento não é só jogar jogos, você não só joga contra os adversários. Você joga contra todos os fantasmas de um rebaixamento, você joga contra a desconfiança da sua torcida. Então por mais que a gente jogue em casa, e a nossa torcida veio, nos incentivou, ajudou, mas é um jogo tenso. E a tensão foi muito perceptível no começo do jogo. Nossa equipe foi mal. Tecnicamente nós não conseguimos levar vantagens no padrão tático. Fiz a opção pela entrada de 2 atacantes, 2 centroavantes, visualizando um mano a mano e esse mano a mano existiu, mas, mesmo assim, a gente não teve vantagem. Wallace e Álvaro não conseguiram receber bolas em condições de evoluir e o adversário conseguiu sair numa pressão, marcação de forma até fácil. No 2.° tempo, a troca foi determinante. O intervalo de jogo, a troca de jogadores, a mudança tática, a mudança do padrão, a mudança de pressão... Nossa equipe cresceu demais com a entrada de Rafinha e Gabriel. Os 2 fizeram uma baita partida. Tecnicamente e individualmente, eles foram muito bem. Então é bem importante na mexida ter a quem recorrer e eles fizeram isso, eles mudaram o jogo, entraram muito bem e a gente conseguiu o 1.° gol de Rafinha e aí nos deu um pouquinho mais de confiança, tivemos um pouquinho mais de tranquilidade no setor defensivo. Nossa equipe é sólida defensivamente. Então eu posso dizer que o resultado veio exclusivamente no 2.° tempo. Então importante demais para a gente estar vivo na briga, estar mais vivo do que nunca, estar mais confiante ainda para viver outro jogo dentro de casa na segunda-feira para darmos um salto mais alto ainda na tabela.

Wallace Pernambucano e Álvaro
Houve uma troca no comando do time adversário e eu fiz a opção de fazer um quadrado no meio com Elvinho, Matheuzinho, Álvaro e Wallace, fazendo 2 atacantes para quem sabe levar um pouco mais de vantagem no mano a mano contra os zagueiros adversários. Eles não marcaram a gente com sobra, não tiveram um bloco mais baixo e a minha expectativa era que a gente levasse um pouquinho mais de vantagem, coisa que não aconteceu. Então, essa estratégia durou 45 minutos. Obviamente não é por conta deles, mas nós também enxergamos pouco esses 2 jogadores, nós alimentamos muito pouco esses 2 jogadores. A gente estava mais travado, como eu citei. O começo do jogo foi mais tenso e a gente arriscou pouco alguns passes mais em profundidade, a gente arriscou pouco o passe mais na última linha. Álvaro tem capacidade de vencer esses adversários na velocidade e Wallace fez um papel de 2 momentos diferentes: no 1.° tempo, ele flutuava mais; no 2.° tempo, ele ficou mais como um 9 mesmo, como centroavante, esticando a linha adversária. Cada um deu sua parcela de contribuição. Wallace mais tempo no jogo, fez o gol do alívio, fez o gol do 2x0, do pênalti, conseguiu jogar 90 minutos, fazia muito tempo que ele não jogava. Então acaba que a gente tem algumas pequenas vitórias na construção da vitória de hoje.

Criação do time
A gente precisa ser cauteloso na avaliação porque não podemos descontextualizar o que aconteceu. E repito: o contexto é pesado. Entramos em campo hoje e alguns resultados foram muito ruins, alguns bons, mas outros ruins. Então a gente entrou com uma carga muito grande para vencer a partida. Não dá para descontextualizar. Eu trago o treino, mas o treino não traz esse conteúdo de adversidade. O treino traz outras qualidades, outras perspectivas. Existe, de forma natural, a questão do dia. Às vezes, o cara não está num dia bom, às vezes o outro está mais confiante, às vezes o cara está mais agressivo, o outro está menos alerta. Matheuzinho teve um problemazinho de quadro viral durante o final da semana. A gente entendia que ele estava recuperado para entrar em campo, mas eu não tenho dúvidas de que o quadro viral influenciou diretamente na questão técnica dele. No jogo passado, para mim, Elvinho foi o melhor disparado da nossa equipe. Hoje também no 2.° tempo ele sentiu um pouquinho o peso, o cansaço. Eu até demorei para fazer a última troca porque Wallace vinha sentindo câimbras e eu não sabia se Wallace terminaria o jogo. Eu esperei até o último momento e conversei com ele e falei: "Velho, você vai ficar até o final. Vamos embora e vou fazer a última troca aqui", com a entrada de Léo, que nos deu um pouco mais de tranquilidade. Então, não dá para dizer: "Ah, como foi a semana?". A semana foi boa, foi boa para caramba, foi muito produtiva. A gente conseguiu achar vários momentos de mano a mano, conseguiu achar combinação de jogada de Elvinho aproximando, houve finalização de Matheuzinho de fora, houve pifada de Matheuzinho para Álvaro, houve tudo. Mas é treino. Aqui, no contexto do jogo é diferente. A gente veio com uma carga pesada. Os 45 minutos foram cruciais para eu entender que eu precisava mudar e eu acho que as mudanças hoje surtiram efeito.

