Sem lição

Muito se especulou quais as lições que a pandemia traria para a humanidade. Mais compaixão, mais solidariedade, menos consumismo, menos egoísmo, aproveitar mais as pessoas e o momento, cuidar da saúde. Essa foi a aposta de muita gente.

Também muita gente apostou que isso tudo era balela, que a humanidade ia piorar, numa visão bem mais pessimista.

A pandemia não acabou, mas algumas coisas já podemos observar. 

No futebol, por exemplo, os protocolos foram quebrados um pouquinho aqui, outro tanto ali, até que foi ficando cada vez mais desavergonhada a presença de "delegações" na arquibancada.

Agora, a volta do público foi liberada, dentro de certos parâmetros, tanto pela CBF como por suas cópias estaduais, além das autoridades municipais e estaduais competentes.

O América vai receber o Moto Club no domingo na Arena das Dunas e anunciou que quer vermelhar o local. Para tanto conta com pessoas totalmente vacinadas que sejam sócias do clube e/ou que estejam dispostas a pagar R$ 50/R$ 100 pela arquibancada no setor leste e/ou R$ 100/R$ 200 no setor premium. 

Vendo tais valores fica fácil constatar que a pandemia não deixou lição alguma no futebol do RN, que não percebeu que não é uma ilha na pandemia que ceifou vidas e aprofundou dificuldades financeiras para a maior parte da população deste país. 

O clube precisa de dinheiro? Precisa. Porém entendeu que esse seria o momento ideal para elitizar de vez o público que o acompanha in loco. 

Claro que existe a possibilidade de associação, mas de novo chegamos a uma realidade que impede compromissos financeiros que se alongam no tempo. 

O América acredita que terá sua elite vacinada e em número suficiente na Arena para uma arrecadação satisfatória para as condições atuais. Mas será que essa elite vai mesmo pagar pelo acesso? E como ficarão as "delegações" que ocupavam bons lugares das arquibancadas nos jogos com público "zero" (zero para inglês ver)? 

Com os valores anunciados, eu me pergunto quanto custará uma vaga no estacionamento, uma cerveja, uma água, um petisco qualquer? Preços de estação espacial (de aeroporto já era)? E se o jogo for valendo o acesso? 

Certamente a grande massa americana vai ficar mesmo na transmissão online ou das rádios. Antes de tudo, é o que cabe no bolso. Para muitas dessas pessoas, também é uma resposta a mais uma patada que o clube do coração lhe direciona, algo que nem a pandemia conseguiu mudar. Aliás, a relação América - torcida está cada vez mais parecida com relacionamento tóxico, abusivo, e como tal, infelizmente, nem sempre quem está nesse tipo de situação percebe.

É esperar que pelo menos o América consiga alegrar a quem terá acesso à Arena e a quem estará de longe acompanhando, porque de desgosto a sacolinha já anda cheia.