Que me desculpem os companheiros petistas, mas esse discurso reducionista, maniqueísta mesmo, de bem x mal que sai do bolso a cada paulada que alguém do PT leva já encheu a minha paciência.
Adoro discutir (no melhor sentido da palavra), mas se os meus ouvidos ou olhos registram a expressão "mídia golpista", pode ter certeza que o meu interlocutor jogou por terra o melhor conceito que eu teria dele.
É que essa expressão é a panaceia petista para encerrar qualquer discussão que envolva qualquer coisa que lhe seja desfavorável. Eu até me pergunto como é que a mídia golpista e manipuladora (outro adjetivo sempre à mão) permitiu a eleição de Lula, a reeleição de Lula, a eleição de Dilma e a reeleição de Dilma. Sim, porque ela tem tanto poder que me parece que também é masoquista ao permitir que seus algozes (segundo defendem os petistas) cheguem ao cargo máximo do país e por lá permaneçam por mais de 14 anos.
Nem sei para que o povo ainda vota. Segundo essa teoria aí, a Globo elege, reelege e depõe. Ela e a Época, a Veja, a IstoÉ, a Folha, o Estadão... Nós outros somos todos palhaços.
Durante o desenrolar dessa Lava Jato, a galera petista também foi mudando o discurso. Primeiro, era o governo que mais investigava corrupção, inclusive no próprio governo. Então seria Dilma mandando no MPF, na PF e no Poder Judiciário? Mas não era a mídia golpista? Não entendi.
Depois, o negócio começou a atingir políticos do partido. Aliás desde o mensalão, lá quando Lula era presidente. Aí o discurso mudou para "corrupção sempre existiu". Sim. E daí? Não vai punir por que sempre existiu? Não vai punir por que todo mundo faz? Então, vamos todos roubar bancos, carros e comércios porque é o que temos diariamente. Vamos sair matando por aí por qualquer motivo. Todo mundo faz. Vamos saquear o dinheiro público porque é o que todo mundo faz.
Não dá. Aprendemos cedo com nossas mães que não somos todo mundo. Ou seja, não é porque todo mundo faz que o errado virou certo.
O PT mudou. Não é mais aquele que mereceu meu voto até a primeira eleição de Lula. O Lula de hoje deixaria o Lula de 1989 pasmado. O Lula de hoje acha que caixa 2 é uma coisa que todo mundo faz, então não tem problema. O Lula de hoje fala que não há problema em comprar pedalinho de R$ 2 mil ou barco de R$ 4 mil para uso próprio num sítio de um amigo, numa afronta ao QI alheio. O Lula de hoje deixa claro que gosta dos melhores vinhos e das melhores carnes, mas a elite são os outros. O Lula de hoje adota o mesmo discurso do Collor de 1992: tudo não passa de intriga da oposição. O detalhe é que as acusações partem do Ministério Público Federal, o mesmo que denunciou Eduardo Cunha e recebeu aplausos dos partidários do ex-presidente por isso. Agora é perseguição. Até isso ele divide com Collor, aliás na mesma Lava Jato: ambos tiveram suas casas reviradas por ordem judicial.
Antigamente, pelo menos os políticos faziam cara de inocência na TV num caso desse. Lula não. Ele quer o acirramento de ânimos. Entende que seus partidários podem encerrar a Lava Jato (que já dura quase 2 anos e está na 24.a fase) na marra, no grito, na força. Socos foram dados em um fotógrafo hoje. Quem fazia isso antigamente eram os militares; hoje são os militantes.
Arrisco dizer que ainda falta muito para o encerramento da Lava Jato. Certamente outros políticos, de outros partidos, inclusive da oposição, também terão o seu dia de cão, como alguns já tiveram. Como ficará o discurso petista depois disso?
Hoje ao ver o derrame de demagogia na entrevista coletiva de Lula (não houve qualquer pergunta; logo virou pronunciamento) eu me lembrei da ideia que eu tinha sobre o PT desde o primeiro voto aos 16 anos. Hoje vejo a realidade: o PT é um partido como tantos outros. O que importa é o poder; o discurso a gente adapta. Depois é só dizer que os outros entenderam errado. Ou são da elite. Ou da mídia golpista. Simples assim.
Política sem desfaçatez não há. Afinal, é assim que todo mundo faz.
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