Renan Bragança (Dida)
Nós estamos nos aproximando de uma fase decisiva, faltando poucos jogos aí pela frente, e eu tenho alguns jogadores que não atuaram ainda comigo, tem vários jogadores que ainda não atuaram. Óbvio que eu não vou apenas dormir uma noite e acordar no outro dia e "ah, vou mexer e vou colocar esse cara aqui que não jogou ainda para jogar". Não é isso. Mas eu entendo também que, como eu fiz várias trocas na semana, eu aproveitei para fazer outras também em caráter de observação. Dida é um jogador que tem muita explosão, um jogador extremamente rápido, um jogador que nos treinamentos já vem demonstrando muita qualidade, muita personalidade. Eu tenho o cara nas minhas mãos aqui. Então, já fiz a troca, já trouxe a entrada de Wallace, já trouxe a saída de outros titulares, já tinha feito a opção de fazer 3 trocas, pelo menos, de um time só. Então, também dar uma oxigenada no setor, aproveitei Dida. Isso faz parte porque é normal que goleiro só joga um e sempre existe uma condição de "ah, vou trocar goleiro, não vai trocar". Fica aquele melindre, talvez a palavra seja essa em relação à troca do jogador, mas Bruno é um baita profissional, um jogador que foi, que continua sendo muito importante para a gente, mas já foi protagonista, mas eu entendi que era o momento para fazer a troca, pus Dida em campo. Bruno contribuiu demais com essa troca porque ele deu forças a Dida, orientou, é um baita profissional, reitero aqui a condição de ajuda e de auxílio que aconteceu e foi apenas mais uma troca de todas as outras que eu fiz.

Dia a dia do grupo
O nosso ambiente interno é muito bom. É normal que a gente sempre busque culpas ou culpados quando o time não vai bem, o time vai mal, o time está brigando para não cair, "ah, o grupo está rachado", "ah, o treinador perdeu o comando". São as principais informações ou notícias com que a gente acaba rotulando uma equipe que está brigando para não cair. No nosso caso, não tem isso. Nós temos vários jogadores que são determinantes aqui, vários que não foram relacionados estavam hoje aqui no banco, todos na verdade estavam hoje aqui no vestiário. Everton, que não foi na relação, não sei se vocês perceberam, fez o aquecimento junto com Dida e Bruno. Eu trouxe Edson hoje pela primeira vez comigo aqui e Edson veio fazer parte do banco porque eu entendo também que, por tudo que ele representa para o América e o que ele faz parte do grupo, seria importante também tê-lo aqui hoje. Então o nosso ambiente é forte e eu falo muito sobre isso. Nós precisamos estar fortes porque os nossos adversários são os outros e a gente vai ter muitas adversidades pela frente, vai ter desconfiança da nossa torcida, vai ter desconfiança de cronistas, de imprensa, o que é normal, faz parte. A gente está brigando para não cair. Se não fosse assim, seria uma maravilha. A gente vai ter que vencer essas adversidades, mas os nossos adversários são os caras que estão com a camisa de cor diferente. Os de vermelho são todos amigos, são todos colegas, são todos companheiros e o nosso ambiente interno é muito bom e importante para este momento de reverter o quadro, de escapar do rebaixamento.

