domingo, 29 de novembro de 2015

Tite na Veja

Novo queridinho do futebol nacional, o técnico Tite está nas sempre ótimas páginas amarelas da revista Veja (edição 2.454, ano 48, n.° 48, 2 de dezembro de 2015, páginas 15-19). Destaco alguns trechos interessantes, mas desde já recomendo que o atento leitor corra até a banca e adquira o seu exemplar para ler a entrevista na íntegra, que relembra inclusive a fase do apelido "Empatite".

O técnico mostrou-se pés no chão e falou categoricamente contra o jogo sujo: "é preciso parar com essa história de vencer a qualquer custo, seja com uma entrada maldosa, seja com uma cusparada na cara." Vamos aos trechos.

Treinador vence jogo 
Participa, é peça fundamental. Mas também erra muito. Em um jogo contra o Coritiba eu chamei o Edílson (lateral do Corinthians) para passar uma instrução e tomamos um contra-ataque. Olhei para o banco e me desculpei: 'Fui eu, estou sabendo'.

O atual estágio do futebol brasileiro
"Mais do que com o 7 a 1, é preciso se preocupar com a identidade do futebol brasileiro. Qual é a forma de jogar que queremos adotar? Encontrada a fórmula, basta trabalhar. Hoje existem duas correntes: uma do passe curto, da triangulação e jogadores compactados no campo, a outra é a do contra-ataque e da marcação forte. A escolha de uma ou outra varia de clube para clube, conforme as características dos atletas. Mas é preciso buscar os bons exemplos, daí o meu intercâmbio na Europa, no ano passado."

O que foi decisivo para o título mundial de 2012
"O emblemático daquele torneio no Japão foi o dia depois do primeiro jogo do Chelsea, contra o Monterrey, do México, uma vitória por 3 a 1. Não foram só os jogadores, mas todo o estafe corintiano sentiu medo daqueles ingleses. Ficou um clima estranho no ar, e eu pensei: 'Agora é minha vez de agir'. Antes do treino, olhei fundo no olho de cada um, aumentei o tom de voz e comecei a falar: 'Lutei a minha vida toda para estar aqui! Apostei tudo! Não vou admitir que alguém venha me dizer que não dá para entrar nesses caras e ganhar o jogo. Ninguém veio aqui para se acovardar'. Foi instantânea a mudança de semblante. Disseram-me depois que foi ali, naquela conversa, que começamos a ganhar a final contra o Chelsea."

Os momentos ruins de 2015
"Houve dois momentos: um particular e outro em grupo. No início do ano, pelo que a equipe estava jogando, eu tinha a convicção de que seríamos campeões do Paulista. Mas tivemos um jogo duro contra o San Lorenzo na Libertadores e perdemos na sequência para o Palmeiras nos pênaltis. Em seguida, veio a eliminação para o Guarani do Paraguai. Além disso, tivemos a saída de jogadores fundamentais. Fiquei muito chateado, frustrado. Foi minha mulher quem percebeu meu estado mais quieto, amuado. Foi ela quem me botou para cima. (...) Dentro do grupo pesou mais a saída de alguns jogadores. Foi então que o presidente reuniu as lideranças da equipe, cinco ou seis atletas, comigo e com o Edu e disse: 'Olha, a partir deste momento ninguém sai mais. Confio em vocês'. Esses dois instantes foram decisivos."

O segredo do sucesso do Corinthians até com time reserva
"Não há segredo. É trabalho. É um conceito que eu trouxe das minhas observações no último ano, tanto na Copa do Mundo quanto na Europa: trabalhar a equipe toda, e não somente os onze que vão começar o jogo, em termos de posição e função a ser executada. Assim, muda-se a peça, mas a confiança é a mesma. Esse foi um dos grandes méritos da equipe. Ela não oscilava muito, manteve o padrão. E a razão para esse sucesso é uma só: treinamento, mas sempre respeitando a posição e a função que o atleta vai exercer no dia do jogo. Isso gera automatismo, memória neuromuscular. Quando você domina o básico, o criativo aparece mais facilmente. Não precisa pensar para fazer o básico. Quando surge a hora da tomada de decisão, abre-se espaço para a criatividade."

A comunicação com os jogadores
"A comunicação se dá por três vias: fala, visão e audição. Às vezes, não sei qual é o canal mais efetivo para influenciar um atleta. Posso levá-lo para dentro de campo para que execute a tarefa. Posso mostrar a ele alguns vídeos para demonstrar o que eu gostaria de ver dentro de campo. Ou simplesmente falo e passo as instruções. Com algum desses três mecanismos eu vou entrar no jogador, não há dúvida alguma."

Tite tem contrato de 3 anos com o Corinthians. É a velha história da continuidade produzindo resultados. Só lamentei que os repórteres Alexandre Salvador e Luiz Felipe Castro não tenham perguntado sobre as preleções de Tite. Será que ele usa computador e projetor?

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