segunda-feira, 21 de março de 2016

Pagando pelos outros

Deixem-me meter o bedelho nessa polêmica criada entre o América e o árbitro Pablo Ramon. 

Já defendi por aqui que Pablo Ramon é o melhor árbitro em atuação no RN nesta temporada. Mas o que exatamente isso quer dizer? Que dentre os seus pares no estado, Pablo é o que apresenta, em minha modesta opinião, o melhor desempenho na aplicação das regras. Pablo, enquanto não cansa, não dá qualquer faltinha, tornando o jogo agradável para os espectadores. Cartão amarelo só em reclamações ou faltas mais graves. Por isso, eu o elogio. 

Mas Pablo é um ser humano e, portanto, sujeito a erros. Apitou 3 partidas do América neste estadual. Foi absolutamente perfeito em Globo 2x0 América, quando Felipe Macena foi expulso ainda no 1.° tempo. Ninguém reclamou. Nem poderia. A expulsão foi justíssima, dentro do critério aplicado em todo o jogo.

Na final América 0x0 Globo, o trabalho de Pablo recebeu críticas. Dizem que ele não deu dois pênaltis para o Globo, um de Flávio Boaventura e outro de Pedro Ivo. As imagens mostradas pela TV Ponta Negra não são um primor. Por elas, não vi pênalti de Boaventura (a bola explode em seu peito), mas vi a mão de Pedro Ivo se mover em direção à bola, embora não seja claro se ela atinge mesmo a bola ou não. Durante o jogo mesmo, não vi os lances como pênaltis. Logo, não sei se cabe a polêmica armada, já que o árbitro não tem replay. De minha parte, reclamei do cansaço de Pablo, que começou a inverter faltas e até a inventar algumas para ambos os lados, diga-se de passagem. Reclamei até de um lance em que Boaventura voou de um empurrão que recebeu (confesso que não percebi na hora quem o empurrou, se um companheiro ou um adversário).

No clássico ABC 1x1 América, dois lances foram polêmicos. Num deles, um dos auxiliares deu um impedimento inexistente contra o ABC. No outro, o pior deles, o ABC foi agraciado com um pênalti inexistente. A bola é chutada à queima-roupa no zagueiro Gustavo. O braço dele está em posição normal, junto ao corpo. Gustavo até tenta colocar o braço ainda mais junto ao corpo, quase para trás, para evitar o contato. Não houve jeito. De onde estava, Pablo deve ter visto o movimento do braço apenas, não sua posição, e deu o pênalti. A câmera do EI MAXX mostra claramente que Gustavo só não teria contato com a bola se sofresse em milésimos de segundo uma cirurgia de amputação do braço ali mesmo. Impossível. Pablo errou feio. E o ABC escapou da derrota.

Mas o problema não está no erro de Pablo. O que ninguém consegue explicar é a enorme sequência de erros da arbitragem local que beneficiam o ABC. Na Série B de 2014, a coisa foi escandalosa. Quem apitava era Ítalo Medeiros. O América teve um impedimento marcado com a saída de seu jogador do campo de defesa! Acharam pouco e um volante do ABC levantou o braço na área para cortar um cruzamento, como se fosse um goleiro. Pênalti? Não. Segue o jogo. 

Na verdade, essa onda começou em 2007. Naquela temporada, a quantidade de pênaltis dados ao ABC foi uma coisa imoral. Salvo engano, a média foi de um por jogo. A bem da verdade, esclareço que não se tratou apenas de jogos apitados por arbitragem local. No passo contrário, na Série A do mesmo ano, o América só teve um pênalti a seu favor quando já estava matematicamente rebaixado, apesar de lances escandalosos anteriores, como um em Paulo Isidoro no Machadão, contra o Fluminense se não me engano.

O hábito dos pênaltis no ABC tornou-se tão forte, que me lembro da estreia do alvinegro na Série B em 2008 em casa contra o Vila Nova. Ivan, atacante, era banco. Ao entrar, não contou dois: correu para a área adversária e caiu. Assim, sozinho, do nada. Mas aí a maré havia virado, pelo menos nacionalmente.

É daí que vem esse ranço e, por isso, na minha opinião, Pablo está pagando pelos erros dos outros. Com boas atuações, o primeiro desastre, que ocorreu ontem, não deveria ser motivo para um veto da diretoria americana. Sim, Pablo deve ser punido! Deve ir para a geladeira. Precisa se reciclar, rever o lance, revisar as regras para não repetir o erro. Mas coisa pior se viu no clássico anterior, quando um pênalti a mais de metro para fora da grande área foi dado e o América nem vetou o árbitro FIFA, nem o auxiliar local.

Acho que o América daria maior contribuição ao futebol local se buscasse um estudo estatístico em parceria com a UFRN, por exemplo. Já vi concurso ser anulado assim, quando ficou provado que as chances de todos os aprovados acertarem e errarem exatamente as mesmas questões eram menores do que acertar uma loteria milionária com um bilhete de R$ 2. Mostre estatisticamente a probabilidade de um único time receber tantos pênaltis a seu favor numa mesma competição. Mais: mostre quantos erros (não apenas pênaltis) lhe são favoráveis e se estatisticamente isso é plausível. Um estudo da conceituada UFRN pode esclarecer muita coisa e, se de fato a coisa é mais suja do que uma mera coincidência, mobilizar forças maiores para a devida solução, como o Ministério Público.

Mas jogar num único árbitro uma conta que não é dele é muito desproporcional. Parece até um linchamento esportivo. 

Pablo errou. Mas o veto é exagero.

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