Aparecidense
Vamos ter uma semana de trabalho. Tem mais um jogo para observamos deles. É um confronto direto, então a gente tem que usar as nossas armas. A nossa casa é a principal delas. Vencer já é difícil, vencer fora, mais ainda. Então temos que fazer esse jogo dentro de casa na segunda-feira, mais uma vez vai ser um jogo nervoso porque, quando vai se afunilando, vai indo para o final do campeonato, sempre será assim. Mas a gente tem uma semana boa para se preparar bem para entender o que é o adversário e entender o que é o melhor para a nossa equipe. Eu falei muito numa participação que eu tive num programa sobre começar, o time que começa e o time que termina, o quão importante é o time que termina. Hoje foi uma mostra disso. O time que finalizou o jogo finalizou com muito mais confiança, então levarei em consideração tudo isso, mas lembrando também que o próximo jogo tem 90 minutos, não só 45, não são só 30, 15. A gente precisa começar bem, mas também precisa finalizar muito bem o jogo.

Time titular
É cedo para falar. A gente ainda está no calor da vitória, ainda estou respirando um pouco, estou hidratando, estou suado ainda do jogo. Ou seja, o sentimento ainda está à flor da pele. Eu vou considerar tudo. Eu não posso desconsiderar, por exemplo, o 2.° tempo que Rafinha e Gabriel fizeram. Os caras mudaram o jogo. Eu não posso deixar de visualizar isso, mas quem toma as decisões obviamente sou eu e eu sou um cara que precisa estabelecer a estratégia do jogo. Então eu vou levar em consideração para durante a semana a gente ver quais são as melhores possibilidades para o próximo jogo.

Como não errar
Você iniciou a pergunta falando o que fazer para não errar. Eu falo que é impossível. Nós vamos errar. Mas a grande diferença é o que fazer depois do erro. Eu acho que ganhar um jogo nos traz confiança para arriscar um pouco mais. Quais são as implicações no contexto do jogo em que a gente briga para não cair e a torcida está aqui impaciente e nervosa e um erro de passe vai vir um "uuuhhh"? Quando a gente ganha um jogo, a gente já inicia o jogo com uma moral um pouquinho mais elevada. Então eu acho que isso vai ser bom para a gente. Tiramos um peso dos ombros por termos conquistado essa vitória. As nossas obrigações continuam as mesmas, a dificuldade continua a mesma. Mas eu entendo que o mais importante é o como a gente vai reagir após o erro. É entender que vamos para a próxima. Errei aqui, paciência, vamos para a próxima. E errei de novo, vamos embora, vamos para a próxima. A gente não pode se abater e se omitir em cima dos erros e começar a se esconder, como em alguns momentos o 1.° tempo nos trouxe isso no jogo. Então eu acho que a gente deve iniciar o próximo jogo de um outro estágio. E eu espero que desse estágio a gente consiga voos mais altos, assimilando os golpes, mas vencendo as adversidades do próximo jogo.

Equilíbrio da competição
Eu costumo dizer que as competições, quanto menos de elite são, mais próximas as equipes são. Vou citar um exemplo. Quando inicia o campeonato da Série A, vocês já sabem, todos aqui já sabem quem são os times que vão brigar para ser campeão, quem são os times que vão brigar para Libertadores e quem são os times que vão brigar para não ser rebaixados. Todo mundo já sabe. Dificilmente um sai e o outro vai. Na Série B, todas as equipes que jogam a Série B jogam para subir. Todas. Posso falar isso por conhecimento de causa e por experiência. Todas elas. Na Série C, mais ainda. A diferença técnica do Pouso Alegre para o líder, o Brusque, é muito pequena. Então, nesta Série C, as diferenças entre as equipes que estão brigando para subir e as equipes que estão brigando para não cair praticamente não existem. E eu falo muito sobre confiança. Um jogador mediano confiante se torna um grande jogador. Um jogador mediano com a confiança abalada se torna um jogador medíocre, mais abaixo. Então, sinceramente, eu comemoro o fato de termos vencido. E eu falei de pequenas vitórias implícitas na grande vitória dos 3 pontos. Nós vencemos por 2 gols de diferença, ou seja, nós marcamos 2 vezes no mesmo jogo. Nós não tomamos gol de novo porque já tinha acontecido isso, então é importante também. A grande diferença hoje da classificação é o número de vitórias que nós temos menos do que alguns adversários. Mas conseguimos com 2 gols de saldo tentar diminuir uma margenzinha que nos detalhes do final do campeonato serão importantíssimas. Então, eu acho que foram muito boas as pequenas vitórias que conquistamos para chegarmos mais confiantes para o próximo jogo. 

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