É bom deixar claro que ninguém é dono da verdade, o que obviamente me inclui. Também gostaria de relembrar aqui os momentos em que fui contra algumas decisões relacionadas ao América e em que eu estava errada. Em 2009, não gostei da contratação de Francisco Diá, mas o América escapou do rebaixamento. Em 2013, não achei o fim do mundo a escolha de Alexandre Irineu para continuar o trabalho de Bob (não concordei com sua 1.a demissão, que fique claro!) e o América tomou logo no primeiro e único jogo dele uma goleada. Ainda em 2013, não achava que aquela seria a hora para Leandro Sena começar como treinador no América, mas ele tirou o time do rebaixamento. Isso só para ficar nos técnicos.
Dito isso, acho que fico mais à vontade para expor o que penso a respeito do rumo que o América tomou neste fim de ano.
Primeiro, fui e sou contra a demissão de Roberto Fernandes. Eu o acho um treinador bem acima da média, super identificado com o América e de uma ofensividade em falta no futebol brasileiro. Além disso, sem continuidade, trabalho algum dará frutos. Mas compreendo que as atuais condições financeiras do clube não permitam tal continuidade, embora ache que investimento em comissão técnica historicamente vencedora e identificada com o clube é economizar em muitas outras coisas. Acrescente-se que esse era o desejo da maioria do torcedores.
Segundo, foi dito por Jussier Santos e outros que o América já utilizou todo o dinheiro do primeiro semestre de 2016 ainda em 2015. Se é bom pelo aspecto de que o clube não deve, é péssimo sob a perspectiva de que já vai começar 2016 devendo se a torcida não lhe abraçar a cada jogo como se fosse uma final de campeonato. E aqui entra o maior problema da nova administração: trazer a torcida para o clube novamente. O torcedor anda arredio desde 2014 e será preciso muito jogo de cintura para reconquistá-lo. No entanto, até agora, Beto Santos só tem conseguido enervar a torcida americana, o que esconde até suas boas ações, como a chegada de Baíca, Carlos Mota e Gito para as bases americanas.
Se a situação financeira é (e parece que é mesmo) periclitante, não será afrontando o torcedor antes de assumir a presidência que Beto Santos resolverá esse tremendo abacaxi. Ferdinando Teixeira é tão insubstituível a ponto de colocar o América na desconfortável situação de esperar o ABC decidir seu rumo para que o seu próprio (do América) seja definido? Por sua vez, a bola fora do jogador português trouxe uma enorme carga negativa para quem já andava desconfiado.
Terceiro, Aluísio Guerreiro foi o que se pode chamar de gota d'água. Finanças complicadas e o presidente resolve fazer uma aposta num cara mais preocupado em revelar e negociar jogadores do que em acumular experiência como técnico. A realidade do campeonato estadual é cruel. Uma paulada de um time de menor tradição (e um mero 0x0 já é assim considerado) e tudo vira uma panela de pressão. Aluísio não conhece nem os estádios do RN. Eu pergunto: vale a pena começar o ano com alguém tão mal visto pela torcida? Se o torcedor tem que estar ao lado do clube, especialmente nas atuais condições, afrontá-lo desta forma é expor demais a administração e o próprio clube a críticas e tropeços que podem custar muito caro aos cofres americanos. Se o tal do DNA americano é tão definitivo assim, certamente Carlos Mota, Moura, Leandro Sena e até mesmo Paulinho Kobayashi preencheriam bem essa condição, além de contarem com bem mais apoio da torcida e terem salários presumidamente compatíveis com a realidade financeira neste momento. Wassil Mendes, por exemplo, é um bom treinador nas condições citadas, embora não tenha o tal do DNA americano.
Quarto, ainda pensando nas finanças, me preocupa muito que o presidente tenha o pensamento de que Aluísio Guerreiro possa ser demitido ainda no estadual caso acumule derrotas. Se o caixa anda ruim, é preciso se agarrar com um treinador e ir com ele até o fim. Dispensas e contratações feitas a cada troca de comando custam caro e podem jogar todo o planejamento no lixo logo no primeiro mês do ano. Ou se confia no trabalho do treinador, ou não vale nem a pena contratá-lo. Mal comparando, é melhor investir R$ 40 num produto duradouro do que R$ 20 num descartável.
Por fim, não gosto de teoria da conspiração. Soltar indiretas a respeito de "verdadeiros americanos" para responder aos que demonstram insatisfação e pintar a imprensa como inimiga porque questiona as decisões que os próprios torcedores estão questionando é de um maniqueísmo inaceitável nos dias atuais. Isso termina por afrontar ainda mais os torcedores e atrapalhar uma maior empatia com a administração. É certo que a imprensa esportiva não goza de bom conceito por aqui por vários motivos. Também é aceitável imaginar que há interesses frustados com a mudança de comando no América. Mas os questionamentos neste caso partem de muitos torcedores, sem ligações com imprensa ou possíveis interessados/frustrados por negociatas no clube, e portanto deveriam merecer uma maior atenção do presidente para que sejam devidamente levados em consideração, esclarecidos e tranquilizados. É preciso perceber que as críticas são oriundas majoritariamente da vontade de ver o América bem-sucedido; jamais contra a administração de Beto Santos ou qualquer outro em semelhante situação.
Quanto a fogo amigo, isso é mais velho no América do que eu. Todos os presidentes enfrentaram essa mazela, pelo menos nos últimos 30 anos. Logo, não é "privilégio" de Beto. Só não dá para creditar apenas ao fogo amigo a insatisfação com o perigoso caminho que o América vem trilhando desde o fim da Série C. A preocupação é verdadeira e profundamente angustiante para quem está do lado de cá, na arquibancada.
Claro que Beto Santos pode estar coberto de razão. Mas o que é melhor: ter razão ou ser feliz, como tanto lemos nesses aforismos que rolam nas redes sociais? No caso, ser feliz significa ter a torcida ao seu lado e, principalmente, trazendo seu suado dinheirinho para os cofres americanos.
Ciente de que o presidente aclamado manterá suas convicções, eu escolho ser feliz. Ficarei radiante em escrever pedindo perdão por não acreditar no sucesso de Aluísio Guerreiro, Ferdinando, Di Martin e que tais. Ter razão significará enorme frustração o ano inteiro. Nem eu, nem Beto Santos, nem qualquer torcedor merecem isso. Nem o América merece.
Por enquanto, fica a angústia.
Claro que Beto Santos pode estar coberto de razão. Mas o que é melhor: ter razão ou ser feliz, como tanto lemos nesses aforismos que rolam nas redes sociais? No caso, ser feliz significa ter a torcida ao seu lado e, principalmente, trazendo seu suado dinheirinho para os cofres americanos.
Ciente de que o presidente aclamado manterá suas convicções, eu escolho ser feliz. Ficarei radiante em escrever pedindo perdão por não acreditar no sucesso de Aluísio Guerreiro, Ferdinando, Di Martin e que tais. Ter razão significará enorme frustração o ano inteiro. Nem eu, nem Beto Santos, nem qualquer torcedor merecem isso. Nem o América merece.
Por enquanto, fica a angústia.
Belo comentário para os fatos que ocorreram pós campeonato e início de nova administração. Concordo em gênero grau e número.... PARABÉNS!!!
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